No início de fevereiro, um relatório divulgado pela Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) revelou que as condições na praia de Maresias (altura da Praça do Surf) estavam impróprias para o banho. No entanto, o mesmo relatório deu bandeira verde para a Travessa Quinze, localizada no antigo Bar do Meio, um pouco mais ao centro da praia.
De lá para cá mais uma medição foi realizada e a situação continua a mesma. Mas, insatisfeitas com o método utilizado pela Cetesb, a Somar (Sociedade dos Amigos de Maresias) e a Associação de Amigos do Canto do Moreira (AACM) resolveram entrar com uma ação no Ministério Público pedindo o monitoramento das pontas da praia.
De acordo com as associações, a situação em Maresias é mais grave do que a divulgada pela Cetesb. Um estudo encomendado pela AACM revelou que a quantidade de coliformes fecais encontrada na água é bem maior nos cantos da praia, especialmente no Canto do Moreira, que fica ao sul de Maresias.
“Maresias não tem rios no meio da praia, só nas pontas. Então, essa medição que a Cetesb faz no meio, no nosso entendimento, é estratégica, para não mostrar de fato o que realmente acontece”, afirma o engenheiro ambiental André Motta, que faz parte da AACM. “A bandeira de Maresias é constantemente vermelha nas pontas, porque ali não tem saneamento”, complementa Motta.
Há algum tempo, a AACM contrata profissionais para fazer o monitoramento da água e do rio para saber de onde vem o esgoto clandestino. De acordo com o engenheiro, o caso de Maresias é emblemático.
“No Canto do Moreira não tem favela, não tem casa de pobre. Então, ali é um exemplo de que o rico e a classe média também poluem. Não é fácil, tem gente que comprou casa lá e nem sabe. Tem condomínio, por exemplo, que tem fossa e que a fossa não funciona”, revela.
Ainda segundo Motta, medidas já estão sendo tomadas no Ministério Público e a solução para recuperar a área seria resolver a estrutura fundiária no local, ou seja, tirar as pessoas que moram em áreas de risco e investir em novas moradias e infraestrutura.
“O que a gente entende, pelo menos no Canto do Moreira, é que ali é possível as pessoas se adequarem porque elas têm condições. Já a forma para recuperar Maresias, o litoral norte paulista e, quem sabe, até o País todo, é resolver a regularização fundiária. Você tira as pessoas que moram em situações de risco e faz o saneamento. Porque a prefeitura não pode fazer melhorias em áreas que são invadidas. Tira as pessoas que moram nestas condições precárias, dando toda infraestrutura, incluindo o saneamento, que é básico, e aí, sim, você parte pra outras medidas”, diz.
Em reportagem publicada pela Folha de S.Paulo no último mês de dezembro, a Cetesb afirmou que segue critérios técnicos para a definição de pontos de amostragem e que desde março de 2017 a Travessa Quinze passou a fazer parte do programa de balneabilidade.
“Infelizmente saneamento não é algo que interessa aos nossos governantes, principalmente ao Estado. A Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) alega que não tem dinheiro. Eles tinham uma estação de tratamento de esgoto pronta e licenciada, mas aí veio o problema da crise hídrica há alguns anos e assim ficamos”, finaliza Motta.
Colaborou Gustavo de Souza Leite