Com mais de dois metros de comprimento, Peixe Mero gigante, que é conhecido como Senhor das Pedras, pesa entre 250 kg e 400 kg, vive a 100 metros de profundidade em zonas costeiras e manguezais do Brasil, corre risco de ser extinto.
Mas não se engane pelo tamanho: ele é dócil e até permite que se faça “carinho” nele – tanta bondade, no entanto, virou um problema tão grande quanto ele.
Conhecido popularmente como Mero, o peixe tem como prato preferido a lagosta, mas vive o drama de não possuir predador natural. Seu único risco é a pesca, sendo o ser humano o maior perigo.
A espécie é muito visada pelo tamanho, a qualidade da carne, valor comercial e a facilidade de captura. Por seu temperamento dócil e por não temer a presença humana, ele se torna um alvo fácil, principalmente para pescadores da modalidade subaquática. Esse comportamento, entre outros fatores, o levou ao risco de extinção.
Foi pensando nisso que em 2002 um grupo de cientistas criou o Projeto Meros do Brasil, com o objetivo de pesquisar e ajudar a conservar a espécie. Tudo em parceria com o poder público, levando em consideração o perigo que os meros correm e em consenso com as demandas da sociedade. A organização está em 9 estados, como Pará, Bahia, São Paulo e Santa Catarina. Ao todo, são 37 municípios que fazem parte dos projetos de pesquisa, educação e comunicação. Uma verdadeira força tarefa para evitar que o Mero suma do mapa.
A organização está em 9 estados, como Pará, Bahia, São Paulo e Santa Catarina. Ao todo, são 37 municípios que fazem parte dos projetos de pesquisa, educação e comunicação. Uma verdadeira força tarefa para evitar que o Mero suma do mapa.
Nos Estados Unidos, por exemplo, as populações de mero foram reduzidas a quase 20% em 1990. Considerando toda a área de distribuição da espécie no Brasil, do Amapá à Santa Catarina, a redução das suas populações foi superior a 80%. O que significa que há décadas morrem muito mais meros do que nascem, e por isso esses peixes estão categorizados como “Criticamente Ameaçados”.
Por isso, eles são peixes que têm a pesca proibida integralmente no Brasil desde 2002. A captura, o beneficiamento, o transporte e/ou a comercialização do mero são crimes ambientais, e infratores estão sujeitos à detenção, multa, ou ambas as penas cumulativas. A captura somente é permitida para fins de pesquisa científica, porém esta deverá ser devidamente autorizada pelo órgão ambiental competente.
“Uma das principais contribuições do projeto é o fomento das políticas públicas. Tanto que, em 2002, o Mero foi a primeira espécie de peixe marinha do Brasil que teve uma proibição [da pesca]. A gente tem muitas espécies marinhas que ainda tem [período de] defeso”, diz Maíra Borbunha, coordenadora do Projeto Meros, se referindo ao momento do ano em que pescar certos peixes é proibido.
No caso do Mero, há 20 anos a proibição é integral aqui no país. Sem brechas. A captura, o beneficiamento, o transporte ou a comercialização dessa espécie são crimes ambientais, e infratores estão sujeitos à detenção, multa, ou ambas as penas cumulativas. “O meros é um marco na conversação marinha brasileira de peixes”, define Maíra.
Com ajuda de mergulhadores voluntários, a organização monitora a circulação desses peixes. Segundo informações da organização, em 2021, foram 274 meros encontrados ao longo da costa brasileira. Desse total, cerca 22 meros adultos são monitorados através da telemetria acústica nos estados do Paraná e Santa Catarina. O monitoramento é feito a partir de um transmissor inserido na cavidade abdominal do peixe, que irá emitir os sinais acústicos que serão captados pelos receptores na rede de telemetria da instituição.
Desse total, cerca 22 meros adultos são monitorados através da telemetria acústica nos estados do Paraná e Santa Catarina. O monitoramento é feito a partir de um transmissor inserido na cavidade abdominal do peixe, que irá emitir os sinais acústicos que serão captados pelos receptores na rede de telemetria da instituição.
Com isso, cada vez que um mero marcado se aproxima de um receptor, o dispositivo registra a sua presença e isso ajuda o projeto a entender os padrões de movimentação dos meros, e também o uso e a ocupação da espécie em áreas de agregação.
E não para por aí: Ainda segundo a instituição, no Espírito Santo, cerca de 166 meros juvenis, com tamanhos variando de 5,6 a 46,2 centímetros de comprimento total, estão sendo monitorados com um micro chip, como aqueles utilizados para identificar cães e gatos.
Neste estudo, os meros recapturados tem sua leitura realizada manualmente pela equipe de pesquisa que pode acompanhar seu crescimento, deslocamento e questões de genética.
Outros 86 meros estão sendo monitorados por meio da foto-identificação. O peixe pode ser reconhecido por meio de imagens, devido às características próprias da espécie como pintas negras localizadas na cabeça, manchas claras/escuras distribuídas ao longo das laterais do seu corpo e até mesmo cicatrize.
Esses atributos funcionam como uma identidade particular, única, de cada animal. Assim, fotografias que mostram perfil (cabeça e corpo) e cicatrizes dos meros vêm sendo utilizadas de forma pioneira no Brasil, para identificar e monitorá-los ao longo do tempo, em trabalhos conhecidos como “marcação-recaptura/reavistagens”.
Caso você encontre um mero, a organização afirma que essa informação é muito importante e deve ser compartilhada com a instituição via WhatsApp ou telefone. As informações ajudam a avançar nos trabalhos de conservação da espécie.
“Ao contrário de outras espécies que a gente consegue estimular a população a cuidar, por exemplo, as tartarugas, que desovam na praia, que se acompanha o desenvolvimento dos ovos? Com o meros é muito difícil, é uma espécie de peixes que está associada ao fundo do mar”, explica Maíra.
Fonte UOL