O ferimento na perna do menino Carlos Alexandre Oliveira Marques, de 11 anos, na última segunda-feira (15) no mar de Ilha Comprida, no litoral de São Paulo, não foi provocado por um ataque de tubarão. A análise é do biólogo e especialista em tubarões Otto Bismarck Fazzano Gadig, professor doutor da Unesp (Universidade Estadual Paulista), e a prefeitura local também voltou atrás na informação. Agora, acredita-se que o machucado foi causado por uma raia.
O menino, que mora no interior de São Paulo, estava passando o feriado com a família na cidade e brincava com um primo e o irmão mais velho quando sentiu algo bater em sua perna. Ele conta que sentiu uma “dorzinha” e, ao olhar para a água, viu um animal marinho azul, que ele identificou como um tubarão.
Vídeos publicados nas redes sociais mostram, na área rasa do mar, animais em movimento, com protuberâncias escuras surgindo na água. Apesar de poder aparentar que sejam barbatanas dorsais de tubarão, o especialista explica que, pela forma com que se movimentam e, principalmente, pela simetria que apresentam, a possibilidade de configurar um cardume de raias-manteiga, ou raias-ticonha como também são conhecidas, é bem maior.
Gadig conversou com testemunhas, observou imagens do ferimento e também analisou – quadro a quadro – os vídeos postados pelos internautas nas redes. Ele chegou a consultar outros colegas para colher suas opiniões. Todos foram unânimes em dizer que o ferimento não configura uma mordida de tubarão e que as “barbatanas” vistas na parte rasa do mar podem não passar de pontas das nadadeiras laterais das raias.
“Pela simetria com que surgem, demonstram de fato serem raias nadando por ali”, explica o biólogo, que é membro do Arquivo Internacional de Ataques de Tubarões – órgão ligado à Universidade da Flórida (EUA). Nessa época do ano, elas costumam procurar as zonas costeiras, durante suas migrações reprodutivas.
Mas o aspecto mais importante analisado por ele se trata do ferimento em si. Um corte, longitudinal, de aproximadamente 4, 5 centímetros. Sem amostra de serrilhamento, que é uma característica da mordida de tubarões, por conta de seus dentes serrilhados.
“Trata-se de uma lesão cortante superficial”, afirma o professor. “Se o ferimento tivesse sido provocado por um tubarão, a lesão seria muito mais extensa que 4, 5 centímetros. Claro que não podemos dizer que não existem tubarões no mar, ou até mesmo naquela região do litoral de São Paulo. Afinal, o oceano é o lar deles. Mas posso dizer, com certeza que o ferimento na perna do menino não foi provocado por uma mordida de um deles”.
Gadig explica que é preciso um estudo detalhado do caso para descobrir com certeza o que pode ter provocado o ferimento. Ele afirma que a criança até pode ter esbarrado em um tubarão ou outro animal marinho, mas isso não quer dizer que tenha sido atacado por ele.
“A lesão não é compatível com a mordedura de um tubarão. As versões do relato do menino são diferentes em três situações. E as imagens que mostram os supostos cardumes também não são definitivas para a garantia de que se tratavam mesmo desses animais”. diz ele.
O sargento Nunes, do Corpo de Bombeiros, que atendeu a ocorrência, afirmou estar surpreso com a presença de um cardume de “cações”, como ele chamou, numa área tão rasa do mar, na zona de arrebentação das ondas. Geralmente, os tubarões se deslocam em áreas mais profundas do mar. Esses animais não têm os corpos “achatados” como os das raias, que podem mover-se em partes mais rasas sem problemas.
“Mesmo que tivesse sido um cardume de tubarões, não existem testemunhas que viram os animais perto do menino. Só temos o relato dele. Seria leviano afirmar que ele foi atacado por um deles, sem provas mais robustas. Se fosse analisar pelo ferimento, posso garantir, eu já teria descartado de cara essa possibilidade”, afirmou Gadig.
Fonte UOL