Vários indicadores climáticos voltaram a atingir valores recorde em 2020, segundo um relatório divulgado na última quarta-feira (25), que analisa a concentração atmosférica de gases com efeito de estufa, a subida do nível do mar e das temperaturas.
As conclusões fazem parte do relatório publicado no boletim da Sociedade Meteorológica Americana, que faz a revisão anual da situação climática no mundo a partir da contribuição de cerca de 530 cientistas, em mais de 60 países.
Segundo os dados divulgados, o agravamento das alterações climáticas voltou a ser notado em 2020, com vários indicadores a atingirem recordes.
O nível de gases de estufa da Terra foi o mais elevado já registrado. A concentração atmosférica média anual de dióxido de carbono (CO2), por exemplo, ficou em 412,5 partes por milhão (ppm).
Este número, registrado num ano em que a pandemia de Covid-19 atingiu uma escala global e desacelerou a atividade económica em todo o mundo, representa um aumento de 2,5 partes por milhão em relação a 2019 e um recorde, tanto nos registros modernos dos últimos 62 anos, como nos registros em núcleos de gelo, que permitem recuar a 800 mil anos
O mesmo aconteceu com o metano, cuja concentração atmosférica registou, em 2020, um aumento de 14,8 partes por mil milhões em relação ao ano anterior, a maior subida desde o início das medições.
Também o nível do mar continuou a subir, fixando-se pelo nono ano consecutivo um novo recorde.
Comparativamente a 1993, quando começaram a ser registradas estas medidas por satélite, a média nesse ano foi agora superada em 9,13 centímetros e a cada década o nível global do mar sobe cerca de três centímetros, consequência do degelo e do aquecimento dos oceanos.
Seguindo a mesma tendência de agravamento, as temperaturas das superfícies terrestre e marítima voltaram a aumentar.
Os últimos sete anos, desde 2014, foram os mais quentes desde que há registo e 2020 ocupa um lugar no top três, superado apenas por anos em que se registraram fenómenos El Niño.
No ano passado, as temperaturas anuais da superfície da Terra estiveram entre 0,54 °C e 0,62 °C acima da média de 1981-2010 (a variação depende da base de dados utilizada), e o aquecimento acontece a um ritmo médio de 0,08 °C por década.
Particularmente nos polos Norte e Sul, foi sentido um calor extremo sem precedentes. A temperatura média do ar nas áreas terrestres do Ártico foi a mais elevada em 121 anos de registos, 2,1 °C acima da média de 1981–2010, e na Antártica as temperaturas ultrapassaram os 18 °C.
Em 6 de fevereiro, a estação de investigação argentina da Base Esperanza atingiu os 18,3 °C, a temperatura mais alta alguma vez registrada naquele continente, superando o recorde anterior de 17,2 °C, estabelecido em 2015.
Segundo o relatório, que detalha a situação em diferentes zonas do planeta, o inverno de 2020 foi o segundo mais quente da Península Ibérica, com temperaturas particularmente mais elevadas do que habitual em fevereiro. No outro extremo, o mês de julho foi o mais quente de sempre nesse ano em Portugal.
Nos oceanos também fez mais calor, com a temperatura média global da superfície do mar próxima do recorde, fixando-se na terceira mais alta já registrada (só em 2016 e 2019 se registraram números mais elevados, associados a El Niños).
Por outro lado, a atividade dos ciclones também esteve acima da média e no ano passado foram nomeadas 102 tempestades tropicais durante a época de tempestades dos hemisférios Norte e Sul, um número significativamente mais alto em comparação com a média de 85 entre 1981 e 2010.
Dessas 102 tempestades, três ciclones tropicais atingiram a intensidade de categoria cinco na escala Saffir-Simpson e entre 30 registradas na bacia de furacões do Atlântico Norte (também um número recorde), sete tornaram-se grandes furacões de categoria três ou superior.
No Oeste do Pacífico Norte, o Super Typhoon Goni foi o ciclone tropical mais forte a atingir a costa no registro histórico, tendo obrigado à retirada de quase um milhão de pessoas nas Filipinas. O ciclone Gati, uma tempestade ciclónica muito severa que se formou no mar da Arábia, foi o primeiro de tal intensidade a atingir a Somália.