Os responsáveis pelo vazamento de petróleo cru que dura mais de um mês no Nordeste brasileiro ainda não foram identificados. Enquanto isso, praias e a vida marinha de todos os nove estados da região, ao longo de mais de 2.000 quilômetros, vêm sendo diariamente contaminadas.
De acordo com instituições que trabalham com a proteção animal, já são 23 tartarugas mortas com corpos oleados (com vestígio de petróleo cru) na região. Os animais, após necropsia, apresentaram manchas de óleo no intestino e na parte externa do corpo, com sinais de intoxicação.
O estado com maior número de óbitos de tartaruga é o Alagoas. Lá foram localizados oito animais com manchas de óleo pelo corpo. Um dos mais comoventes resgates foi de uma tartaruga achada na última quarta-feira (16) na praia de São Bento, Maragogi (AL). O animal estava vivo com a cabeça completamente coberta de óleo, obstruindo narina, olhos e boca.
Também na última quarta-feira, o Projeto Tamar divulgou que no litoral da Bahia foram encontradas cinco tartarugas mortas, entre filhotes e animais adultos, com petróleo cru pelo corpo. Em nota, o Tamar alertou que as manchas de óleo também causam uma barreira física para o deslocamento das tartarugas marinhas, principalmente dos filhotes, o que pode levar a mais óbitos.
No último domingo (13), um golfinho com manchas de óleo já havia sido achado no município de Feliz Deserto, litoral sul de Alagoas. Foi o primeiro mamífero a surgir morto desde a aparição das manchas de óleo.
Além dos animais marinhos, corais e manguezais também vêm agonizando com o vazamento de óleo, considerado o maior desastre ambiental da história do litoral brasileiro. Nesta semana, as manchas chegaram a locais como a Baía de Todos os Santos, cartão-postal de Salvador, e a paradisíaca Praia dos Carneiros, em Tamandaré (PE).
Segundo especialistas, é o pior desastre da história também para os corais brasileiros, porque o óleo atingiu os recifes num momento em que se recuperavam de um branqueamento (processo que leva à morte) sem precedentes, causado pela elevação da temperatura do mar. Importantes para o turismo, os recifes de corais são fundamentais para a atividade pesqueira, pois numerosas espécies de peixes, crustáceos e moluscos precisam deles para se reproduzir.
“Nunca houve um ano tão terrível para os corais do Brasil quanto este. Tivemos um branqueamento recorde de corais em maio e junho, com mortalidade de até 90%, no caso de uma espécie importante. Agora, o óleo atinge os corais nordestinos num momento em que eles começavam a se recuperar”, destaca Gustavo Duarte, pesquisador do AquaRio e do Laboratório de Ecologia Microbiana e Molecular (LEMM) da UFRJ, onde são desenvolvidos estudos de vanguarda sobre corais, em depoimento ao G1.
Áreas extremamente sensíveis, os manguezais nordestinos também estão na rota de colisão do óleo. Na última segunda-feira (14), cerca de 800 quilos de óleo foram retirados de um manguezal em Itacimirim, no litoral norte da Bahia.
As manchas de óleo que tomam o litoral sergipano desde setembro também chegaram na última quinta-feira (17) a uma área de manguezal no Povoado Crastro, em Santa Luzia do Itanhy, a 76 quilômetros de Aracaju.
De acordo com a última atualização do Ibama, foram atingidas 178 localidades dos nove estados nordestinos. O Governo e a Polícia Federal, além do Ibama e a Marinha, ainda trabalham para descobrir os responsáveis pelo derramamento.
Fontes Folha de S. Paulo, G1 e UOL