Cientistas apontam para o regresso do fenómeno El Niño em 2023, o que levará a “ondas de calor sem precedentes”, explica o site do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).
O fenómeno El Niño consiste no “aquecimento anômalo das águas superficiais do setor centro-leste do Oceano Pacífico, predominantemente na sua faixa equatorial”, ou seja, trata-se de um “fenômeno oceano-atmosférico que afeta o clima regional e global, e que afeta a circulação geral da atmosfera”, sendo “responsável por anos considerados secos ou muito secos”.
Caracteriza-se também “por variações na atmosfera sobre a região de águas aquecidas” e “ocorre em intervalos médios de quatro anos e persiste de 6 a 15 meses”.
Os cientistas acreditam que é “muito provável” que o planeta ultrapasse os 1.5°C de aquecimento. O ano mais quente de que se tem registro foi 2016, e foi causado por este fenômeno. 2022 terá sido o quinto ou sexto ano mais quente de que se tem registro, e prevê-se que 2023 seja ainda mais quente. Contudo, os efeitos do El Niño demoram meses a se fazer sentir, portanto se espera que apenas em 2024 sejam quebrados recordes de temperatura.
Regiões no Pacífico Ocidental, como a Austrália e a Indonésia, “tem condições mais quentes e mais secas” durante o El Niño. A Austrália, por exemplo, corre o risco de sofrer ondas de calor severas, secas, e incêndios.
Na Índia e no sul da África, pode haver escassez de chuva, enquanto no leste da África e no Sul dos EUA, pode haver mais chuva e mais cheias. A Amazônia, na América do Sul, pode ficar ainda mais seca, sendo que “já está perto de alcançar o seu limite”.
Os efeitos do El Niño são exacerbados pelas alterações climáticas, que se fazem sentir cada vez mais. É de notar que no ano passado a elevada temperatura dos oceanos já tinha quebrado o recorde por ser a mais quente desde que há registro. A temperatura dos oceanos tem enorme influência nas alterações climáticas e nas condições atmosféricas: quanto mais quente o mar, mais tempestades, mais umidade no ar, o que leva a mais chuvas e a mais cheias.
O aumento da temperatura dos oceanos é, em grande parte, obra humana, visto que o oceano absorve até 90% da temperatura que advém da emissão de gases com efeito de estufa, algo pelo qual os humanos são amplamente responsáveis.
Apesar de só haver registros consistentes da temperatura do mar há cerca de 80 anos, é provável que os oceanos estejam mais quentes agora do que alguma vez estiveram em mil anos.
Um estudo publicado este mês em Advances in Atmospheric Sciences concluiu também que a camada de água mais quente na superfície do oceano está ficando mais profunda, o que pode levar “à formação maior e mais rápida de furacões”.
Fonte Instituto Português do Mar e da Atmosfera