Monitoramento feito por Associação de Surfistas, Amigos e Ecologistas da Praia do Porto (ASAEP), acontece em córrego usado como saída de esgoto da cidade, que há décadas desemboca na praia do Porto, em Imbituba (SC), onde foi montado uma barreira ecológica com intuito de, além de controlar e monitorar, evitar que sujeiras pesadas cheguem até a praia. No último monitoramento até cartelas de remédios descartados foram encontrados.
Em mais um dia sem solução para um antigo e grave problema de saneamento básico e, principalmente, sanitário na cidade que é a ‘Capital Nacional da Baleia Franca’, além de ser uma das principais surf cities do país, chegando a receber durante 8 anos a principal etapa da Elite Mundial de Surf da World Surf League (WSL), comunidade e entidades se juntam para tentar amenizar este sério problema.
A praia do Porto, em Imbituba, vem há décadas sofrendo com o grave problema de poluição, vide monitoramento frequente do principal órgão estadual, o Instituto de Meio Ambiente (IMA), que com frequência divulga como impróprios alguns pontos da praia. Um longo e mal cheiroso córrego corta o caminho entre a cidade e o mar.
Descaso antigo, plano de saneamento atrasado e a comunidade dá exemplo
Segundo estudos relatados pelo Ecosurf de Santa Catarina e Associação de Surfistas, Amigos e Ecologistas da Praia do Porto (ASAEP), “este esgoto é oriundo da região central da cidade, ligados de vários bairros, inclusive do centro de Imbituba e a conhecida ‘calha’ que desce do bairro Divinéia”. Várias entidades há muitos anos vêm denunciando este problema como principal foco de poluição da praia do Porto.
A iniciativa da barreira ecológica partiu dos surfistas e moradores que fazem parte da Asaep no ano de 2019, como publicado pelo Surfemais, depois de se inspirar em outros projetos de contenção de resíduos em corpos d’água. Como é um trabalho comunitário e voluntário, nem sempre conseguem manter um fluxo de pessoas para ajudar. Então, em outubro de 2023, iniciaram a terceira tentativa de mantê-lo funcionando, com manutenção e recolhimento de resíduos.
Ecosurf de Santa Catarina e Asaep se juntam em uma solução paliativa, mas eficaz
A Ecosurf começou a missão do empoderamento de surfistas nas causas públicas ambientais há mais de 25 anos, e desde 2014 desenvolvem ações em Imbituba, e no litoral de Santa Catarina, para tentar recuperar esses ambientes e identificar quais são os tipos de resíduos que estão sendo depositados nas praias, seja por atividade local, condições climáticas, correntes marinhas e outros.
Em Imbituba, o Ecosurf conta com o apoio de entidades que compõem a Rede Mares Limpos Imbituba, que principalmente na campanha do Dia Mundial da Limpeza de Rios e Praias, eles ajudam a mobilizar as ações de limpeza e pesquisa durante o ano. No vídeo lançado nesta semana, Amanda Suíta, coordenadora do Instituto Ecosurf em Santa Catarina, e José Fernando Silvano, da ASAEP, mostram a quantidade de lixo que a barreira ecológica conseguiu evitar que fosse parar no mar.
“Merdeiro”, carro chefe do descaso municipal e atraso no saneamento básico da cidade
Entre o mal cheiro do local, conhecido popularmente como “merdeiro”, além de vasilhas e garrafas plásticas, marmitas e outros itens presos na eco barreira, algo mais chamou a atenção dos dois. Diversas cartelas de remédios fechadas, ainda dentro da validade, que foram por algum motivo, jogadas no esgoto e foram parar ali.
A cidade de Imbituba vem nos últimos anos, tendo problemas para elaborar e implementar seu plano de saneamento básico, atormentado pelo crescimento expressivo que a cidade vem recebendo nos últimos anos. Para muitos, este antigo agudo problema não deixa dúvidas em relação ao descaso que a cidade tem tido, e não se preocupado em resolver.
“Além do lixo, água extremamente escura e necessidade de estudo mais aprimorado”, alerta Amanda, coordenadora do Instituto Ecosurf em Santa Catarina.
Segundo Amanda, “A ASAEP vem fazendo um trabalho antigo e nobre ao tentar proteger a praia do Porto. A Ecosurf está em Imbituba desde 2014 com ações de limpeza de praia, e a praia de Imbituba, popularmente conhecida como praia do Porto. era um problema preocupante e antigo. Em 2019, quando vimos projetos de eco barreiras no Paraná, resolvemos colocar em prática aqui também, junto com a ASAEP, colocando uma barreira fixa que, superficialmente, retinha os resíduos flutuantes, mas que não impedia a fauna de circular“.
Ver essa foto no Instagram
Essas barreiras, inicialmente, não aguentavam muito tempo. Depois veio a pandemia e o projeto acabou ficando parado. “Em 2023, através da Associação de Pescadores da Praia do Porto (AMPAP), conseguimos a doação de redes para reativar a barreira ecológica. Desde então, junto com a ASAEP, tentamos manter um certo monitoramento. A gente faz a limpeza, registra e fotografa tudo que encontramos ali“, continua Amanda.
“Além do lixo, a cor da água e o cheiro forte tem chamado muito a atenção. Por vários dias a água estava extremamente preta depois das chuvas. Não podemos afirmar que sejam resíduos de produtos que o porto trabalha, como o coque, por exemplo. Então, seria importante uma análise melhor da água feita por alguma universidade, ou órgão público, porque o que estamos fazendo é tentando impedir que os resíduos cheguem ao oceano, é uma forma que a comunidade local encontrou, mas é um paliativo!”, finaliza a coordenadora do Ecosurf SC.
José Fernando Silvano, presidente da ASAEP, revela: “É assustador que não tenha nenhum plano pra resolver alguns problemas na cidade”.
José Fernando junto com o surfista local da praia do Porto, Kiko Rodrigues, vice presidente da associação, lembram que o trabalho da entidade sempre foi a luta pela preservação da praia do Porto, através de mobilizações com foco ambiental e de conservação. “Quando implantamos a barreira ecológica fizemos uma experiência em diferentes bairros da cidade, colocamos nos bueiros garrafas de água sinalizadas, e na sequência, dias depois, encontramos várias destas mesmas garrafas na eco barreira“, destaca José.
A barreira ecológica também é uma forma de protesto, segundo o presidente: “Assim conseguimos revelar o tamanho do impacto que a nossa sociedade tem gerado na questão do lixo que chega até o mar, mas o problema maior é a omissão do poder público em relação ao saneamento básico da nossa cidade. A barreira ecológica vem com esse objetivo de minimizar esse impacto, mas também é uma forma de protesto que conseguimos revelar o que está sendo gerado, e que isso é real“, ressalta.
“A ASAEP foi regularizada por nós depois de anos de inatividade e hoje somos membro dos Conselhos Municipal de Saneamento Básico (CONSAB) e de Meio Ambiente (CONDEMA), e sabemos que que por conta do município, a coisa tá bem enrolada e não vemos uma solução a médio e curto prazo para resolver isto, e nem um plano de urgência para resolvermos alguns outros problemas emergenciais em nossa cidade. E, saber disso é assustador“, completa José Fernando.