São Paulo e Rio

Água muito gelada? Entenda

Combinação de fatores faz com que água do Sudeste brasileiro fique muito mais gelada do que o normal para o outono e primavera.

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Ficou difícil surfar sem roupas de neoprene no Rio de Janeiro.

Nas últimas semanas, em vários picos do litoral de São Paulo e do Rio de Janeiro, não se falava de outra coisa nas rodas de conversas além da água extremamente gelada em vários picos de ambos estados. Em São Paulo, durante uma semana a água esteve muito mais gelada que o normal. Já no Rio de Janeiro, onde a água normalmente fica mais fria em algumas ocasiões do ano, a água do mar ficou gélida por um período muito longo.

“Eu não me lembro de já ter visto a água do Rio por tanto tempo gelada deste jeito. Normalmente fica uns 4 ou 5 dias e depois esquenta. Mesmo quando entrou swell de Sul, que normalmente esquenta um pouco a água, dessa vez não esquentou”, conta Stephan Figueiredo.

“Eu estava no campeonato de Longboard lá em Saquarema (RJ), onde a água estava extremamente gelada. E meus amigos aqui do Litoral Norte de São Paulo, disseram que a água estava realmente muito absurda, com dias bem doloridos”, conta o longboarder Jefson Silva.

Pode até ser que agora, no momento que divulgamos essa matéria, ela já tenha esquentado. O fato é que levou algum tempo para que especialistas pudessem chegar a alguma conclusão sobre o que rolou pela costa no outono.

O que normalmente faz com que a água da costa fique assim, é o fenômeno da ressurgência. Como o próprio nome diz, trata-se do ressurgimento de uma camada de água extremamente fria na superfície do oceano, após um longo período de permanência no fundo do mar. A ressurgência é muito mais comum no verão, e tem uma ordem de duração de uma ou duas semanas.

“Há tempos é estudado o fenômeno da ressurgência em Cabo Frio (RJ), e realmente, é possível que eventos localizados de ressurgência costeira não fiquem bem representados em outros locais do litoral, onde o fenômeno pode ocorrer, porém com menos frequência”, explica o oceanógrafo Christiano Roma.

Segundo meteorologistas, o inverno de 2021 não foi rigoroso (frio intenso e constante), mas com os episódios de frio extremo pontuais, observados com certa frequência. “Ao analisar o deslocamento das frentes frias para o período 2020/2021, vemos uma maior entrada de águas geladas vindas do Continente Antártico na costa brasileira, provenientes das frentes frias mais intensas, o que significou águas mais geladas encostando no litoral Sul-Sudeste do país, chegando a esfriar – moderadamente – até o Norte do Espírito Santo e Sul da Bahia”, diz Christiano.

Além disso,  do meio de 2020 até novembro de 2021, estávamos sob a influência da La Niña, o que também pode influenciar nas questões relativas à temperatura da água do Litoral Sudeste. “A água superficial, que já se encontrava fria devido às frentes frias dos meses de inverno e com a possibilidade de influência do La Niña, encontrou em outubro e novembro um período de vento no quadrante N/NE/E na região”, explica em detalhes Christiano.

“Com o transporte de Ekman (movimento líquido do fluído como resultado de um equilíbrio entre forças) atuando e fazendo com que águas superficiais se desloquem à esquerda no Hemisfério Sul (ao Centro do Oceano Atlântico Sul) e a água do fundo ressurja, afirma-se assim, a ocorrência do fenômeno da ressurgência costeira pelo litoral do estado de São Paulo”, completa.

Ou seja, é provável que tenha sido uma combinação de todos esses fatores que proporcionaram dias de água trincando. Mas agora com a proximidade do verão, fique tranquilo. A tendência é esquentar!