“O surf é muito mais do que deslizar sobre as ondas”, comentou o australiano Andrew Short, surfista e criador das Reservas Nacionais de Surf na Austrália. Essa frase marcou a abertura do primeiro Seminário Brasileiro sobre Reservas de Surf, realizado no dia 17 de outubro, no Sesc Cacupé, em Florianópolis (SC).
Com o objetivo de apresentar experiências internacionais e nacionais na criação e gestão de Reservas de Surf, os Institutos Aprender Ecologia e Ecosurf, em parceria com o Laboratório de Gestão Costeira Integrada da UFSC (LAGECI), promoveram o seminário temático durante o II Simpósio Brasileiro sobre Praias Arenosas (SBPA) e XI Encontro Nacional de Gerenciamento Costeiro (ENCOGERCO), realizados de 15 a 19 de outubro.
O encontro contou com palestras sobre os aspectos técnicos das Reservas de Surf, relatos de experiências, como o processo de certificação da Reserva Mundial de Surf (RSM) da Guarda do Embaú (SC), a proposta de submissão da RMS de Florianópolis, que está entre as candidatas a certificação neste ano, e a apresentação de estudos de caso, como o da Praia da Joaquina, realizado pelo geógrafo e pesquisador do LAGECI, Dr. Francisco Veiga Lima.
O conceito de Reservas de Surf que foi abordado pelos palestrantes foi o que está inserido no pressuposto de que a prática do surfe depende diretamente da qualidade dos ecossistemas marinhos e costeiros e que muitas das principais zonas de surfe no país e ao redor do mundo são adjacentes ou dentro de espaços naturais protegidos.
Conforme explica Veiga Lima, a realização do seminário foi especialmente marcante no contexto de distinguir o potencial do surfe como elemento promotor da sustentabilidade na gestão das zonas costeiras.
“A proposta de RMS está baseada no reconhecimento das áreas de surfe como importantes patrimônios naturais, culturais e também socioeconômicos. Há, portanto, uma demanda na manutenção da qualidade destes territórios, por meio de políticas e ações de combate ao lixo no mar, à emissão de efluentes urbanos e industriais e à urbanização massiva sobre o litoral. As Reservas de Surf têm um potencial enorme de gerar benefícios econômicos, sociais e ambientais para as regiões do seu entorno”, afirma.
Para o Mestre em Direito Ambiental e presidente do Instituo Aprender Ecologia, Mauro Figueiredo, hoje estamos presenciando um marco histórico na inclusão do surfe como uma ferramenta de conservação das zonas costeiras e marinhas.
“A Reserva de Surf permite um modelo de gestão que tem como potencial mobilizar a comunidade para trabalhar na implementação de outros instrumentos legais já constituídos, como as Áreas Protegidas, o Plano Diretor e os Planos de Gerenciamento Costeiro e de Bacias Hidrográficas”, comenta.
O seminário ainda contou com a participação da comunidade do surfe de Florianópolis, autoridades públicas, estudantes, representantes de coletivos e sociedade civil organizada.