Um estudo da revista Advances in Atmospheric Sciences e publicado pelo jornal Folha de S.Paulo revela que 2019 foi o ano com maior temperatura oceânica da história e, também, com o maior aumento anual da década. A temperatura do oceano esteve 0,075°C acima da média em comparação ao período de 1981 a 2010.
O aumento pode parecer pequeno, mas a quantidade de energia necessária para que ele ocorra equivale à quantidade de energia liberada pela explosão de 3,6 bilhões de bombas nucleares como a lançada sobre Hiroshima em agosto de 1945, segundo Lijing Cheng, um dos autores do estudo e professor associado do IAP (Instituto de Física Atmosférica) da Academia de Ciências Chinesa.
“Esse aquecimento dos oceanos é irrefutável e é mais uma prova do aquecimento global. Não há alternativas razoáveis além das emissões humanas de gases captadores de calor para explicá-lo”, diz Cheng.
De acordo com ele, não há outra explicação possível para o aumento das temperaturas oceânicas que não a ação humana. O estudo revela que 90% de todo o calor gerado pelos gases estufa desde 1970 foi parar no oceano, enquanto apenas 4% do calor no mesmo período chegou à atmosfera.
Para comparar as medições de temperatura atuais com as antigas e corrigir as possíveis discrepâncias entre as informações, os pesquisadores calcularam a temperatura dos oceanos até 2.000 metros de profundidade —corrigindo eventuais vieses de cada equipamento utilizado em estudos anteriores— e fizeram simulações com base nos modelos passados para preencher as lacunas.
“Como um único valor anual de emissões pode ser impactado por variabilidades internas (como El Niño) ou erros instrumentais, as tendências de longo prazo são muito mais importantes do que qualquer ano individual para mostrar as mudanças climáticas; e essas tendências foram calculadas neste trabalho”, afirma o estudo.
Para determinar o ritmo de aquecimento, os pesquisadores dividiram em dois períodos as seis décadas analisadas. O período um contempla o intervalo entre 1955 e 1986, enquanto o período dois vai de 1987 até 2019.
Ao comparar o aquecimento nos períodos, os cientistas descobriram que o aumento da temperatura nas últimas três décadas foi 450% superior ao aumento no primeiro período. Isso quer dizer que, além dos oceanos estarem se aquecendo, eles o estão fazendo de forma cada vez mais rápida.
Uma das consequências do aquecimento oceânico é o surgimento de ondas de calor marinhas. Uma dessas ondas, chamada de “blob”, surgiu em 2013 e provocou uma devastação enorme.
“A blob está documentada por ter causado grande perda de vida marinha, do fitoplâncton ao zooplâncton e aos peixes –incluindo 100 milhões de bacalhaus”, disse à imprensa Kevin Trenberth, co-autor e pesquisador Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica dos EUA.
Os impactos também podem ser sentidos nas cidades. De acordo com Trenberth, os furacões Harvey, em 2017, e Florence, em 2018, causaram, juntos, prejuízo de pelo menos US$ 146 bilhões (R$ 605,4 bilhões) e 153 mortes.
“O preço que pagamos é a redução do oxigênio dissolvido no oceano, a vida marinha prejudicada, o fortalecimento das tempestades e a redução da pesca e das economias relacionadas ao oceano”, afirma Cheng.
Fonte Folha de S.Paulo.