Em galerias subterrâneas, sob camadas de areia se esconde o tuco-tuco-das-dunas (Ctenomys flamarion), a mais ameaçada das sete espécies presentes no país. De acordo com o ICMBio, a espécie foi considerada em perigo na última avaliação.
Endêmico do Rio Grande do Sul, o roedor tem distribuição restrita às dunas frontais da região costeira do estado, desde Chuí (RS) até Arroio Teixeira (RS).
Por ter um habitat tão específico, populações pequenas e fragmentadas e baixa variabilidade genética entre subpopulações, o tuco-tuco-das-dunas fica suscetível a diversas ameaças. Quem explica isso é o biólogo Juliano Sienfield Darwin, autor de registros que ganharam destaque na plataforma Biofaces.
No fim de fevereiro, Juliano caminhava por uma praia no município de Xangri-Lá (RS) para fotografar aves migratórias quando avistou um indivíduo da espécie cavando uma toca na areia. Mesmo sabendo que o animal vivia na praia, não tinha expectativas de vê-lo já que o feito estava cada vez mais difícil.
Proposta para conservação
O biólogo chegou a iniciar um projeto de conservação para a espécie, mas este não foi executado até o momento por falta de financiamento. De acordo com o documento, ela está presente em duas unidades de conservação no estado: Estação Ecológica do Taim e Parque Nacional da Lagoa do Peixe.
Na proposta, foram elencadas as seguintes ameaças ao roedor:
Areia das dunas sendo removidas ilegalmente para construção civil;
Exploração imobiliária: construção de loteamentos, ampliação de calçadões e estradas, ampliação de condomínios horizontais fechados, etc;
Urbanização sem plano de manejo efetivo pela gestão pública;
Expansão invasiva de pinheiros nas dunas frontais, que podem interferir no crescimento da vegetação nativa que serve de alimento para a espécie;
Concentração de pessoas nas praias durante o período reprodutivo, causando perturbações antrópicas no processo.
Segundo ele, não existem planos estratégicos para proteção efetiva do animal e nem propostas de implantação de novas áreas de proteção para o estado do RS, tanto a nível federal quanto estadual. O Terra da Gente tenta contato com o ICMBio para mais informações sobre o assunto.
Segundo Juliano, diante dos problemas enfrentados pela espécie, seria recomendável a remoção dos pinheiros, o cercamento das dunas frontais, a instalação de placas onde tucos-tucos ocorrem nas faixas de dunas e um programa de educação ambiental nas escolas próximas.
Ainda de acordo com a proposta, há uma estimativa de seis indivíduos da espécie por hectare e aproximadamente 30 mil indivíduos em toda a sua distribuição.
De acordo com ele, a preservação do roedor impacta a conservação de plantas de ocorrência restrita às dunas frontais, que por sua vez impacta a conservação da lagartixa-das-dunas (Lioaemus occipitalis), também ameaçada, e outros animais do habitat.
A espécie
Os tuco-tucos-das-dunas são animais com hábitos exclusivamente subterrâneos, desenvolvendo quase todas suas atividades embaixo do solo como reprodução e cuidado dos filhotes. Segundo portal do Projeto tuco-tuco, são conhecidos por este nome devido ao barulho que emitem.
A estrutura corporal dos roedores do gênero Ctenomys, segundo o projeto, reflete adaptações ao hábito de viver embaixo da terra, como a redução da cauda e pavilhões auditivos e maior desenvolvimento da musculatura e das unhas.
A base da alimentação dos tuco-tucos é formada por gramíneas e raízes, que cobrem as proximidades das entradas dos túneis. Uma curiosidade sobre eles é o fato de serem bastante solitários. Assim, cada indivíduo escava e vive em sua própria galeria, na maioria dos casos.
Segundo Juliano, a fêmea somente fica acompanhada de indivíduos em sua galeria durante dois momentos: na fase reprodutiva ou com seus próprios filhotes. Podem parir de 4 a 5 filhotes por vez e eles ficam sob cuidados da mãe em uma galeria própria.
Fonte G1