Turismo desenfreado

Litoral brasileiro em alerta

Jornalista João Lara Mesquita, do site Mar Sem Fim, mostra problemas turísticos na Grécia e diz que litoral brasileiro pode ter mesmas dificuldades.

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Ilhas da Grécia sofrem com turismo desenfreado.www.greekreporter.com
Ilhas da Grécia sofrem com turismo desenfreado.

O turismo na Grécia multiplica a população e expõe falhas críticas nos cuidados de saúde, levando a acidentes e tragédias, além de problemas ambientais, segundo o jornalista João Lara Mesquita.

Em artigo, João Lara Mesquita fala sobre o crescimento populacional exponencial durante as férias que também afeta a costa brasileira, especialmente em São Paulo, onde cidades como Ubatuba, Ilhabela, São Sebastião e Bertioga enfrentam ameaças pelo turismo descontrolado. Essa situação causou a decadência de locais como o Guarujá.

É crucial que as autoridades tomem medidas urgentes para evitar a destruição dos locais. O turismo, se mal feito, passa de solução a problema. São oito bilhões de pessoas no planeta e, segundo o site Ecobnb, mais de 1,4 bilhões de pessoas deslocam-se por todo o mundo todos os anos e crescem a um ritmo exponencial. A Organização Mundial do Turismo prevê que até 2030 o fluxo internacional de turistas ultrapassará os 2 bilhões.

Problemas da Grécia podem ajudar a prevenir e evitar a decadência do litoral do Brasil

Em junho do ano passado, três idosos morreram na Grécia devido à falta de transporte médico, conforme reportado pelo Le Monde. Na ilha de Kos, uma mulher de 63 anos faleceu antes de chegar ao hospital, transportada em uma carreta por moradores, já que não havia ambulância disponível.

A única ambulância da ilha estava ocupada com outro acidente. Dias depois, um homem de 76 anos morreu em Evia, devido a circunstâncias similares. Na ilha de Lesbos, uma mulher de 78 anos perdeu a consciência enquanto nadava e os paramédicos demoraram mais de duas horas para chegar, apenas para constatar que ela já estava sem sinais vitais.

Saiba que, se tomar o ano de 2019 como padrão, um ano antes da pandemia, a Grécia estava em nono lugar no ranking de países que mais recebem turistas, com 31 milhões de visitantes, segundo o portal Statista. No mesmo ano, 4,8 milhões de turistas estrangeiros desembarcaram no país, de acordo com o governo federal.

Brasil fora dos dez países que mais receberam turistas

Por isso, é inadmissível que o litoral do Brasil sofra os mesmos problemas que assolam a Grécia. João Lara Mesquista diz ainda ainda que isso demonstra o quanto atrasado está o Brasil em termos de políticas públicas que preservem e garantam a integridade de uma das porções mais belas e biodiversas do país, a zona costeira.

A falta de planejamento e o excesso de pessoas em áreas costeiras frágeis sem infraestrutura adequada são problemas recorrentes. Desse modo, quando uma praia se torna popular uma horda de turistas e donos de segundas residências superlota a região.

Isso leva ao colapso da infraestrutura já insuficiente, resultando em muito lixo, rios poluídos, trânsito caótico, poluição do ar e do mar, etc. O turismo de massa destrói as belezas naturais, torna as cidades intransitáveis, danifica ecossistemas cruciais como mangues, restingas e dunas, e leva a qualidade de vida dos moradores a níveis insuportáveis.

“Entretanto, para a mídia nacional parece que o problema não existe. O assunto quase nunca ganha as manchetes”, diz João Lara em trecho do artigo.

A TV do Catar, Al Jazeera, também repercutiu o caos nas ilhas gregas. George Sarelakos, fundador e presidente da Aegean Rebreath, organização que trabalha para proteger o ambiente marinho, disse que o alto número de visitantes apresenta um risco ambiental crescente para Santorini, particularmente dada a falta de água potável da ilha.

“Você pode imaginar todos esses milhares de turistas estando nas ilhas, comprando uma ou duas garrafas de água por dia. Estamos falando de uma quantidade inimaginável de plástico que acaba no fundo do mar”, fala George.

Irritação da população da ilha de Paros

A Al Jazeera também comentou a irritação da população da ilha de Paros. Neste verão, os moradores protestaram contra os enxames de espreguiçadeiras e guarda-sóis de propriedade privada, ocupando grandes trechos de areia e cobrando cerca de € 100 (R$ 530) por um conjunto, não deixando espaço para outros.

Sobre os navios de cruzeiro, o chefe de comunicações globais da Kpler, Georgios Hatzimanolis, diz a Al Jazeera que no verão tinha uma média de dois navios de cruzeiro por dia com picos de seis.

“Isso significa que potencialmente 14 mil passageiros podem inundar a pequena ilha em apenas um dia”, expõe Georgios, alertando ainda que a infraestrutura já tensa da ilha pode ceder sob a pressão.

Veneza proibiu navios de cruzeiro

Por problemas parecidos que em 2021 Veneza, Itália, proibiu que navios de cruzeiro entrassem nos canais da cidade. Em outras palavras, há maneiras de ordenar o turismo de modo que não seja uma ameaça ao meio ambiente e à qualidade de vida dos moradores. Porém, é preciso visão e determinação para impor regras e assim torná-lo sustentável, de acordo com João Lara.

A Al Jazeera finaliza a matéria realçando que autoridades disseram que combater o excesso de turismo é uma prioridade máxima. O problema do turismo de massa está em discussão em toda a Grécia, não só nas ilhas.

Importante definir a capacidade de cada local

O jornal irlandês Irish Times, reporta que Atenas atingiu seu limite de turismo, especialmente devido ao aumento de 500% nas ofertas do Airbnb (aplicativo de aluguel de casas) nos últimos sete anos. Um estudo destacou a superação da capacidade de transporte de turistas em Atenas, que mede o limite de visitantes sem prejuízos ao ambiente e à sociedade. Em muitos lugares, esse limite já foi ultrapassado.

Ainda segundo o Irish Times, apesar do turismo representar mais de 25% do PIB grego, ele ameaça a estrutura social e cultural do país. João questiona, então, de qual forma garante-se a qualidade de vida dos residentes permanentes da Grécia frente à crescente onda de turistas.

Para o site grego Cíclades Open, os recursos ambientais estão sob pressão. Os moradores não podem mais tolerar a forma como o mercado imobiliário ameaça estragar a paisagem e a beleza dos destinos turísticos. Parece que o turismo além de um certo patamar de crescimento não melhora a qualidade de vida dos habitantes, mas piora, transformando o destino de um paraíso em um inferno.

Outra fonte que fez coro é o Greek Reporter e falam que entre os principais impactos do excesso de turismo em Santorini estão a superexploração, o empobrecimento ambiental e o volume de lixo gerado.

João Lara fala que todas as críticas serviriam como uma luva para as estâncias balneárias de São Paulo, além de destinos mais procurados como Trancoso e Arraial da Ajuda, na Bahia; Arraial do Cabo, Rio de Janeiro, e um sem-número de outros destinos.

Litoral da Espanha

Em 2009, o Guardian publicou a matéria The destruction of Spain’s coastline (A destruição do litoral da Espanha), quase sem texto, apenas com uma série de imagens. Vale a pena conferir no que se transformou o litoral espanhol por falta de ação.

Este processo, segundo João Lara, segue acelerado no litoral do Brasil e agora ameaça a Grécia. Contudo, há maneiras de controlar o turismo e torná-lo menos destrutivo e, possivelmente, sustentável.

Medidas para evitar o caos

João selecionou algumas medidas já tomadas por diversos países. Entretanto, Lara destaca que é importante discutir o assunto, colocá-lo nas mídias, promover a discussão.

Segundo o site Traveling Lifestyle, a França está considerando uma campanha para desencorajar os viajantes de irem para alguns lugares já lotados. De acordo com Olivia Grégoire, Ministra do Comércio, Artesanato e Turismo francês, apenas 20% da área total do país é visitada por 80% de todos os visitantes.

A mesma fonte informa que Veneza, Amsterdã, Holanda; e Edimburgo, Escócia, foram recentemente adicionados à lista de lugares que cobram uma taxa. Enquanto alguns visitantes se opõem à nova taxa, outros entendem a lógica do programa, que se destina a ajudar as economias locais e combater o excesso de turismo.

Outra maneira é limitar as entradas, desse modo os destinos podem controlar diretamente a quantidade de turistas que entram em uma região ou cidade de cada vez.

Segundo Pina Travels, muitos países ao redor do mundo, como o Butão e a Espanha, implementaram impostos turísticos como solução. Os impostos são frequentemente adicionados às contas do hotel ou são pagos como uma taxa de saída no aeroporto. Eles geram orçamentos que podem ser destinados à proteção dos recursos naturais e à manutenção de instalações turísticas.

Outra tática é restringir a quantidade de tempo que um turista pode ficar em um local para que haja menos superlotação. Isso já é feito em locais famosos como Machu Picchu, Peru, e Taj Mahal, Índia.

Fonte Mar Sem Fim