Seis raias foram encontradas mortas e com marcas de redes na pele, na areia da praia de Vila Tupi, Praia Grande, litoral Sul de São Paulo, na manhã da última terça-feira (21). Os corpos foram localizados por uma equipe de pesquisadores do Instituto Biopesca que alertam para os riscos da intensa retomada da pesca com redes de arrasto nos mares paulistas, o que pode ser uma ameaça a espécies marinhas.
Amarrada ao barco por cordas ou correntes, elas passam ao longo do leito do oceano. Muitos animais marinhos que não são alvo da pesca, como tubarões, tartarugas e raias acabam presos na malha. O que não serve para o comércio é devolvido ao mar antes mesmo do barco chegar à terra.
Segundo o médico veterinário e coordenador do Instituto Biopesca, Rodrigo Valle, as leis brasileiras autorizam a pesca de arrasto, desde que configurem pesca artesanal. As redes, por exemplo, não podem ser movidas por motores, como ocorre na pesca industrial. Tudo para dirimir o impacto que as redes provocam à vida marinha.
“Naturalmente, assim como os avistamentos de animais marinhos serão maiores por conta da volta das pessoas às praias após a pandemia, os incidentes envolvendo redes de pesca também podem ocorrer mais frequentemente”, declarou Valle ao UOL.
“Com a chegada dos turistas no verão, a demanda por pescado aumenta, estimulando dessa maneira a pesca artesanal”.
O Instituto Biopesca, que monitora as praias do litoral paulista, ainda não identificou a espécie a que pertence o cardume. Sabe-se que é uma raia popularmente conhecida como ticonha, mas ela divide-se em duas classificações : a Rhinoptera bonasus e a Rhinoptera brasiliensis.
Os exames dos exemplares encontrados em Praia Grande, que serão realizados amanhã, farão a confirmação. “De qualquer forma, qualquer que seja a espécie a que pertence esse cardume de raias ticonha, ambas estão na lista vermelha de espécies vulneráveis”, afirma o coordenador do Biopesca. “Ou seja, estão no caminho da extinção. Por essa razão o monitoramento é importante”.
Estudo publicado em 2016 pelo ICMBio (Instituto Chico Mendes) revela que houve um declínio populacional da ordem de 90% entre 1981 e 2003 na área de maior abundância da espécie Rhinoptera brasiliensis, endêmica no Sul e Sudeste do Brasil.
Projeta-se este declínio para a população como um todo em um período de três gerações. Portanto, a espécie foi listada como Criticamente em Perigo (CR). Ela possui baixo potencial reprodutivo, com fecundidade uterina de apenas um embrião e ciclo reprodutivo de dois anos, sendo sensível à sobrepesca.
Já a espécie Rhinoptera bonasus ocorre, no Brasil, do litoral Norte até a região Sudeste. A pesca artesanal e industrial em águas costeiras, incluindo a pesca de arrasto, é a principal ameaça, no entanto, não existem informações populacionais ou sobre os efeitos da pesca sobre ela no Brasil. Ela foi categorizada como espécie com Dados Insuficientes (DD).
O biólogo Ítalo Bini, técnico do instituto, informou que as raias ticonha são extremamente comuns na costa de São Paulo. “É muito comum esses animais se aproximarem das praias quando janeiro chega, porque é o período em que as fêmeas procuram águas mais rasas para parir seus filhotes, explica o biólogo.
“As duas espécies que são comumente chamadas de raias ticonha são costeiras, são animais estuarinos, esse é o habitat natural delas”. A raia é um animal marinho cartilaginoso, ou seja, não tem ossos, possui um corpo achatado, nadadeiras laterais e apresenta um ferrão serrilhado na ponta da cauda fina, que libera uma toxina na pele da vítima, que causa muita dor. O ferrão é a defesa da raia contra os predadores.
Porém, quando se aproximam das praias, é comum ocorrerem acidentes envolvendo as raias. Como o do menino que pensou ter sido atacado por um tubarão na praia de Ilha Comprida, no feriado de 15 de novembro. Mas um especialista identificou que o cardume de tubarões avistados no dia não passava de um cardume de raias e uma delas pode ter esbarrado na perna do garoto.
Bini informou que os seis exemplares de raia encontrados em Praia Grande passariam por alguns exames, entre eles um preliminar, que confirma a espécie. “Fisicamente, elas são muito parecidas. Mas elas têm uma placa de dentinhos serrilhados que são ligeiramente diferentes em cada uma das espécies. Assim, poderemos saber exatamente a qual esse cardume pertence”, concluiu o biólogo.
As informações são do portal UOL.