Barra da Tijuca

Rio põe concreto no fundo da areia

Obras contra efeitos da ressaca na Praia da Barra da Tijuca (RJ) são questionadas por especialistas.

Obra visa reduzir efeitos das ressacas.

A Prefeitura do Rio de Janeiro iniciou a execução de uma obra na praia da Barra da Tijuca (zona oeste) que instala um material de concreto sob a areia com o objetivo de reduzir os danos provocados por ressacas na orla.

A intervenção revoltou especialistas de ao menos quatro universidades e foi suspensa na última quarta-feira (1º), após uma notificação feita pelo Ministério Público Federal. A Procuradoria questiona, entre outros pontos, a ausência de estudo de impacto ambiental para a movimentação da faixa de areia.

A obra tem como objetivo reduzir os efeitos das ressacas principalmente no calçadão e em quiosques da orla. Especialistas da UFRJ, Uerj, UFF e PUC-Rio organizaram um abaixo-assinado apontando o risco de que a movimentação possa, na verdade, ampliar danos futuros.

A obra prevê, segundo a prefeitura, a instalação de colchões articulados feitos de concreto e uma manta geotêxtil preenchida com areia da própria praia para estabilizar o local. O contrato de R$ 10,6 milhões também inclui a implantação de vegetação de restinga e a reestruturação de passeios e pavimentos danificados.

A instalação do material na faixa de areia está prevista para sete pontos da Barra da Tijuca que perfazem uma extensão de 1,2 quilômetros entre os postos 3 e 8 e tinha prazo de conclusão de seis meses. A intervenção na faixa da areia começou em dezembro num dos pontos e foi interrompida sem ser concluída, após a notificação do MPF.

Em nota, a prefeitura afirma que “o município protocolou no portal do MPF mais de 100 documentos relativos aos ensaios, estudos de engenharia costeira, elementos técnicos e projetos que corroboram as obras de recuperação dos taludes da Barra da Tijuca”.

O uso de concreto e a movimentação de maquinário pesado na praia assustou oceanógrafos e engenheiros.

Parecer técnico assinado por 26 professores e especialistas na área aponta que os colchões de concreto podem agravar os danos provocados pelas ressacas. O principal problema, na avaliação do grupo, é a possível redução na infiltração da água do mar na areia durante as ressacas, ampliando o impacto das ondas e a redução da orla.

“Estruturas rígidas fazem refletir a energia das ondas que retornam ao mar com mais energia retirando a areia da praia e aumentando sua declividade. Esse fenômeno leva à diminuição progressiva da largura da praia (perda da área recreativa) e aumento de sua declividade, fazendo com que as ondas de alta energia em eventos de ressaca do mar quebrem mais próximas da orla onde estão localizados o calçadão, a ciclovia e quiosques”, afirma o texto.

O grupo questiona, inclusive, a necessidade da obra. Estudo de professores da Uerj e da UFRJ indica que a praia da Barra está em “equilíbrio dinâmico”, com redução da faixa de areia em períodos de ressaca e recuperação natural posterior.

Laudo técnico da Procuradoria afirma também que a obra está “em dessintonia com o que dispõem a literatura técnica e as normativas pertinentes ao ordenamento costeiro”.

“Não há relatos da implantação dessas estruturas no litoral brasileiro, o que prejudica uma análise sobre a funcionalidade do método segundo as especificidades do processo erosivo instalado na área investigada”, diz o documento.

Fonte Yahoo

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