Um berçário para corais pode ser a solução para manter a espécie viva e ainda beneficiar o bolso de jangadeiros e mergulhadores de Porto de Galinhas, em Pernambuco. Segundo os coordenadores do projeto Biofábrica de Corais, biólogos, turistas e trabalhadores do mar também saem ganhando com a iniciativa. Isso tudo com a ajuda de um bicho costumeiramente mal compreendido.
Sim, ao contrário do que parece, corais não são plantas. Eles são animais cnidários, como as anêmonas-do-mar e as águas-vivas. A diferença é que são imóveis, conectados por um esqueleto, e vivem em comunidade.
Os corais são abrigo para peixes e algas microscópicas — algas que fazem fotossíntese, absorvem CO2 e liberam oxigênio. Segundo cientistas, os recifes de corais abrigam 25% de toda a vida marinha. Com tanta biodiversidade, biólogos costumam chamá-los de “floresta tropical submersa”.
Vendo suas fotos multicoloridas, não é difícil imaginar que turistas invistam dinheiro para observá-los. Neste quesito, o Brasil é privilegiado. O país tem o único banco de corais do Atlântico Sul e corais que vão do Maranhão até a Bahia, onde encontramos o Parque Nacional Marinho dos Abrolhos — um verdadeiro parque embaixo d’água. De acordo com ICMBio, somente no Brasil encontramos espécies de corais como o coral-cérebro.
Crescimento de corais em “berço” surpreende
Em 2018, pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco começaram a desenvolver um “berçário” para cultivá-los no município de Ipojuca, em Porto de Galinhas. Os berços feitos em uma impressora 3D receberam a amostra da espécie coral-de-fogo e coral-cérebro e foram submersos em uma área controlada do oceano.
Os corais-de-fogo cresceram 40% em três meses. Em 120 dias, o coral-cérebro cresceu 200%. Para cientistas, os resultados do projeto-piloto são promissores, embora ainda seja preciso estudar o tempo ideal de “berço”.
Bom para todo mundo Corais são sensíveis às mudanças climáticas e estimativas da ONU mostram o tamanho da ameaça: 70% a 90% destes animais marinhos podem desaparecer nas próximas décadas devido ao aquecimento global. Salvá-los é uma missão bastante complexa.
Na ciência, pesquisadores costumam se dividir entre remanejar, repovoar ou reflorestar uma área que foi degradada ou mantê-la intocada e protegida até que a própria natureza se reconstitua.
Segundo Rudã Fernandes, coordenador científico da Biofábrica de Corais, os berçários são uma estratégia para manter viva a biodiversidade marinha, os corais saudáveis e beneficiar quem vive fora d’água por meio de manejo e repovoamento. “Quantas mais atividades econômicas para preservação, mais fácil para gente preservar”.
“Nossa intenção é integrar a pesquisa científica respaldada, com a preservação e benefício à comunidade local”.
Atualmente, 84 jangadeiros e 40 mergulhadores se beneficiam diretamente das visitas de turistas aos corais de Galinhas. No lugar de apenas observar, os biólogos poderão estudar os corais de maneira controlada e ainda oferecer educação ambiental a quem paga e recebe para visitá-los.
No futuro, a ideia é que jangadeiros e pescadores visitem as áreas revitalizadas pelo berçário. As estimativas de Rudã é um aumento em 50% no valor cobrado pelos passeios após a capacitação — e parte do valor poderia ajudar a custear a continuidade do projeto de revitalização.
De acordo com a associação de jangadeiros, os passeios em jangada custam cerca de R$ 40. O valor dos mergulhos varia de acordo com a temporada e a empresa que fornece o passeio, mas gira a partir de R$ 50.
Próximas etapas
Os moldes biodegradáveis da impressora podem ser mudados de local caso o trecho não seja o melhor para os corais. Segundo Rudã, além de mantê-los vivos, os berçários também facilitam a observação para estudos científicos a longo prazo.
Não à toa, cientistas ainda estão longe de descobrir todas as possibilidades que podem ser extraídas dos seres marinhos em benefício para nós, humanos. O projeto gestado em 2015 foi financiado pela Fundação Boticário, pelo Uber e aguarda novas fontes de financiamento.
O desejo dos pesquisadores é fazer um berçário em larga escala na praia de Porto de Galinhas ainda em 2021. “Nossa intenção é integrar a pesquisa científica respaldada, com a preservação e benefício à comunidade local”, explica Rudã.
Fonte UOL