Cerca de 50 anos depois de fundar a Patagonia, Yvon Chouinard, o excêntrico alpinista que se transformou em um bilionário, resolveu doar a companhia, relata o New York Times.
Em vez de vender o negócio ou abrir o seu capital, o empresário, sua esposa e dois filhos transferiram a propriedade da Patagonia, avaliada em US$ 3 bilhões, para um fundo especial e para uma organização não-governamental dedicada ao clima. Eles foram criados para preservar a independência da companhia e garantir que os seus lucros – cerca de US$ 100 milhões por ano – fossem usados para combater a crise climática e proteger florestas em todo o planeta.
O movimento raro vem em um momento de cobrança de bilionários e corporações, que falam muito sobre salvar o planeta, mas na verdade contribuem para agravar os problemas.
A decisão de abrir mão da fortuna da família combina totalmente com a personalidade de Chouinard, que sempre detestou seguir as regras do mundo dos negócios, e dedicou a vida a causas ambientais. “Espero que a minha decisão leve à criação de uma nova forma de capitalismo, que não termine com um pequeno grupo de bilionários e milhões de pessoas na pobreza”, disse em entrevista o NYT. “Vamos doar a quantidade máxima de dinheiro para as pessoas que estão trabalhando ativamente para salvar o planeta.”
Pagando para doar
A Patagonia vai continuar a operar como uma empresa privada, sediada em Ventura, na Califórnia, vendendo mais de US$ 1 bilhão em roupas esportivas por ano. Mas os Chouirnards não terão mais controle sobre ela.
Em agosto, a família transferiu de forma irreversível 2% da Patagonia para uma nova entidade chamada de Patagonia Purpose Trust. O fundo, que será supervisionado por membros da família e seus conselheiros, terá a missão de garantir que a Patagonia cumpra com sua promessa de se manter um negócio socialmente responsável. A família terá que pagar US$ 17,5 milhões em impostos pela doação.
A família doou os restantes 98% da empresa para uma organização não-governamental chamada Holdfast Collective, que receberá todos os lucros e usará os recursos para combater as mudanças climáticas.
“Houve um custo significativo nessas doações, mas eles estavam dispostos a arcar com as despesas para garantir que a empresa permanecesse fiel a seus princípios”, disse Dan Mosley, parceiro do BDT & Co., banco que tem entre seus clientes bilionários como o investidor Warren Buffett. Mosley ajudou a criar a nova estrutura da Patagonia.
Barre Seid, um doador republicano, é o único outro exemplo recente de um empresário rico que abriu mão da sua companhia para causas filantrópicas e políticas. Mas Seid agiu de forma diferente, doando o negócio para uma organização não-governamental, mas usando a entidade para divulgar causas conservadoras, incluindo esforços para impedir a luta contra as mudanças climáticas.
Ao doar toda sua fortuna em vida, a família Couirnard se tornou uma das mais caridosas do país. “Quando você lembra que a maioria dos bilionários dá apenas uma fração da sua riqueza para causas sociais e ambientais, a família está em outro patamar”, diz David Callahan, fundador do site Inside Philanthropy.
A Patagonia já doou US$ 50 milhões para a Holdfast Coolective, e espera aportar mais US$ 100 milhões neste ano. Para Dan Mosley, parceiro do banco BDT & Co., a história é única. “Em meus 30 anos lidando com propriedades, nunca vi nada parecido com o que eles fizeram. É um compromisso absoluto. Eles não podem reaver a empresa.”
Mas, para Yvon Chourinard, a decisão foi algo bem simples e satisfatória. “Eu não sabia o que fazer com a companhia porque eu nunca quis ter um negócio”, disse ao NYT. “Não queria ser um homem de negócios. Agora posso morrer feliz, porque sei que a companhia vai continuar fazendo a coisa certa nos próximos 50 anos, sem que eu precise estar perto.”