Kneeboard

Ajoelhou tem que surfar

Lucas Honorato conta a história do kneeboard, do pioneiro George Greenough até os dias atuais.

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George Greenough é considerado o pai do kneeboard moderno.

Não se pode precisar exatamente quando o kneeboard surgiu para a humanidade. De fato, o que se sabe é que, desde os ancestrais polinésios, já se desciam ondas de joelho.

Inclusive, no famoso Museu do Surfe, situado no Havaí, existem gravuras que comprovam isto. Por este motivo é que se acredita que, tanto o kneeboard como o surfe, sejam práticas contemporâneas.

Entretanto, o kneeboard moderno, praticado como atividade desportiva, teve influência a partir da criatividade do norte-americano George Greenough, nascido em Santa Bárbara, Califórnia (EUA), e que foi criado desde os 10 anos na Austrália.

Uma observação, a Austrália também foi o local onde ocorreu o primeiro campeonato mundial da modalidade, em 1982.

Famosa prancha ‘spoon’, criada em 1961 por Greenough.

George Greenough

George Greenough nasceu em 1941, em Santa Barbara, Califórnia, em uma rica família que tinha conexões com o setor ferroviário. Foi um surfista influente nas décadas de 1960 e 1970, conhecido por seus projetos e trabalhos em filmes, design de pranchas, características de criação de quilhas e outras invenções para o meio aquático.

A principal aparição de Greenough e sua criação foi no clássico dos filmes de surfe: “The Endless Summer“. No longa, ele aparece surfando uma onda interminável na Califórnia. As contribuições de Greenough no desenvolvimento das pranchas resultaram em uma onda de novos avanços na tecnologia e no design das pranchas.

Em 1965, George criou a prancha do “kneeboard”, batizando-a de “Velo”. Ela foi projetada para ter flexibilidade na rabeta e na quilha única de formato inusitado. Essas mudanças resultaram em cavadas rápidas e uma aceleração nunca antes observada em uma prancha de surfe.

Greenough também é creditado pelo design da quilha moderna.

A partir de suas observações e pensamento de vanguarda, George passou a utilizar seu novo modelo de quilhas, o que possibilitou a diminuição drástica do tamanho de suas pranchas. É bem verdade que ele tinha mais dificuldade de entrar nas ondas e seu estilo de surfar de joelhos causava muito estranhamento na comunidade do surfe como um todo.

As limitações dos kneeboarders eram compensadas com o aumento do tempo em que se conseguia passar nas ondas, principalmente nos tubos, pois eles precisam de menos área e podem lidar com drops mais íngremes e radicais.

Os primeiros a testar a “Velo” e sua quilha poderos, foram os lendários Nat Young e Wayne Lynch, que surfaram em pranchas feitas pelo não menos lendário Bob McTavish. Além de fabricante de pranchas, McTavish era amigo de Greenough. Conta a lenda que Greenough, ao observar o formato hidrodinâmico da cauda de atuns, profetizou que aquele seria o futuro das quilhas das pranchas de surfe.

Isso aconteceu na década de 1960. Na época, a cena do surfe mundial era dominada pelo longboard, pranchas enormes com as quilhas como uma espécie de barbatana de tubarão, quase quadradas.

George ficou famoso por sua aparição no clássico The Endless Summer.

Greenough é creditado pelo design da quilha moderna, bem como por influenciar as manobras mais radicais do surfe moderno. Ele começou como surfista na década de 1950, mas começou a alternar entre kneeboarding e um colchão de ar em 1961. De acordo com ele, isso lhe dava uma sensação aumentada de velocidade, que vinha de uma posição corporal reduzida.

A famosa prancha de ‘spoon’ foi criada em 1961. Ele substituiu a quilha normal por um modelo menor, flexível e recuado, copiado da forma da barbatana dorsal traseira de um atum, nomeada de “tuna fish”. Esse design teve o efeito de reduzir o arrasto e aumentar os recursos de manuseio da prancha. A nova quilha era um equipamento elegantemente funcional, mas levou cerca de três anos para se tornar popular.

A prancha que George criou possuía várias camadas de fibra de vidro, em forma de velhos balseiros de balsa, colados na crista de espuma de poliuretano no topo do convés, perto dos trilhos e nariz, com a extremidade traseira da prancha feita inteiramente de fibra de vidro. A peça final para o tabuleiro era sua assinatura “flex-fin”. A prancha era tão pequena e leve que não era muito bom surfar em ondas pequenas.

Somente em grandes ondas, o modelo revelou suas habilidades de desempenho e permitiu a Greenough manobrar em seções com mais potência e velocidade do que em projetos anteriores. Ele fez curvas inferiores, onde sua prancha inclinou quase 90 graus. Em 1966, Greenough fez a sua segunda prancha, que ele apelidou de ‘Velo’ por velocidade.

Os kneeboarders são capazes de realizar um grande número de manobras na mesma onda.

O estilo

O kneeboard é um estilo de surfe no qual o praticante pega ondas de joelho. Nesta posição, o atleta se coloca em reverência com uma das práticas esportivas que têm ajudado a mudar o mundo radical do surfe nos últimos 60 anos.

Devido ao seu baixo centro de gravidade, os kneeboarders são capazes de realizar um grande número de manobras, semelhantes a dos surfistas. Estando mais perto da face da onda, a sensação de velocidade é mais acentuada.

Os surfistas do kneeboard podem usar ou não pé de pato. Seu uso tem grande influência nos Estados Unidos, África do Sul e Brasil, já na Austrália o uso não é muito comum. Os kneeboarders têm algumas vantagens perante aos colegas surfistas quando se trata de dropar nas ondas.

Modalidade recebe destaque na extinta revista Brasil Surf.

Kneeboard no Brasil

O kneeboard no Brasil existe bem remotamente com maior influência no Rio de Janeiro, Santa Catarina e Nordeste, estando há muitos anos fora das competições.

No Rio de Janeiro, um dos grandes nomes do kneeboard no Brasil, se chama Sérgio Peixe. “Peixe” iniciou no esporte por volta de 1972, com pranchas fabricadas por ele próprio. No período entre 1986 e 1992, o kneeboard estava no auge.

O pioneiro da modalidade no Brasil é o paulista Paulo Barreto. “Musgão”, como é conhecido pela galera, iniciou na modalidade em 1967, tendo disputado em 1970 o que pode-se considerar o primeiro campeonato com a categoria Kneeboard realizado no Brasil. Já no Nordeste, os pioneiros do Kneeboard foram Lúcio Chaves e Ériko Vasconcelos, ambos vindos da modalidade bodyboard. Eles iniciaram no esporte por volta de 1992.

No final dos anos 90 e início de 2000, o principal nome do kneeboard no Ceará foi Diego Azevedo. Neste período, ele conquistou alguns títulos, foi campeão Brasileiro Amador em 1998 com um recorde de cinco vitórias consecutivas no circuito e em 99, ficou na 9ª colocação no World Kneeboard Surfing Titles, realizado na Nova Zelândia, onde representou o Brasil junto com o ídolo Sérgio Peixe. Os últimos surfistas que disputaram o mundial foram Eduardo Machado, natural de Saquarema, em 2002, e Sérgio Costa, do Rio de Janeiro, com a última participação no ano de 2015.

Sérgio Peixe representa o auge do kneeboard no Brasil.

Sérgio Peixe

Além de dezenas de títulos brasileiros, estaduais e municipais, Sérgio Peixe traz no currículo os títulos de campeão mundial Master na Austrália (1996), campeão pan-americano na Barra da Tijuca (1997) e o de campeão mundial no ISA Games, em Porto de Galinhas, Pernambuco, em junho de 2000.

No ISA Games Peixe desbancou, do alto de seus 43 anos de idade, o lendário sul-africano Gigs Celliers, tetracampeão mundial.

Sérgio Peixe é conhecido e respeitado no mundo todo. Considerado o grande “mestre” da modalidade no Brasil, foi ele quem fortaleceu e representou o kneeboard brasileiro, contribuindo não só com matérias, entrevistas, como também nos campeonatos nacionais e internacionais nos quais participou.

“Mestre” Sérgio Peixe dedicou grande parte da sua vida ao surfe de joelho.

O “mestre” dedicou grande parte da sua vida ao surfe de joelho, sempre representando da melhor forma possível o nosso País nas competições. Atualmente, as pranchas confeccionadas por ele são procuradas por pessoas de todos os estados e até de outros países.

Prancha

As pranchas de kneeboard são feitas exatamente como pranchas de surfe, porém com características especiais como bloco próprio, medidas de formato peculiares e quilhas mais adiantadas. Tudo favorecendo a projeção e um centro de gravidade mais baixo. O potencial de performance é o mesmo do surfe, com rasgadas, batidas, aéreos e tubos.

As pranchas de kneeboard variam, elas são mais largas do que uma prancha de surfe em média e apresentam um nariz arredondado, além de bordas um pouco mais largas e grip de EVA para os joelhos, com a função de amaciar o impacto com aderência. As pranchas são geralmente feitas de poliuretano e fibra de vidro, semelhante às de surfe.

Peixe no Mundial Master de 1996 na Austrália.

Em relação às quilhas, são mais adiantadas do que as pranchas de surfe. Isso para obter respostas mais rápidas nas manobras. Quanto mais atrás a posição das quilhas, mais força o surfista terá que fazer para executar as manobras. Por isso, optou-se por adiantar as quilhas.

Existem três shapers no Brasil atualmente que confeccionam pranchas de kneeboard: Sérgio Peixe (RJ), Rafinha (SP) e Renato Estrella (RJ), todos surfistas e conhecedores da modalidade.

Atualidade

Atualmente, o kneeboard conta com um número reduzido de praticantes. Isto se deve, em grande parte, ao fato do esporte ter sido excluído das competições. Sem eventos, a divulgação ficou restrita apenas às matérias veiculadas na mídia.

Existem por volta de 50 a 60 kneeboarders espalhados pelo Brasil, mas infelizmente a modalidade encontra-se fora do cenário nacional há quase 20 anos.

Lucas Honorato vai participar do campeonato mundial de 2022 em Portugal.

Apesar disso, atualmente existem grupos nas mídias sociais que possuem o objetivo de reunir amigos e praticantes de kneeboard do Brasil. A intenção é promover encontros, eventos e campeonatos para que se possa fortalecer a raiz do esporte para a futura geração.

As páginas @kneeboardsurfbrasil no Instagram e Facebook foram criadas com o objetivo de reunir estes amigos e praticantes.

Administrador da @kneeboardsurfbrasil, Lucas Honorato tem 27 anos e é um apaixonado pelo surfe de joelho. Ele é um dos principais atletas do Brasil da atualidade e vai disputar o campeonato mundial de 2022 em Portugal.