No dia 5 de setembro, mesmo dia do Itacoatiara Big Wave e véspera do dia de Nossa Senhora de Nazaré, padroeira de Saquarema, o waterman Luis Bulcão “Taxa Man” encarou uma craca nervosa na Praia da Vila (RJ).
“Foi a maior onda já registrada no Brasil surfada em um kitesurf”, conta Taxa Man, que é embaixador da marca de pranchas Powerlight no litoral fluminense. Confira abaixo o relato do surfista sobre a sessão:
“Nesta temporada dediquei meus treinos para velejar em Saquarema em todas as condições de vento e ondas. Peguei dias muito grandes com vento sudoeste de mais de 30 nós. Já estava me sentindo em casa nas condições mais extremas quando, no dia 5 de setembro, vendo que as condições estariam além do normal, chegou a hora de esticar ainda mais os meus limites. Por sorte neste dia minha namorada Florencia Yañez foi me acompanhar e levamos a câmera. O fato de ela ser salva-vidas também me tranquilizou um pouco.
Entrei super rápido pelo canal do Point, já que as séries estavam bastante demoradas. Quando cheguei ao outside, pensei que só saia se fosse na maior da série. O vento estava fraco e era grande a chance de o kite cair ao perder pressão do vento, pois a força das ondas era muito grande. Só valia a pena rasgar o kite se fosse pra pegar a maior do dia!
Fiquei mais ou menos meia hora lá fora. Estava lutando contra a corrente forte atrás da laje de Itaúna até que veio uma série de três ondas criando um vagalhão imenso. Deixei passar a primeira, que não parecia tão grande, botei o kite rumo à segunda e deixei perder um pouco de velocidade para ver se vinha uma ainda maior atrás. A de trás não parecia tão grande como a que eu já estava, então dei o gás total com a minha gun Powerlight 6’7” mágica.
Bem lá fora, ainda bastante atrás da laje, ela começou a subir! Quando senti que o kite tinha entrado em drift (levado pela velocidade do vento) e eu já tinha velocidade suficiente, fiquei amarradão e levantei o braço para depois poder ter uma referência do tamanho da onda. Mas ela não parava de crescer e quando cheguei à base ela fechou completamente e começou a jogar uma placa enorme do lip em direção à minha cabeça.
Tudo que pude fazer foi virar para o ‘retoside’, mas já não dava para pegar mais velocidade, pois já tinha terminado o drop, o vento estava fraco e o kite não estava mais com pressão. Consegui pelo menos fugir do impacto estrondoso do lip, que caiu bem atrás da rabeta da prancha. Um avalanche de espuma me engoliu sinistramente logo depois.
Consegui ejetar o kite a tempo, uma questão de vida ou morte neste momento. Tomar o caldo enrolado nas linhas pode custar a vida ou te rasgar inteiro. Tomei um caldo que não tinha mais fim e me levou muito para o fundo. Ainda bem que estava de colete e quando já não tinha mais energia, consegui me manter sem movimento para economizar oxigênio.
O kite virou uma colcha de retalhos, mas valeu a pena cada milésimo de segundo nesta onda. Estou pronto para pegar o próximo swell! É importante ressaltar que Saquarema é um pico de surfe e não de kite e só velejamos quando a galera local do surfe nos permite.
Quem tiver interesse em aprender ou melhorar a performance nas ondas pode agendar um coach ou um kite guide. É só entrar em contato comigo pelo Instagram @luisbulcao. Até o próximo big swell!”.