No mês de dezembro, a marca de pranchas Oric inaugurou sua nova fábrica, localizada em um casarão na zona sul de Porto Alegre (RS) e apelidada de Castelo da Oric. Criada pelo empresário Guilherme Paz e pelo shaper Ciro Buarque em 2016, a marca gaúcha rapidamente ganhou mercado e, apesar do pouco tempo na estrada, já estabeleceu-se como uma das empresas do segmento que mais investem no esporte no Brasil.
Além de patrocinar surfistas da velha guarda como Paulo Zulu, atletas da nova geração como Gustavo Borges e Pâmella Mel, de incentivar o esporte na ilha de Fernando de Noronha (PE) e de apoiar eventos como o Black Belt Challenge e o Circuito ASPOA (Associação de Surf de Porto Alegre), a Oric tem planos ambiciosos para esta temporada. E todos passam pelo Castelo, um oásis cercado pela natureza e pelo Rio Guaíba, cartão-postal da capital gaúcha.
Quem comanda o casarão é Guilherme Paz, advogado de formação, mas que decidiu investir no ramo da fabricação de pranchas ao encomendar um longboard para seu filho pequeno. A amizade com o shaper Ciro Buarque e os interesses em comum fizeram nascer a Oric (Ciro ao contrário). De lá para cá, a empresa passou de uma apertada garagem para um enorme casarão, aumentando de 15 para 70 o número de pranchas produzidas por mês. Em 2018, a previsão é ampliar esse número para ao menos 100.
Na entrevista abaixo, concedida pouco depois da inauguração do Castelo, Paz conversou com a reportagem do Waves e falou um pouco sobre a origem da Oric e os planos para esta temporada.
Como surgiu a ideia de investir no mercado de fabricação de pranchas?
Foi em novembro de 2015, quando meu filho pediu para encomendar uma prancha de surfe. Então pedi uma para o Ciro, lembrei que ele estava no Brasil depois de ter passado um longo período na Austrália. Ele trabalhou em algumas fábricas e estava começando sozinho, tinha feito umas quatro pranchas para a “Ciro Buarque Surfboards” nos fundos da casa dele. Quando recebi a prancha, percebi a qualidade e resolvi apostar e empreender. Trabalhava como advogado e sabia que minha família ia ficar contra, mas ele pilhou e seguimos adiante.
Como foi o início?
Precisávamos de alguém para dar visibilidade, aí pensamos no Paulo Zulu. Sempre tive uma imagem do Zulu como surfista, nunca consegui enxergar ele como modelo ou ator. Entrei em contato com a assessora dele, eles foram muito solícitos e dispostos a negociar um preço acessível, talvez porque viram que éramos uma marca que nem existia no papel ainda. Por coincidência, ele estava indo pra Indonésia. Fizemos duas pranchas e o feedback foi de que uma delas foi a prancha da vida dele. Isso nos deu muita motivação para seguir adiante, já que o Zulu tem mais de 40 tipos de prancha no quiver.
E como funciona essa parceria atualmente?
Além de um atleta da Oric, ele é nosso consultor de pranchas e nos ajuda muito. A Pâmella Mel esteve aqui na inauguração e ele ajudou a construir a prancha dela. Vestiu a camisa. Foi graças a ele que também vimos que somos capazes de fabricar pranchas mágicas. Hoje ele faz parte da equipe e confiamos muito nele.
E quais são os outros atletas?
Temos o Gustavo Borges, de 17 anos, que é o nosso atleta de Torres (RS). Além de um grande surfista, ele está muito focado em seus objetivos, que é tornar-se profissional. Também começamos um trabalho agora com a Pâmella, 12 anos, então eles entram como a nova geração. O Zulu, além da grande visibilidade, tem o lifestyle saudável e um estilo polido que contrasta com o surfe moderno do Gustavo. Ainda temos uma ligação forte com Fernando de Noronha, graças ao nosso diretor-executivo Thiago Telles, que nos abriu muitas portas no arquipélago.
Como funciona essa parceria com Fernando de Noronha?
Pensei que não poderíamos ficar só no Rio Grande do Sul, senão morreríamos na praia. Vejo que a galera que fica só por aqui não vai muito longe. Conheci o Thiago em Natal, e ele tinha um sushi lá em Noronha. Na época, queríamos deixar uma prancha decorativa para o restaurante dele e acabamos fazendo uma também para o Caia Souza, presidente da associação local. A partir daí, várias portas foram se abrindo… Realizamos viagens, ações sociais e ajudamos os principais surfistas de lá com uma prancha para cada. O Nego Noronha se apaixonou pela prancha e hoje temos uma parceria bem legal com ele, que veio prestigiar a nossa inauguração.
Quando surgiu a ideia de criar o Castelo da Oric?
As coisas foram dando certo, mas ainda estávamos com uma fábrica ‘”fundo de garagem” e precisávamos terceirizar alguns processos. Também comecei a ver algumas bagunças que impediam o negócio de evoluir. Foi aí que surgiu a oportunidade de vir para essa casa, que pertence a minha família há muitos anos, e eles cederam o espaço. Hoje tenho um contrato e pagamos um aluguel que deixa todo mundo satisfeito. Mas, como é família, isso ajudou muito o processo.
Esse castelo também é um patrimônio histórico de Porto Alegre, é uma casa alemã com mais de 70 anos. Não podemos mexer na fachada, mas reformulamos todo o interior. Hoje existe a fábrica lá embaixo e 100% do processo de fabricação é feito aqui. O Castelo também será uma casa dos atletas, eles podem vir a hora que quiserem.
E será aberto ao público?
Sim, claro. Essa casa é muito conhecida na zona sul. Tem gente que sonha em entrar aqui, tem história. Então é um ponto de encontro para celebrar esse lifestyle do surfe. Fica em frente ao Rio Guaíba, de cara para um pôr do sol maravilhoso e com um monte de verde em volta. Queremos transformar esse espaço em um ponto de encontro. Tem a fábrica no andar de baixo, o showroom – que ainda não esta 100% pronto – e pretendemos em breve ter um café, um estúdio de tatuagem e uma barbearia aqui dentro.
Como foi a inauguração?
Essa inauguração foi para dar o “start” de que realmente começamos. Já estamos produzindo a todo vapor desde pranchinhas, até longboards, passando pelos SUPs e pranchas de kite também. Estamos com uma parceria bem interessante com o Sava Clube, que fica em frente ao Castelo, na beira do Guaíba. Vamos ter aulas de SUP ali com exclusividade de pranchas da Oric.
Quais são os próximos passos?
Temos alguns projetos em mente para 2018. Vamos fazer um catálogo de pranchas, que ainda não temos, para organizar algumas coisas, e também já planejamos duas viagens. Uma delas é para Cuba, onde vamos incentivar o surfe local. Já estivemos por lá, e é um país com enorme tradição no esporte, mas que ainda não valoriza o surfe como deveria. Temos um atleta lá dentro, o Gaston Pomares, que além do surfe também pratica o kite. Ele tem o projeto de uma escolinha e vamos levar material de shape e pranchas para apoiá-lo.
Gaston é local de Jaimanitas e tem uma história bem interessante. Quando chegamos a Cuba, queríamos ir para essa praia e não conseguimos, porque o único acesso é pelo clube do governo. Foi bem complicado, mas conseguimos entrar. Além disso, temos um funcionário cubano aqui na fábrica e que não vê a família há mais de dez anos. Ele nos abriu algumas portas por lá e irá junto nesta viagem. Pretendemos contar essa história também.
Já no segundo semestre, vamos levar o Zulu e mais três surfistas locais de Fernando de Noronha para a Indonésia. Fora o Zulu, ninguém conhece a Indo, então vai ser uma viagem bem especial para o Caia Souza, Nego Noronha e um surfista da nova geração local de apenas 19 anos.
Qual é o conceito da Oric e por que a marca vem crescendo tão rápido?
Queremos que uma marca brasileira seja respeitada como uma marca do exterior. Temos mão de obra muito boa aqui, então o que faltava? Organização, falta de comprometimento, falta de qualidade nos materiais, humildade e responsabilidade. Vi que isso tinha que mudar. Fomos nos adaptando e hoje estamos aqui, crescendo.
O surfe é um esporte difícil, eu mesmo estou voltando a surfar só agora. Mas estou aqui na Oric para mostrar às pessoas que é possível recomeçar com mais de 30 anos, ter filho e esposa e continuar surfando. Temos um slogan que é “O surfe é para todos”, e é isso que a gente preza. O cara mais velho pode surfar e um exemplo disso é o Paulo Zulu, que tem 54 anos e surfa como um menino. Então isso é um lance muito importante para a Oric.