No final da década de 1980, o shaper catarinense Mario Ferminio trouxe a tecnologia epóxi ao Brasil e desde então produziu mais de 10 mil pranchas com a resina conhecida pela resistência.
Em 2012, ele decidiu abandonar o processo ao descobrir os perigos da resina epóxi aos oceanos, passando a criar produtos ecologicamente corretos. “Ninguém fala muito sobre isso, mas o epóxi contém a substância Bisfenol A (BPA), química presente em produtos como garrafas PET e que esteriliza os oceanos”, revela o shaper.
Ele parou de fazer pranchas e começou a desenvolver objetos gerados a partir do lixo da produção de shapes. Sempre buscando novas soluções, há dois anos Ferminio encontrou uma saída em uma resina vegetal proveniente da mamona.
Era a deixa que o catarinense precisava para voltar a shapear. “Ela já era usada para outras finalidades, mas não em pranchas. Quando comecei a fazer testes, encontrei muitos problemas, até chegar ao produto que tenho hoje”, conta Ferminio.
A produção das primeiras pranchas está sendo feita em um galpão na cidade de Tubarão, onde o shaper reside.
Através das páginas Folha by Ferminio, no Facebook e Instagram, é possível acompanhar os últimos trabalhos do catarinense.
Na entrevista abaixo, Mario Ferminio fala mais sobre o produto.
Do que é feita essa resina vegetal?
Ela vem da Mamona, e já é um produto comprovadamente ecológico, não tem cheiro, não contém solventes nem aditivos químicos.
Como você conseguiu chegar neste resultado?
Por causa do meu know-how em epóxi, pois foram mais de 10 mil pranchas produzidas. Isso ajudou muito mas, veja bem, a resina de mamona não pode ser aplicada em qualquer bloco. Achei um conjunto de materiais que possibilitam isso. Minha insistência e um pouco de sorte me ajudou muito também, afinal estou quase há dois anos 100% focado nesse projeto.
O valor de custo aumenta?
O valor da resina não. Estou aplicando um tecido a mais se comparado às pranchas epóxi, mas ela fica dentro do custo. Só o processo de laminação que muda.
O resultado é o mesmo em performance?
Sim, o mesmo. Fiz uma prancha para um ex-profissional há uns meses, ele não sentiu nada diferente. Eu particularmente achei ela muito parecida com PU (poliuterano). Ela fica mais grudada na água. Além disso, é muita emoção você conseguir surfar sabendo que tem um matéria-prima orgânica, da natureza. Acredito ter achado um mix entre as poliéster e epóxi.
Porque mais shapers não se interessam pelo produto?
Pois é, há alguns meses, quando já tinha finalizado algumas pranchas e comprovado sua eficácia, contactei os principais shapers do Brasil, que hoje fazem as pranchas dos atletas da WSL, pois realmente precisamos nos unir para tirar a prancha de surfe de sua amarga posição de produto poluidor.
Mas não houve interesse, acredito que quando se está por cima, não se dá valor à natureza, mas sinceramente não estou preocupado com isso, o mercado vai obrigá-los a aderir, isso eu não tenho dúvidas. Até a WSL, que antes parecia não ligar, hoje está comprometida e lançou um programa de ecologia.
Qual é o seu objetivo com essa nova tecnologia?
A minha ideia é expandi-la para todos os estados e pelo mundo. Não quero o monopólio dessa tecnologia. Iremos ser o primeiro país no planeta a começar essa mudança. Tão importante quanto ter ótimos surfistas e shapers, é termos equipamentos que não poluem. Vou abrir a primeira companhia de laminação com resina vegetal no mundo, e vai ser em Florianópolis. Todos os shapers da ilha vão se beneficiar com essa tecnologia. O shaper local João Schlickmann é o meu embaixador neste projeto.