Recordista mundial de ondas gigantes, o big rider alemão Sebastian Steudtner segue buscando novos desafios. O surfista de 30 anos vem desenvolvendo um projeto como parte de sua parceria com a Porsche no qual seu objetivo elevar o surfe a um novo patamar em termos de velocidade e tecnologia.
Essa não é a primeira vez em que um grande player do mercado automobilístico entra em cena buscando marketing de conteúdo e tecnologias que proporcionem interseção entre o almejado mercado de surfe e seus simpatizantes. A Mercedes Benz mantém Garret Macnamara em seu time e também já desenvolveu uma prancha para o havaiano. Todavia, a Porsche subiu alguns degraus nessa direção como você poderá conferir na matéria abaixo.
No laboratório da Porsche a cena
Focado, Sebastian Steudtner olha para a frente enquanto fica em pé em sua prancha. Um vento forte está batendo em seu rosto. Ele usa a perna direita para corrigir sua postura, e seu braço esquerdo move-se para a frente, quase como se estivesse repelindo uma onda que se aproxima.
“Obrigado, agora temos tudo o que precisamos”, diz uma voz de repente.
O vento diminui, Steudtner se endireita e uma luz ilumina a cena. O recordista mundial de surfe em ondas gigantes não estava pegando ondas no Atlântico, mas sim em pé em sua prancha no túnel de vento da Porsche em Weissach, na Alemanha. A cena resume o nível de tecnologia e comprometimento envolvidos no projeto.
Na ocasião, uma equipe de engenheiros liderada por Marcus Schmelz, Marcel Straub e Dr. Jin Gong estava trabalhando em um projeto ambicioso: otimizar o equipamento de Steudtner (prancha), bem como sua postura. O objetivo é melhorar ainda mais seu desempenho no que concerne à velocidade.
“Estamos unindo nossa experiência em otimização de fluxo e estrutura com a experiência prática de um surfista de renome mundial para criar uma prancha otimizada para surfar ondas particularmente grandes”, diz o gerente de projeto Schmelz.
De acordo com as aferições feitas pela Porsche, Steudtner atinge atualmente velocidades de 70 a 80 km/h, mas há parâmetros que indicam que essa velocidade pode aumentar. Nesse sentido, a equipe da Porsche Engineering foca em duas áreas: hidrodinâmica e aerodinâmica.
“Melhorar a aerodinâmica envolve descobrir como modificar a posição do surfista na prancha para obter uma redução perceptível na resistência do ar. Já a hidrodinâmica envolve a redução da pressão e da resistência da fricção da água – por meio da posição das quilhas, por exemplo – e o uso de revestimentos especiais para a prancha”, explica Steudtner.
“Tudo o que está no ar, estudamos no túnel de vento. Tudo na água, analisamos usando uma simulação de fluxo”, completa Gong. Para os testes no túnel de vento, foi construída uma estrutura especial para simular a posição da prancha em uma onda.
Recursos especiais, como correntes laterais, puderam ser recriados com a ajuda de um ventilador.
“Realizamos testes com o corpo em diferentes posições em duas séries de testes e também examinamos otimizações feitas no equipamento, como o uso de um aerofólio. O potencial e a reprodutibilidade foram confirmados”, afirma Gong.
Melhoria de 17%
Alterações na postura de Steudtner permitiram alcançar uma redução significativa na resistência do ar. Com essas adaptações no posicionamento dos braços, cabeça, tronco e pernas, os engenheiros conseguiram uma redução na resistência do vento de quase 17 por cento. Em um display na própria prancha o surfista pôde ver como a resistência do vento mudava cada vez que ele mudava de posição.
“Foi fascinante ver quanto potencial inexplorado ainda existe, especialmente ao fazer melhorias aerodinâmicas”, diz Steudtner.
No geral, os engenheiros estimam que o potencial de redução em termos de arrasto aerodinâmico totaliza até 25%.
“Esse é um valor muito alto. Na construção de veículos, normalmente falamos de três a quatro por cento”, diz Straub.
Além dos 17% obtidos pela otimização da postura do surfista, mais 4% podem ser alcançados por meio de medidas como um capacete otimizado. E a prancha de surfe também oferece muito potencial de melhoria.
“Neste caso, conseguimos melhorar o arrasto em mais 4% adicionando uma tampa à parte frontal, tanto em um fluxo reto quanto com ventos cruzados”, explica Straub.
Isso é comparável, segundo ele, ao efeito dos perfis das rodas na parte inferior de um veículo.
“Em ambos os casos, trata-se de otimizar o rastro e melhorar o fluxo”, continua Straub.
E a ideia de um “spoiler no bico” da prancha também é baseada em insights do desenvolvimento de veículos.
“Ao criar uma borda de separação definida no bico, podemos fazer melhorias na área de rastro. Isso pode ser comparado às bordas de separação na parte traseira do veículo, como as abas das colunas C no Taycan Cross Turismo”, diz Straub.
“Criamos um modelo cinemático como base para cálculos para o teste de túnel de vento, sendo este um modelo físico para descrever o sistema aerodinâmico e hidrodinâmico no surfe de ondas gigantes”, explica Gong.
A base para isso é que, quando o surfista entra na onda, apenas parte da energia potencial disponível pode ser convertida em velocidade devido às perdas causadas pela resistência do ar e da água.
“Nosso modelo cinemático nos permite analisar a influência de diferentes componentes. Ele fornece a base para deduzir que a otimização da resistência do ar e da água desempenha um papel crucial ao surfar uma onda gigante”, diz Gong.
A otimização do sistema completo da prancha de Sebastian resultou em uma resistência significativamente reduzida, o que, por sua vez, agora poderia possibilitar velocidades de surfe de até 100 km/h.
“Para reduzir a resistência e estabilizar a prancha, acessórios patenteados conhecidos como aerofólios foram adicionados na frente e atrás da prancha”, explica Marcus Schmelz, Gerente de Projeto na Porsche Engineering.
“Conhecemos esse princípio de automóveis: aqui também, bordas de separação são definidas, por exemplo, por meio do uso de aerofólios. Elas reduzem a turbulência do ar, tornando o carro mais estável e aerodinâmico em altas velocidades.”
Nota da Redação: Sabemos que em se tratando de ondas grandes, velocidade é fundamental. Todavia, vamos seguir acompanhando as tendências tecnológicas para saber o que é pirotecnia e o que é realmente funcional. A conferir.
Fonte Porsche News Room