São Paulo

90 juízes capacitados

Evento capacita 90 juízes e recebe alguns dos principais nomes do surfe brasileiro em rodas de conversas e palestras.

0

Com o surfe brasileiro conquistando o lugar mais alto do pódio em campeonatos ao redor do mundo, o esporte vive uma fase de crescimento e qualificação. Na primeira edição, o Fórum Paulista de Surf encerrou os três dias de evento com a formação profissional de 90 juízes de diversos estados, que agora vão colaborar com o desenvolvimento do esporte nos campeonatos pelo país. Durante o encontro, participantes e convidados ressaltaram a importância da profissionalização e evolução do esporte.

“Os participantes foram indicados por associações e federações de surf de diversos estados brasileiros. Ao todo, foram 90 novos juízes que, a partir de agora, estão capacitados e à disposição para participar do quadro dos quase 30 campeonatos que estimamos que ocorram todo final de semana pelo país. Contar com este tipo de qualificação é essencial na formação de novos campeões, uma vez que profissionaliza muito a parte técnica do surfe no Brasil”, comemora Marco Ferragina, um dos idealizadores do projeto.

O diretor técnico da Confederação Brasileira de Surf e presidente da Associação Santos de Surf, Marco Rabellé, explicou que o evento vai ajudar a fortalecer o esporte. “Essa aglutinação de conhecimento é muito positiva para o surf brasileiro como um todo e não é toda hora que a gente consegue realizar este tipo de curso. Por isso mesmo, traz um engrandecimento para quem pratica o esporte e para os diversos setores que envolvem o surfe”, comenta.

São Paulo: a capital não-litorânea do surfe

O evento, realizado na câmara municipal de São Paulo, recebeu o apoio do vereador George Hato, que ressaltou a importância do investimento no desenvolvimento do esporte na capital paulista, que não conta com praias. “São Paulo é a cidade não litorânea com a maior quantidade de surfistas do mundo. Por isso, abrir as portas da câmara municipal para os surfistas é uma grande honra. Hoje, recebemos esportistas, palestrantes, árbitros, pessoas que fomentam o esporte, com o intuito de ouvir as demandas, conversar e ver no que conseguimos colaborar”, ressaltou.

Para o coordenador geral do curso “ISA – Juiz Nível 1” e árbitro chefe da ISA, WSL South America e CBSurf, Sérgio Gadelha, o envolvimento do poder legislativo é essencial para o futuro do surfe. “Essa iniciativa possibilitou que, pela primeira vez na história, pudéssemos formar um número grande de árbitros”, comenta. Ao todo, foram disponibilizadas 50 vagas presenciais e 40 vagas online para possibilitar a participação de profissionais de todo Brasil.

A própria International Surfing Association (ISA) ficou impressionada com a quantidade de árbitros que foram formados durante o evento, em seu discurso na abertura do evento, Alex Reynolds (Diretor de Parcerias ISA) e Erik Krammer (Diretor Tecnico ISA), confirmaram que se tratava do “maior evento de capacitação de árbitros de surfe não apenas no Brasil, mas na história do surfe mundial”.

Na prática, os participantes saíram das aulas com uma base sólida e atualizada para fazer justiça na hora de julgar as manobras no mar. “O curso foi muito construtivo para uma carreira de arbitragem, com uma total atenção dos palestrantes envolvidos. Conversado de forma clara, os novos critérios do mundo do surfe, a variedade de manobras, regras e a cobrança desejada nas competições entre cada categoria – surfe, supwave, longboard, bodyboard e surfe adaptado”, apontou Luiz Gustavo Araújo Carneiro Ferreira, árbitro da Associação de Surf de Itacaré, na Bahia, um dos participantes da formação.

Informação e debates sobre o esporte

No último dia de evento, o Fórum recebeu importantes nomes do esporte para trocar experiências e responder perguntas do público. Evandro Abreu, criador da case Super Surf, iniciou a programação com uma aula sobre o “Mercado e Patrocínio Esportivo”. A palestra evidenciou a relação entre o surf e a educação, mostrando a importância de atrair investimentos e patrocínios que fortaleçam ainda mais projetos nesse sentido.

Já para a mesa “Mídia e Jornalismo Especializado”, o evento recebeu um dos grandes nomes da área: o jornalista Bruno Bocayuva, que nasceu e cresceu “pegando onda”, e encontrou no jornalismo uma maneira de mostrar ao mundo a beleza do esporte. “Nos bastidores do surf com a mídia, desde campeonatos até os treinos, podemos resumir tudo em uma palavra: coletividade. O surfe no Brasil está crescendo para quebrar os estereótipos de que não é mais um esporte somente para elite, mas para todos”, conta.

No debate sobre o “Papel do treinador no desenvolvimento de talentos”, o convidado Pedro Souza reafirmou que o talento não é feito do acaso. Assim, é necessário dedicação e um ambiente favorável para desenvolvimento da prática. “A periodicidade de campeonatos e treinos vai além da capacidade do treinador. De modo geral, o atleta precisa trabalhar para a capacitação física, exige treinamentos durante as viagens e cabe ao treinador estar preparado para saber o que pode ser entregue ao atleta”, detalha.

Já o também treinador Paulo Kid complementou as palavras do colega explicando que o treinador deve conhecer o tempo de cada um dos seus surfistas e qual campeonato deve incentivá-lo a fazer parte. “A minha transição de atleta para técnico se deu a partir da observação das técnicas que cada treinador utilizava para desenvolver os esportistas. A partir deste aprendizado, me envolvi com escolinhas de surf e acabei mudando de posto, foi algo de forma natural”.

Com o alto nível dos atletas, o bate-papo sobre “Preparação Física e Condicionamento para competições” contou com a experiência do especialista Marcus Vinicius, que deu dicas sobre como desenvolver a força e habilidade que o esporte exige. “O preparador físico tem que levar tudo em consideração, desde as características naturais do surfista até as estruturais, como o equipamento de surfe. Assim, a tarefa é trabalhar as características coordenativas e físicas dos esportes, ter um certo equilíbrio, e analisar as capacidades de cada atleta”, explicou.

Um dos idealizadores do primeiro trabalho científico sobre surfe, o professor e mestre em Educação Física, Flávio Ascânio, que analisou surfistas brasileiros comparando com o público geral não praticante do esporte, contou que os resultados comprovam que o surfe ajuda na parte cardiorrespiratória dos praticantes do esporte com grandes garantias à saúde a longo prazo – ou seja, surfar faz bem.

O desenvolvimento do surfe feminino

Finalizando o dia, o “Surf Feminino” foi tema de uma mesa redonda que contou com Deolanda Vaz, criadora da Associação Brasileira de Surf Feminino (ABSF). Mãe de surfista, a diretora identificou a necessidade de uma associação para as mulheres no Brasil e graças a essa iniciativa em 2001 realizaram o primeiro campeonato com divisão de categorias do Brasil, o ‘World Wave’, No entanto, a trajetória não foi fácil: “Falavam: quem é essa mulher? Quem ela pensa que é? Ela só é mãe de surfista. Mas, graças às meninas do surf eu não desisti e estamos com grandes planos para o surf feminino em 2023”, garante.

Já a fundadora da Associação de Surf Feminino (ASF), Ana Carolina Moura, contou que, apesar de recente e ainda sem verbas, o foco da organização é possibilitar que meninas da periferia tenham oportunidade no esporte. “Fizemos poucos eventos porque é difícil encontrar meninas que queiram começar agora, depois de anos de dificuldades. Por isso, tentamos buscar e chamar atenção das meninas para o surfe”, relata.

Nesse sentido, Debora Gesualdo, idealizadora do coletivo Longarinas, criou o grupo para, além de surfar, incentivar outras mulheres a buscarem o esporte. “Sinto essa dificuldade de ver meninas se inscreverem nos campeonatos e acho que envolve outras questões, como anseio e medo. Acredito que se juntarmos as meninas, podemos fazer volume na água, se ajudando, trocando experiências e dando voz às mulheres”, opina.

A fundadora da APGSF, Priscila Dias, contou sobre a realidade da Praia Grande, no litoral paulista. “Nós identificamos essa dificuldade de ter uma base sólida, muitas vezes por falta de patrocínio e incentivo familiar. Por isso, estamos com um projeto para 2023, uma ação de capacitação de novos talentos para ajudar e incentivar novas surfistas”, detalha.

Uma das principais vozes do surfe feminino no Ceará e criadora do Surf Lands, Joana Meirelles, conta que o grupo surgiu no WhatsApp cujo objetivo era combinar caronas e companhias de surfe. Contudo, o coletivo foi crescendo e se tornou um importante meio para o desenvolvimento do esporte, que ainda enfrenta resistência dos patrocinadores. “No começo ficamos um ano sem patrocínio para campeonatos regionais e após um acidente trágico envolvendo com uma das surfistas, houve a visibilidade dos órgãos públicos. Hoje, lutamos para que os patrocinadores nos vejam como iguais”, conta.

Entre outras participantes de diferentes organizações de surfe feminino que compartilharam depoimentos e projetos para o fortalecimento do esporte, a ex-atleta Alice Santos, que surfou durante 13 anos, ressaltou a importância do Fórum Paulista de Surf e da formação de mulheres juízas. Com isso, o evento chegou ao final com um horizonte de mais profissionalização e igualdade no esporte e a promessa de uma nova geração de campeões, consolidando uma tradição vitoriosa para o surf brasileiro. Destaque também para Nathália Nascimento, presidente da Associação de Surf da Grande São Paulo, entidade responsável pela realização do Circuito Municipal de Surf de São Paulo (conhecido como SP Contest) pelos últimos 20 anos.

Para finalizar a primeira edição do Fórum Paulista de Surf, subiram à tribuna o vereador George Hato e os secretários municipais de esporte das cidades de São Paulo (Cacá Vianna), Bertioga (Danilo Lerne) e Praia Grande (Rodrigo Santana “Rodrigão”). Todos enalteceram o papel do esporte na sociedade e agradeceram a presença de todos os surfistas presentes na Câmara Municipal de São Paulo.

O Fórum Paulista de Surf tem homologação da International Surfing Association – ISA, supervisão da Confederação Brasileira de Surf – CBSurf e idealização da Associação Santos de Surf (ASS), Associação Bertioguense de Surf (ABS), Associação de Surf da Grande São Paulo (ASGSP). A realização é da Prefeitura de São Paulo, através da Secretaria Municipal de Esportes.