A combinação de chuva e mar agitado no litoral de Santa Catarina no último final de semana aumentou a apreensão dos moradores que há semanas sofrem com um processo de erosão em parte da orla da Praia do Morro das Pedras, em Florianópolis.
Anteontem (8) a Defesa Civil do município contabilizou 14 propriedades atingidas pela ressaca do mar. As 11 interdições incluem três casas com risco de desabamento, além de deques, áreas de lazer, edículas, ambientes de piscina, muros, escadas e rampas de acesso.
A situação tem gerado medo e desespero nos moradores locais, conforme contou ao UOL o empresário Íon Araújo Sant’Anna, 38. Ele possui uma área de camping na região e tenta ajudar a preservar a casa da mãe dele, Clara, 61, que já teve cerca de dez metros do terreno invadido pelo mar.
“Quando o mar está um pouco mais forte, as ondas batem e a casa chega a tremer, mas minha mãe não tem para onde ir e não quer sair da casa em que mora há 42 anos. Há dois dias vi ela desmaiar na minha frente devido ao estresse”, conta.
Os moradores pouco podem fazer para conter a erosão. Uma das alternativas tem sido encher sacos de areia, na tentativa de amenizar o impacto da água sobre os terrenos.
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“Está todo mundo desesperado, com calos nas mãos e machucados nos pés por estarem trabalhando e passando por cima de entulhos como restos de árvores, muros caídos e ferragens, para encher essas bags [sacos com areia]. Mas não tem como conter o mar com saco e paliçada [barreira defensiva feita com estacas]. As casas estão prestes a cair”, alerta Íon.
“Na casa da minha mãe, eu estava sozinho e comecei a encher os sacos de contenção com ondas batendo na altura da minha cintura. Esperava a onda sair para conseguir colocar areia e começou a dar vontade de chorar porque estava sozinho tentando defender a casa da minha mãe e precisava sair dali, enquanto o poder público dizia que não tinha o que fazer por conta de questões ambientais”, lamenta o empresário.
Pedro Lima dos Santos, 64, mantém um quiosque de veraneio com a família e retirou a estrutura pouco antes do mar avançar sobre a areia. Segundo ele, não é a primeira vez que a ressaca provoca prejuízo à vizinhança, mas nunca ocorreu de maneira tão severa.
“Desde 2004, trabalhamos nesse ponto durante o verão, mas nunca estive numa situação como a que estamos enfrentando hoje. Se nossa barraca estivesse ali, não teria sobrado nada. É triste ver tudo sendo interditado e meus vizinhos praticamente perdendo tudo”, afirma o morador.
Justiça dá prazo para a Prefeitura
O casal Cinthia Sens e Fabrício Prichoa já gastou cerca de R$ 20 mil para proteger sua casa.
“Não conseguimos dormir devido ao medo e ao forte barulho das ondas, que, quando batem nos terrenos, fazem as casas tremerem. Hoje vivemos um mix de sentimentos, porque não fomos prevenidos para tomar precauções”, diz Cinthia.
Eles e outros vizinhos entraram com uma Ação Civil Pública para que a prefeitura se responsabilize pela população nas áreas de risco. O desembargador Rogério Favreto, do TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região), acolheu o pedido em 5 de junho.
Na decisão, determina que o município de Florianópolis, no prazo de dez dias, adote providências para garantir a segurança dos habitantes e frequentadores do Morro das Pedras e “proceda à instalação de estruturas capazes de impedir o desabamento do imóvel citado na petição, sob pena de multa diária de R$ 1.000 (mil reais) por dia de atraso”.
De acordo com Alexandre Vieira, gerente de Operação e Assistência na Defesa Civil de Florianópolis, o município ainda não foi notificado.
Ciclone extratropical e maré alta
Segundo a pasta, desde o dia 3 de abril a orla do Morro das Pedras é monitorada devido à passagem de um ciclone extratropical. “A influência deste ciclone, somada a maré alta e o mar agitado, ocasionaram a erosão marinha nesse ponto da praia”, afirma.
A Defesa Civil solicitou que fossem retirados móveis e pessoas dessas casas comprometidas. Também foi colocado vagas em um hotel pago pela prefeitura, mas, segundo ele, os moradores não aceitaram a proposta e preferiram ficar abrigados na casa de parentes e amigos.
A prefeitura afirma que o local é área de preservação ambiental e marinha e que é necessária autorização dos órgãos ambientais para qualquer modificação.
“No momento, está proibida a colocação de qualquer estrutura sobre a área da praia para não acarretar em crime ambiental, isso inclui a colocação de pedras, enrocamento, muros de contenção, cortina de concreto e outros.”.
A Defesa Civil diz que vai continuar monitorando a área e que, devido à previsão de chuva e mar agitado até esta quinta, existe chance de as ondas chegarem a 2,5 metros de altura.
Fonte UOL