Entre os dias 2 e 5 de novembro, o Instituto Brasileiro de Surf (Ibrasuf) em parceria com a Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático (Sobrasa) e a International Surfing Association (ISA) reuniu participantes de todo o Brasil na praia de Itamambuca, Ubatuba (SP).
A razão do encontro foi uma imersão ao mundo do surfe e SUP iniciada com a 21ª edição do Curso de Formação e Atualização para Instrutores de Surf e SUP, ministrados por Alexandre Zeni (Ibrasurf), Dr. David Szpilman (Sobrasa) e com a presença dos convidados Eduardo da Silveira (Escola Surfistas Para Sempre), Dr. Marcelo Baboghluian (Instituto Marazul), Thiago Marques (Surf Educa) e Robson “Careca” (Surfe e SUP Adaptado).
Por que o surfe “vive” seu melhor momento, talvez, em toda a história da modalidade? O que te faz um bom professor de surfe? Como manter a sua segurança e a de seus alunos na água? Quais são os melhores equipamentos? Por que devemos olhar para o surfe adaptado? Enfim, muito conteúdo sobre mercado, segurança, profissionalização, ética, legislação, saúde e bem-estar marcou o encontro na icônica praia de Itamambuca.
Porém, se você busca um curso que simplesmente te ensine a dar aulas de surfe e/ou SUP, aconselho, antes de mais nada, que você pare essa leitura. Sobretudo desista da ideia de se inscrever em qualquer curso oferecido pelo Ibrasurf. Entretanto, se além de ensinar alguém como surfar você deseja um banho de entusiasmo, motivação, energia positiva e uma avalanche de orgulho pelo surfe, aí sim: mergulhe de cabeça!
Certamente, a maior “lição” deste curso não foi entender técnicas que fazem com que um aluno ou aluna suba na prancha de surfe. Nem descobrir que de cada quatro pessoas que tentam realizar um salvamento sem preparo, três se afogam. Muito menos que as estatísticas mostram que homens se afogam seis vezes mais que mulheres. Mas, a grande vantagem foi conhecer o poder do compartilhamento, constatar que, de fato, é preciso quebrar muros para construir pontes. Unir para transformar, compartilhar para fortalecer.
Sobretudo, foi surpreendente a forma com que os palestrantes Alexandre Zeni e Dr. David Szpilman, que junto com a equipe da Sobrasa, ministrou o treinamento “Surf Salva”, comandaram o show. Sim, aquilo não foi um curso. De Zeni ouvimos relatos de um surfista inveterado, que luta desde o início da criação do Instituto pela educação por meio do surfe.
Frases como “Vocês precisam ser os melhores, de professores ruins as escolinhas estão cheias”; “Precisam conhecer a história do surfe, saber quem foi Duke Kahanamoku”; “Ensinar a subir em uma prancha qualquer um ensina, é preciso fazer a diferença na vida das pessoas”.
Além de compartilhar sua experiência à frente do Ibrasurf (Instituto Brasileiro de Surf) a pelo menos 20 anos e ser o fundador de uma escola-modelo na Riviera, inaugurada em 1997, o surfista evidenciou extrema humildade ao abrir a todo instante o debate com demais participantes. Desse modo, tornando a experiência ainda mais valiosa.
São Paulo, Santa Catarina, Bahia, Rio de Janeiro, Mato Grosso, Espírito Santo, Paraná, Pernambuco, Mato Grosso e Rio Grande do Sul. Dez estados, 75 participantes reunidos em nome do desejo de trabalhar com surfe. Ou simplesmente adquirir conhecimento.
Apesar da pluralidade geográfica, alguns detalhes foram comuns à maioria dos inscritos. Frases como “abandonei tudo em nome do surfe”, ou “amo o surfe” foram ouvidas com frequência ao longo do encontro. Professores, donos de escola, educadores físicos, advogados, ex-surfistas profissionais, mães, empreendedoras. Universos vastos quando se tratava da ocupação dos alunos.
Surfista há três anos, Denis Silva veio de Porto de Galinhas para o curso. “Surfo há pouco tempo, mas não consigo me imaginar fora d’água”, conta o pernambucano que já dá aulas de surfe e enriqueceu o debate quando o assunto foi regulamentação de escolas. Já o ex-surfista profissional, Ricardo Lange sonha dar aulas e com o retorno às competições. Mas, por enquanto, divide suas horas entre bate-voltas à Guarujá e horas no volante de carro. Isso porque Lange trabalha hoje como Uber na região de Congonhas, São Paulo. “É perto do Aeroporto, já tô me preparando para quem sabe zarpar para algum lugar mais perto do mar”, diz Ricardo.
Apesar de muita experiência, alguns donos de escolas de surfe inclusive, casos como dois educadores de Curitiba e um advogado de Cuiabá chamaram a atenção. “Dou aula de surfe em academia, dentro da piscina”, disse o professor da capital paranaense. Já o advogado do Mato Grosso estava pensando na possibilidade de abrir uma escola de SUP. “Nunca surfei”.
Sobre a Certificação Internacional
A emoção permaneceu durante os quatro dias desta imersão de conhecimento. O curso apresentado pela International Surfing Association trouxe ainda novos olhares sobre a modalidade. Além disso, ressaltou a importância de um profissional completo, que precisa sim estar atento a tudo em sua volta, desde desenvolver uma comunicação eficaz com o aluno até ter uma boa prática da gestão de risco. Para isso, o curso de certificação internacional avaliou seus inscritos em diversos quesitos exigidos pela ISA.
Ao término do último dia, em uma Itamambuca vazia e com altas ondas, o time de profissionais emanou o verdadeiro espírito do surf: gratidão, alegria, conexão, amor… Sentimentos à tona em um grupo, que apesar das diferentes origens, nesses quatro dias se tornaram uma grande família. Todos juntos em prol do nosso esporte!
Muito além de ensinar como dar aulas de Surf e SUP, esses dias foram uma baita injeção de ânimo e motivação.