RIP, Alberto Sodré

Lembranças do Cação

Amigos e familiares prestam homenagem ao fotógrafo Alberto Sodré (1960-2021), o eterno Cação.

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David Husadel e Alberto Sodré (à dir.) no histórico Mormaii 88 na Praia do Silveira.

No último sábado (30), o surfe despediu-se de Alberto Sodré (1960-2021), o querido Cação, um dos pioneiros da fotografia de surfe no Brasil e responsável por eternizar a evolução do esporte nos anos 1980.

Precursor na utilização de caixas-estanque para fotos de dentro d’água, Beto Sodré foi colaborador da revista Fluir, do site Waves e de dezenas de publicações especializadas. Ele revolucionou a técnica em imagens de alta velocidade e influenciou toda uma geração de fotógrafos brasileiros.

Dono de um grande coração, Cação também era apaixonado pela natureza, animais e automobilismo. Com a sua agência, Communique Brasil, ele trabalhou como correspondente de revistas internacionais no Japão, EUA e Europa.

Mas foi o surfe que revelou o seu talento para o mundo e sua contribuição para o esporte transcende barreiras. A sua trajetória chegou a ser reconhecida pela ASP (atual WSL), com um prêmio oferecido a profissionais de ponta em reconhecimento à relevância e qualidade de seus trabalhos.

No final dos anos 1990, Sodré afastou-se das ondas para dedicar-se a trabalhos paralelos em agências de publicidade. O seu retorno triunfal ao line-up aconteceu durante o Hang Loose Pro de 2011, em Fernando de Noronha, eternizado no vídeo abaixo.

No último dia 18 de janeiro, Alberto Paiva de Abreu Sodré foi internado às pressas em um hospital do Vale do Paraíba, devido ao rompimento de um grampo, resultado de uma cirurgia bariátrica feita há mais de 10 anos. Ele chegou a apresentar melhora e voltou para a sua casa, em Ubatuba (SP), mas no dia 28 precisou ser encaminhado novamente para a UTI, onde acabou falecendo dois dias depois.

Alberto Sodré deixa a esposa Rebeca, três filhos e a recém-nascida Maria Vitoria, sua amada neta. Descanse em paz, Cação!

Fotos marcantes de Alberto Sodré:

Depoimentos de familiares, amigos e personagens que fizeram parte da trajetória de Cação:

“O grande segredo das fotos do Alberto é que ele tinha fotofobia (sensibilidade à luz). Então, quando ele chegava no lugar, antes de ter a fotofobia, ele tinha aquela explosão de luz por 10 segundos. Isso fazia ele enxergar todos os ângulos, todas as magias, tudo isso numa explosão só. Ele guardava isso na alma e transformava aquilo em lindas fotos”, Rebeca, companheira de Cação nos últimos 12 anos.

“Grande amigo, grande fotógrafo, grande parceiro em inúmeras empreitadas na imprensa do surfe. Importante lembrar que além de fotógrafo Alberto foi um dos grandes nas imagens em movimento. Fez os vídeos dos dois primeiros Hang Loose Pro Contest na Joaquina, com imagens espetaculares de 1986 e 1987. Depois um curta de um dos Hang Loose em Noronha, já nos anos 2000. Recentemente trabalhou com peças publicitárias da indústria náutica ‘de tirar o chapéu’! Alta qualidade, como tudo que fazia com uma seriedade e profissionalismo incríveis. Um dos caras mais criativos que já conheci”, Reinaldo Andraus, o “Dragão”, jornalista.

“Registrou a história através das suas imagens e nos proporcionou vivenciá-las através das páginas das publicações. Valeu, Cacão! Siga na luz!”, Máurio Borges, jornalista.

“Que triste notícia hoje. Descanse em paz irmão. Muita gente que conviveu com o Cação ou viajou com ele deve ter passado o dia triste como eu passei. Hoje fiquei relembrando de tantos momentos intensos e de altas ondas por diversos picos pelo mundo. Foram muitas trips de aventura: Nias, G-Land, Noronha, Havaí (…) as minhas melhores fotos do Havaí são dele. Muita vibe nos anos 80. Ele vai ficar para sempre na memória (…) grande amigo, surfista, fotógrafo e aventureiro. ‘Love U Bruddah”, Taiu Bueno, ex-atleta e legend do surfe brasileiro.

“Um homem que sempre demonstrou coragem e nos incentivou a buscar os limites. Paz e boas ondas”, Diniz Iozzi “Pardhal”, idealizador do Museu do Surf de Santos.

Ronnie Burns em Pipeline: um dos cliques eternos de Sodré.

“Que perda! Eu e Cação dividimos muitas barcas de surfe! Me ensinou a ficar na da série, pois delas saem as melhores fotos! Um verdadeiro profissional como nunca vi antes! Uma energia sem comparação também! E o verdadeiro feeling do surfe corria pelas veias dele! Alberto, vou sentir muita falta das nossas resenhas! Vai em paz irmão!”, Teco Padaratz, ex-Top da elite mundial e bicampeão mundial do QS.

“O verdadeiro mestre! Me chamou para ser seu assistente na revista Hardcore e quando eu ia desistir de trabalhar com surfe e partir para o mercado ‘engravatado’ (me formei em Administração). Me convenceu a ficar, aumentou o salário e me promoveu! Obrigado por isso também! Nas minhas temporadas de Havaí, os maiores nomes da fotografia de surfe, sabendo que eu trabalhava com ele, sempre vinham perguntar por ele, elogiar seu talento e sua atitude. Era reconhecido por isso no mundo todo! Cação, obrigado pelos ensinamentos e amizade! Descanse em paz! Meus sentimentos a família”, James Thisted, fotógrafo.

“Ele surfava pra caramba! Um acidente fora da água acabou o direcionando para o mundo das fotos. Difícil que apareça outro fotógrafo aquático com a porcentagem de fotos publicáveis por filme. Ah, sim, ele veio da época em que usava-se filmes. Aliás, falando em filmes, ele era um super star. Humilde, sem deixar de ser visto. Alegria de qualquer roda, de ricos, de pobres, de surfistas ou de quem nunca viu o mar. Sinceramente gentil e educado. Viajar com ele era sempre uma aventura. Conversar com ele sempre um aprendizado. Cação enxergava além do horizonte, entendia as coisas para lá delas e visualizava o verdadeiro sentido. Seu brilho fará falta no mundo, mas o calor do seu sorriso e a segurança de seu abraço apertado estarão sempre no meu coração. Valeu, meu irmão. Até a próxima viagem”, Edinho Leite, jornalista.

O Havaí foi um dos grandes cenários do fotógrafo no início de carreira.Alberto Sodré
O Havaí foi um dos grandes cenários do fotógrafo no início de carreira.

“Triste notícia, o Cação era um grande fotógrafo, mestre da arte, e só por isso a perda já seria enorme, mas dói ainda mais pelo cara bacana, generoso, cheio de energia positiva que nos deixa cedo demais. Vai fazer muita falta. Que a família consiga superar momento tão difícil. Descanse em paz”, Adrian Kojin, jornalista.

“Meus sinceros sentimentos a todos os amigos e parentes. Cação será lembrado como uma das pessoas mais incríveis como profissional e como pessoa, certamente será recebido no oceano celestial com ondas de amor e acolhimento eterno”, Jojó de Olivença, bicampeão brasileiro e ex-Top da elite mundial.

“Grande mestre, vai com Deus, fico contente de poder ter reconectado com ele há poucas semanas pedindo para compartilhar um pouco da sua carreira com o público na TV. Como sempre ele colocou paixão acima de tudo e sempre feliz em falar de nosso amor em comum:  ‘o mar’. Uma daquelas almas boas que fará falta, Deus conforte os familiares, grande abraço e parabéns amigo, deixou seu legado!”, Sylvio Mancusi, big rider.

Alberto Sodré também rabiscava as suas próprias linhas com maestria.Paul Cohen
Alberto Sodré também rabiscava as suas próprias linhas com maestria.
Fabio Gouveia, Teco Padaratz e Piu Pereira posam para as lentes de Alberto Sodré.
Descanse em paz, Cação.

“Notícia lamentável que chega ao meu conhecimento e me abala demais. Além de colega dos bons tempos da Fluir, Cação era um grande amigo que aprendi a admirar. Nunca vou esquecer do dia do casamento dele com a Fernanda, em Taubaté, numa noite em que ele estava muito emocionado e chegou a chorar de alegria. Carinhoso com os amigos e um leão no trabalho, Cação deixa uma saudade imensa, pois era uma das mentes mais criativas e um dos melhores profissionais da fotografia neste mundinho do surf. Que Deus conforte sua família neste momento e que o leve à luz que ele merece por toda a eternidade. Obrigado, Cação, por tudo que passamos juntos nesta história de revistas de surf, vou sentir falta do meu amigo pelo resto da minha vida. Aloha, brother, vai com Deus!”, Alceu Toledo Junior, o Juninho, jornalista e ex-editor do Waves.

“Um grande ídolo e referência na fotografia, um cara gente boa, talentoso, um dos melhores fotógrafos do mundo. Que Deus ilumine. Meus sentimentos aos familiares e descanse em paz, Cação”, Aleko Stergiou, fotógrafo.

“Hoje perdemos um dos maiores fotógrafos que o Brasil já teve. Eu sinceramente desde garoto fui muito inspirado pelas imagens que o Cação nos presenteou e certamente por causa dele me tornei fotógrafo de surfe! Ele foi diferenciado, sobretudo numa época em que fotos de surfe no Brasil eram raridade! Descanse em Paz, irmão”, Anselmo Venansi, fotógrafo.

“Descanse em paz, meu padrasto por 11 anos. Tinha um coração enorme, cheio de poesia, era muita coisa além da compreensão humana. Fazia as melhores fotos, a melhor ‘chicago pizza’ e me deu um baldinho de praia aos meus 30 anos. Obrigado por tudo!”, Caroline Salzberg, enteada.