No dia 21 de janeiro, a Marinha da Nigéria retirou à força milhares de pessoas de suas residências na pacata região de Tarkwa Bay, em Lagos, dando-lhes menos de uma hora para sair de casa, de acordo com o site ZigZag.
Localizada nos arredores do Porto de Lagos, Tarkwa Bay é uma popular área de surfe e possui ondas de qualidade internacional. Moradores descreveram cenas de pânico quando centenas de militares da Marinha entraram no local.
O epicentro do conflito está no petróleo, já que os despejos fizeram parte de uma solicitação da Companhia Nacional de Petróleo da Nigéria (NNPC) para impedir o roubo de petróleo ao longo dos oleodutos da região.
“Encontrámos pelo menos 300 locais ilegais e poços onde os produtos petrolíferos estavam sendo explorados e vendidos ilegalmente, mesmo para os países vizinhos. Eles têm feito todo o tipo de ilegalidades lá. É perigoso para as pessoas morarem nessas áreas com oleodutos”, disse o comandante da Marinha Thomas Otuji.
Um surfista local, que deseja permanecer anônimo, contou sua versão ao site sul-africano ZigZag. “Há alguns anos, a NNPC tenta controlar os assentamentos na Baía de Tarkwa”, revelou a fonte ouvida pelo site sul-africano.
“A razão por trás disso é o constante vandalismo nos oleodutos que atravessam a área. O oleoduto é constantemente danificado e milhares de litros de combustível são supostamente desperdiçados todos os anos. Isso acontece principalmente no Delta, mas também aqui em Lagos, em certa escala”, conta.
No meio de toda a brutalidade causada pela ação da Marinha em Tarkwa – grande parte das residências foi demolida – a comunidade local de surfe se uniu e manteve uma posição firme, buscando recuperar o lugar.
A associação de surfistas locais fez sua parte e criou uma vaquinha para ajudar a reconstruir o Tarkwa Bay Surf Club, que acabou totalmente destruída.
“A ilha está basicamente deserta, com pouca ou nenhuma comida. Estamos fazendo viagens diárias e levando comida para a comunidade local de crianças, que também são surfistas. As casas coloniais originais foram poupadas e esperamos garantir essas acomodações para as crianças que se recusaram a sair com suas famílias. Temos esperança de estabelecer um acordo com as autoridades locais e tornar Tarkwa nosso porto seguro novamente”, completa a fonte.
A atitude da marinha também foi condenada por organizações de direitos humanos como a Justice & Empowerment Initiative, que defende que as autoridades deveriam ter como alvo as pessoas envolvidas, em vez de despejar famílias inocentes na comunidade, habitadas principalmente por pescadores, surfistas e artesãos.
“A lei não permite a punição coletiva e demolição sumária como medida de segurança. Se houver indivíduos envolvidos nessas atividades, o que a lei exige é que os indivíduos sejam presos e processados por qualquer crime que possam ter cometido”, disse o ONG.
Recentemente, a Vans publicou um vídeo da série Weird Waves que mostra um pouco da cultura e das ondas de Tarkwa Bay antes do conflito.
Tarkwa Bay: