O gaúcho Fabiano Sperotto, um dos organizadores do Festival Lagoa Surfe Arte, é o personagem da série “5 Pra 1”, publicada pelo site Surf & Cult. Sperotto vem se destacando nos últimos anos como cinegrafista e editor de conteúdos ligados ao surfe.
Apaixonado por viagens, ele tem no olhar fotográfico apurado e no jeito simples e tranquilo de ser, algumas das melhores qualidades que se pode querer de um profissional de filmagem e edição.
Assim, sua agenda esteve cheia nos últimos meses, com trabalhos para a Scult Filmes – nas gravações de uma série com Fabio Gouveia no Hawaii –, a edição de episódios da série “Diário das Ilhas”, do Grupo Sal, um perfil do longboarder Phil Rajzman e ainda uma escala no Canadá, onde registrou as geladas ondas de região de Tofino, em Vancouver.
Como começou o seu envolvimento com o surfe e a produção de filmes e em que momento as duas coisas se uniram?
Nasci em Porto Alegre, morei alguns anos na Austrália e um em Garopaba, até chegar em Floripa e não querer mais sair. Sou formado em Educação Física e fiz diversos cursos específicos de Fotografia, Direção de Fotografia, Edição, Color Grading, entre outros.
Meu envolvimento com o surfe começou bem cedo, mas em ondas de água doce (risos). Meus pais tinham uma casa na Barra do Ribeiro, uma cidade quase de frente pra Porto Alegre do outro lado do Rio Guaíba. Desde os 5 anos eu pegava a prancha dos meus irmãos, vinha correndo pela areia, jogava ela na água e subia rápido em cima. Ainda não tinha contato frequente com o mar, mas sempre que ia pra praia tentava brincar com prancha ou bodyboard, até que aos 14 anos ganhei minha primeira prancha e não parei mais de surfar.
Minha relação com a produção de filmes veio da fotografia. Um dos meus irmãos é jornalista e fotógrafo, e por ele ser bem mais velho que eu (16 anos de diferença) acabei aprendendo muita coisa apenas sendo uma criança curiosa observando o irmão mais velho. Quando tinha 15 anos, fiz um curso de fotografia analógica no SENAC (ainda não se usava o formato digital no Brasil) e peguei um estágio como assistente de fotógrafo em agência de modelo, mas nessa época nem pensava em trabalhar com isso, era só pra ter um dinheirinho que pagasse a surf trip do fim de semana.
Depois do colégio, entrei na faculdade de Educação Física, fui morar na Austrália e viajei pra Índia, Nepal e Indonésia, lugares com culturas e paisagens incríveis que fizeram me apaixonar mais ainda pela fotografia.
Voltei pro Brasil pra terminar a faculdade e quando vi já estava trabalhando numa rotina semanal que eu não queria, torcendo pra chegar sexta-feira e poder pegar a estrada em direção ao litoral. Nessa época, um amigo que editava vídeos começou a botar pilha pra eu filmar com ele as nossas surf trips. No mesmo ano, fraturei uma vértebra da cervical e tive que passar por um processo de reabilitação que me deixou um ano parado, sem poder trabalhar nem surfar. O susto foi grande e me fez repensar algumas prioridades. Aproveitei essa espécie de ano sabático forçado pra ir atrás do que eu realmente gostava e recomeçar a vida de uma maneira mais plena.
Me mudei pra Floripa, comecei a estudar sobre Cinema e descobri que unir fotografia, surfe e música é uma das coisas que eu mais amo. Quando fui liberado pelos médicos já estava trabalhando com filme e nunca mais voltei pra Educação Física.
Me conta um pouco sobre os seus últimos trabalhos e como você busca se manter ativo produzindo conteúdo ligado ao surfe?
Em 2017, pude me dedicar quase que 100% na produção de conteúdo ligado ao surfe, e o mais legal é que foram trabalhos bem diferentes um do outro. Em janeiro, recebi o convite para acompanhar o surfista Michael Rodrigues por dois meses durante a perna australiana do QS e os treinos na Indonésia, e foi uma experiência muito legal fazer parte da evolução de um atleta de ponta que está buscando espaço no CT (NR: ao fim da temporada, Michael conseguiu a vaga para a elite em 2018). Voltando a Floripa, filmei as clínicas de surfe do Fábio Gouveia, do Marcelo Trekinho e das surfistas Jacqueline Silva e Chantalla Furlanetto.
Esses trabalhos são muito divertidos porque reúnem surfistas de vários níveis e muitos não têm o costume de se assistir surfando, então acaba sendo muito massa ver a reação e felicidade da galera. Recentemente, produzi um vídeo para a marca Birden em collab com o artista Thiago Thipan. Foi o meu primeiro trabalho ligado à moda e gostei muito de fazer, principalmente porque juntou arte, surf e skate. Meus últimos trabalhos estão sendo para uma série nova do Canal Off com o Fabio Gouveia, que to ajudando na captação das sessões de surfe, na edição e no tratamento de cor dos episódios.
Quando sobra um tempo, pesquiso sobre equipamentos, técnicas e referências. Vou pra rua testar coisas novas, captar o cotidiano em Floripa, free surf em dias bons, paisagens… sempre acaba rendendo conteúdo que pode ser útil em trabalhos futuros ou usado pra portfólio.
Quais as sessões mais memoráveis que você já filmou e por quê?
A sessão mais memorável com certeza foi Desert Point, em 2015. Fui pra Desert a primeira vez em 2008, bem no swell que estavam gravando o filme “The Drifter”, mas tinha afogado minha câmera em G-Land uma semana antes, então passei alguns dias assistindo Rob Machado surfar de cabo a rabo as ondas mais perfeitas que já tinha visto, sem ter uma câmera para registrar aquilo tudo.
Quando voltei, em 2015, ela não tava tão perfeita como na primeira vez. O vento não era o ideal e a maré boa combinava com uma luz contra que atrapalhava muito pra filmar, mesmo assim foi incrível voltar lá e conseguir pôr em prática um pouco do que ficava imaginando depois daqueles dias épicos em 2008. Desse material saiu o clipe “Low Tide Sun High”.
Quais são as suas maiores inspirações no surfe e nas artes?
Os filmes de surfe dos irmãos Malloy não saíam do meu DVD, principalmente “Thicker than Water” e “Shelter”. Depois foram os do Taylor Steele, Joe G e Kai Neville.“Intentio”, do Loic Wirth, foi um dos filmes que mais me surpreendeu e inspirou nos últimos anos. Me amarro na fotografia do Pablo Aguiar e do Marcos Ribas, e assisto todos os vídeos que o Bruno Zanin lança.
Gosto muito de qualquer tipo de fotografia, tanto que sigo mais de mil fotógrafos no Instagram e às vezes me perco ali dentro (risos). Fico observando enquadramento, luz, cores, tratamentos utilizados, acho muito legal o fato de que cada fotógrafo vai ter uma visão diferente do mesmo assunto e podem sair coisas completamente distintas de cada um.
Procurar música também é uma coisa que prende minha atenção. Fico bastante tempo procurando artistas que não conheço no Spotify, além de usar muito o Shazam em qualquer lugar que vou.
Se você tivesse uma verba ilimitada para produzir algum trabalho audiovisual ligado ao surfe, o que você faria?
Tenho alguns filmes, que não são de surfe, que me inspiram muito. Acho que tentaria produzir algo que fizesse a pessoa se sentir totalmente integrada ao que ela está assistindo, como se entrasse numa meditação.
Para isso, viajaria para os lugares mais incríveis do planeta, com os melhores equipamentos e uma equipe muito foda pra captar sons e imagens de alta qualidade.
Convidaria os melhores surfistas locais e alguns de diferentes lugares do mundo. Montaria uma ilha de edição perfeita pro workflow funcionar direitinho.
E, depois de pronto, usaria mais verba pra criar um cinema itinerante que conseguisse ser uma experiência sensorial, trazendo a pessoa pra dentro do filme.
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