“Canudinhos de plástico são banidos pelo governo”. Essa é uma notícia dada por diversos canais de comunicação ao redor do mundo, mas, você sabe o por que dessa nova onda mundial? Será mais um modismo politicamente correto com algum ganho financeiro comercial ou realmente o consumo anda exagerado? A matéria desse mês explica um pouco da relação homem, natureza e plástico; e o motivo de nós, surfistas, sermos os grandes embaixadores dessa causa.
O significado da palavra plástico (grego plastikós) designada a este produto, provém da sua capacidade de “moldabilidade”, de transformar-se em diferentes formas de acordo com as condições físicas impostas ao material, sem que o mesmo se degrade. Porém, essa aparente vantagem de resistência, é a grande causadora dos problemas.
Interagimos com o plástico todos os dias e muitas vezes sem perceber. Ele está em toda parte. Já atingiu o ponto mais profundo dos nossos oceanos; foi encontrado nos picos do mais altos do Himalaia, em ambos os polos e em muitos outros lugares. Afeta a alimentação dos animais marinhos e os expõe a uma variedade de substâncias químicas prejudiciais a saúde.
Os nanoplásticos e microplásticos (partículas muito pequenas) são hoje os grandes vilões a serem estudados. Eles estão presentes em cosméticos, fibras sintéticas em roupas, presente na água e mesmo no ar. Partículas plásticas já foram detectadas em fezes humanas, e seus aditivos foram encontrados no leite materno humano. Comemos, respiramos, bebemos e usamos plástico sem ter uma ideia clara do que isso significa para a nossa saúde.
A pesquisa científica sobre os efeitos potencialmente nocivos dos micros e nanoplásticos no nível celular e de órgãos ainda está engatinhando em todo o mundo. Sabe-se que eles causam danos ao nosso corpo por meio de inflamação, genotoxicidade e estresse oxidativo. A Holanda, a fim de avaliar os efeitos no sistema digestivo, respiratório, imunológico e neurocognitivo está se posicionando como um dos líderes globais neste campo de estudo com os primeiros resultados programados para abril de 2020.
A exposição dietética ao plástico é talvez a via de exposição mais amplamente reconhecida pelo público. A exposição alimentar ocorre pelo consumo de frutos do mar, além de muitos outros. Porém já é sabido que é possível inalar e estudos sugerem absorção cutânea.
Calcula-se que 320 milhões de toneladas de plástico são produzidas todos os anos, a quantidade reciclada é infinitamente menor do que a produzida e cerca de oito toneladas de resíduos dessa origem são despejados no mar anualmente.
A fauna marinha certamente é uma das maiores prejudicadas, os animais confundem o lixo plástico flutuante com alimentos e acabam ingerindo e se asfixiando. Triste realidade para nosso esporte, que muitas vezes, nos encontramos em um lugar paradisíaco com ondas perfeitas cercado por uma sopa de plástico.
Nós surfistas, amantes do mar, através de instituições como a Surfers Against Sewage, Surfing Medicine International, Instituto Guardiãs do Mar e mesmo a WSL, dentre muitas outras, promovem eventos de conscientização desse grande mal que toma conta do cenário praiano.
Em outubro de 2019, acontecerá o Plastic Health Summit em Amsterdam, promovido pela Plastic Soup Foundation, onde estarão reunidos as principais entidades responsáveis para debater o assunto.
A matéria desse mês não possui dados médicos técnicos, mas tem a finalidade de promover uma breve reflexão aos leitores do quanto eles consomem plástico sem saber e do quanto de plástico ele pode evitar de usar. Atente-se a armadilhas comerciais ricas em hipocrisias que vendem canudinhos de metal em embalagem de plástico ou possuem palitinhos higienizadores de canudo com cerdas de plástico.
Recolha três resíduos plásticos a cada vez que você visitar a praia e já vai colaborar para um surfe mais saudável do seu filho, neto e bisneto. Cuidar da saúde do mar, é cuidar da saúde do surfe!