A etapa do Championship Tour no Brasil foi marcada pela brilhante performance do bicampeão Filipe Toledo e também pela infeliz notícia da “nova” ruptura ligamentar no joelho do havaiano John Johh Florence, atual número 1 do ranking e que ficará afastado do Tour em 2019.
Essa última notícia, mais uma vez, mostra como o padrão das lesões no surfe vem mudando conforme o esporte se transforma, e chama atenção pelo frequente número de profissionais que ficaram afastados das competições nos últimos meses. Mas o que está acontecendo com o surfe profissional que tanto abala a saúde do competidor?
Com certeza não é uma causa única, a resposta é multifatorial. O esporte ganha, exponencialmente, importância no cenário mundial, ocupando patamar de modalidade olímpica e os atletas tornando-se ídolos internacionais. O extremo da condição competitiva, que abrilhanta o show dos amantes do surfe, talvez seja um dos principais motivos.
A exigência física através de manobras aéreas – cada vez mais altas e com maior rotação – cavadas críticas, batidas fortes, tubos profundos são critérios importantes e decisivos durante as competições. Mas acredito que outros fatores, menos visíveis aos nossos olhos de espectadores, podem estar colaborando para o prejuízo da saúde desses atletas.
Uma vida de aeroporto, avião, hotel, fuso horário, alimentação sem intervalo, variação de temperatura ambiental e qualidade de sono irregular abalam muito o metabolismo de qualquer pessoa, e principalmente do atleta profissional. A demanda energética e a oferta ficam comprometidas quando todo esse ciclo está em constante mudança.
Além disso, a imensa exposição da mídia, obrigações perante aos patrocinadores e a própria pressão competitiva colocam os surfistas em um nível de estresse que não se observava há tempos.
Notamos nos últimos anos que a média de idade dos profissionais CT é mais baixa, sendo assim, a exposição aos fatores mencionados acima é cada vez mais precoce. Síndromes de “burn out”, lesões osteomusculares e ligamentares podem começar a aparecer frequentemente nessa modalidade esportiva.
Outro fator de alerta é o tempo de vida profissional. Infelizmente, casos como o de Kelly Slater, que ainda surfa em altíssima forma após os 40 anos, serão cada vez mais raros e aposentadorias precoces serão mais frequentes. Para frear essa triste tendência do esporte, o surfista precisa ser acompanhado de perto por uma equipe multidisciplinar desde as categorias infantis.
Assim como o surfe se profissionaliza, o seu suporte também deveria ser profissional. Felizmente, protocolos de prevenção as lesões ligamentares de tornozelo, joelho, quadril e ombro; fortalecimento da musculatura do CORE (grupo muscular estabilizador da pelve, abdome e tronco), acompanhamento nutricional profissional e controle da qualidade de sono são exemplos de medidas preventivas que estão sendo desenvolvidas exclusivamente para este tipo de atividade.
Muito se investe na melhora da performance, com roupas mais flexíveis, pranchas mais leves, “leashes” resistentes e até piscinas de ondas para o treinamento de manobras, mas nada disso adianta se a saúde encontra-se debilitada.
A Medicina do Surfe é uma área da saúde em crescimento. Cuidar da saúde e do estilo de vida, visando a prevenção das principais patologias relacionados à prática desse esporte é a base desse novo ramo médico. Prevenção é a maneira mais fácil de se manter saudável e ativo por mais tempo.