No fim da tarde do dia 11 de maio, cinco surfistas perderam a vida em Scheveningen Beach. Os homens, com idade entre 22 e 38 anos, eram todos surfistas e nadadores experientes, além de envolvidos com a comunidade do surfe local. Três dos falecidos também eram salva-vidas certificados e trabalhavam como instrutores de surfe no local que é considerado o principal pico do surfe holandês.
Enquanto as investigações ainda estão em andamento, muitos locais acreditam que um enorme acúmulo de espuma do mar foi o que potencialmente ocasionou a tragédia.
Scheveningen é a praia mais próxima de Haia, cidade com 1 milhão de habitantes e a sede do governo do País. Não é apenas onde o surfe começou na Holanda, mas também o local que oferece as melhores ondas. Embora se estime que haja apenas 5 mil surfistas ativos no País, cerca de metade deles vive e surfa perto de Scheveningen.
“A onda fica a 15 minutos de bicicleta da minha casa”, diz Eveline Hooft, uma das principais surfistas holandesas e que atualmente ocupa o 32º lugar no ranking do QS. “Dependendo das condições, surfamos do lado norte ou do lado sul do porto. A avenida com todas as escolas e restaurantes fica no lado norte, onde o acidente aconteceu”.
Os molhes do porto oferecem proteção contra os fortes ventos vindos do Mar do Norte e ajudam a melhorar relativamente a formação das ondas, em um mar conhecido pelos swells de curto período.
Por volta das 17 horas daquele dia, o surfista e músico local Pat Smith havia verificado as ondas no lado norte do porto. Smith cresceu surfando na área e recentemente foi nomeado Nachtburgemeester, ou “prefeito da noite” de Haia. É um papel escolhido pela comunidade para representar a vida noturna e cultural da cidade.
“As ondas pareciam um pouco confusas e a maré não estava boa”, diz Smith à WSL. “Fui treinar em vez de surfar e deixei meu telefone no carro. Quando voltei, havia 70 ou 80 ligações perdidas. Corri para a The Shore, uma loja de surfe considerada ponto de encontro na praia, e vi que uma operação de busca e salvamento já estava em andamento para os surfistas desaparecidos”.
Entre os desaparecidos estavam três instrutores de surfe locais, Pim, Joost e Sander, além de dois surfistas, Max e Mathijs, ambos estudantes da Delft University of Technology. Pim, Joost e Sanders eram salva-vidas certificados internacionalmente e instrutores locais, com mais de dez anos de experiência no surfe cada um.
Eles passavam a maior parte dos dias na praia e pegavam onda regularmente de bodysurf para verificar as marés e correntes com o objetivo de ajudar nas aulas de surfe. Em meio às restrições de Covid-19 na Holanda, o surfe e a natação sempre foram permitidos, mas apenas individualmente.
Naquela segunda-feira, essas restrições foram atenuadas e o exercício em grupo foi permitido, ainda com as medidas de distanciamento social em vigor. Os três instrutores haviam pegado suas nadadeiras e se juntado a alguns outros para uma sessão de bodysurf.
Pouco tempo depois de entrarem na água, um alarme foi acionado dizendo que eles e o grupo de surfistas estavam em perigo. As ondas não estavam enormes – Smith as descreve com 1,5 metro –, mas fortes ventos marais sopravam o dia todo. Havia também uma grande quantidade de espuma do mar.
Este fenômeno é uma ocorrência sazonal e frequente em Scheveningen. À medida que a temperatura da água aumenta na primavera, as algas florescem e liberam proteínas que flutuam na superfície do mar. A espuma se forma quando essa matéria orgânica é agitada pelas ondas. “Temos essa espuma do mar todo ano”, explica Smith. “Mas naquele dia eu nunca a tinha visto tão espessa. Era uma loucura”.
Depois que o alarme foi acionado pela Royal Netherlands Sea Rescue Organisation (KNRM), o corpo de bombeiros e a polícia foram chamados. Com a notícia, amigos e familiares dos surfistas desaparecidos começaram a se reunir na praia.
Por volta das 19 horas, equipes de resgate retiraram três surfistas da água. Um sobreviveu, mas os outros dois não puderam ser ressuscitados. Mais dois corpos foram recuperados na manhã de terça-feira. O corpo da quinta vítima foi visto no mar, mas não pôde ser recuperado e a busca segue em andamento.
“As pessoas aqui sabem que o mar dá e recebe, mas a maneira pela qual tantas jovens vidas foram ceifadas é inimaginavelmente cruel”, disse o prefeito de Haia, Johan Remkes, em entrevista coletiva. Ele descreveu as vítimas como “pessoas em forma, jovens e esportivas, que conhecem aquele mar com a palma das mãos”.
Uma investigação formal sobre a tragédia foi anunciada e, com a busca ainda em andamento, os nomes completos das vítimas ainda não foram divulgados. No entanto, a causa da morte dos cinco surfistas experientes, em um curto intervalo de tempo, tem sido objeto de muitas conjecturas. Mas muitos habitantes locais apontam a presença da espuma do mar como a causa mais provável.
“Vamos precisar da análise de especialistas, mas achamos que eles foram pegos pela espuma e acabaram desorientados”, diz Smith. “Se você consegue nadar apenas com a cabeça acima da água, e depois há uma camada de espuma de dois metros acima disso, significa que você não pode enxergar ou respirar”.
Embora a causa exata da morte seja desconhecida, a perda de cinco jovens abriu um enorme buraco em uma comunidade de surfe extremamente unida. Na última segunda-feira (18) foram realizados os funerais para Joost e Sander. No dia seguinte, amigos novamente se reuniram para lembrar de Max e Pim. Espera-se que uma remada de homenagem também seja realizada em breve.
“Todos nós estamos completamente chocados e tristes. Meus pensamentos estão com a família, os amigos e todos os heróis envolvidos no resgate”, concluiu Hooft. “Esses caras devem ser lembrados para sempre.”
Fonte WSL