Surfe e medicina

Tsunami de lixo

Dr. Guilherme Vieira Lima esclarece como a poluição e a falta de saneamento básico podem afetar a sua saúde.

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Os surfistas estão entre os mais afetados pela poluição marinha.Shaahina Ali
Os surfistas estão entre os mais afetados pela poluição marinha.

Carnaval no Brasil, calor, festa, alegria e ao final do bloco uma chuva de verão que refresca os foliões do país inteiro. Só não é um casamento perfeito, pois ao desligar a música, o que restam são latas, garrafas, papéis, plásticos, comidas, fantasias… Um verdadeiro lixão a céu aberto que, somado a enxurrada de água, forma um verdadeiro tsunami de detritos rumo ao mar.

Não é por acaso que, nessa época do ano, os prontos-socorros ficam cheios de pacientes com infecções gastrointestinais dos mais diversos agentes (vírus, bactérias, protozoários), e a população litorânea por receber toda essa contaminação através da água é a maior prejudicada com essa grande contaminação.

Por mais limpa que pareça estar, observamos uma altíssima taxa de praias impróprias para o banho em nosso litoral. Agora imagine a cena: ondas perfeitas, calor, com poucos banhistas em pleno verão brasileiro. Sim, parece uma miragem, mas muitos surfistas não resistem a tentação, ignoram qualquer tipo de sinalização e entram no mar.

A matéria desse mês tem como objetivo informar como essa poluição e a falta de saneamento básico de muitas regiões podem afetar a sua saúde. Além do contato com a pele, olhos e mucosas por um tempo mais prolongado, estudos recentes mostram que o surfista ingere cerca de 170ml de água, enquanto um banhista comum de 16 ml por dia de exposição.

Dessa forma, numa região contaminada a sua chance de se infectar é muito maior. As principais bactérias causadoras são os Enterococos e as Escherichia coli, presentes no coliformes fecais e em muitos restos orgânicos.

Em comparação a uma população que não frequenta a praia, os banhistas e principalmente os surfistas, possuem maior chance de adquirirem doença gastrointestinais. Os principais sintomas são a diarreia, dor abdominal e vômitos.

Para evitar esses problemas observe a cor e cheiro da água, evite as regiões mais próximas as desembocaduras dos rios e canos, e não entre no mar após um temporal, pois a enxurrada lava o solo urbano e carrega a sujeira par o mar. Procure sinalizações que informam se o mar é IMPROPRIO (vermelho) ou PRÓPRIO (verde), quando não encontrar, pesquise através das entidades locais (Companhia Ambiental Estadual) e respeite a sinalização. Medidas como o banho de água doce após a sessão não foram comprovadas cientificamente eficazes, mas são sempre recomendadas.

Na presença de diarreia e/ou vômito abundantes sempre busque atendimento médico de urgência e procure manter se hidratado com água doce potável.

As principais ações para combater esse grande problema não são através de antibióticos de última geração, mas sim com a educação da população em relação à higiene e respeito à sinalização, medidas públicas de cuidado com o lixo e saneamento básico. Para os egoístas que não pensam na natureza, essas atitudes evitam a contaminação da água e consequentemente do ser humano.

O ecossistema marinho adoece por essa falta de educação, infelizmente muitos sofrem por ignorância de outros. E na próxima vez que pensar em jogar uma lata fora do lixo, urinar ou até evacuar em local não apropriado, além da natureza, o prejudicado pode ser você mesmo.

Cuidando do mar, mais praias apropriadas, mais saudável fica o surfe. Cuidar da natureza é cuidar de si próprio.