No Litoral Norte do Rio Grande do Sul, a Plataforma Marítima de Atlântida, local turístico emblemático em Xangri-Lá, desmoronou nas primeiras horas do último domingo (15).
A prefeitura da cidade confirmou que a estrutura já estava comprometida há pelo menos dois anos, com negociações em curso para reparos entre a administração municipal e a Associação dos Usuários da Plataforma Marítima da Atlântida (Asuplama), uma entidade independente encarregada de sua manutenção.
Segundo o prefeito Celso Bassani Barbosa (PTB), “Acredito que agora não tenha mais o que fazer. Nunca foi feita uma manutenção adequada. É muito triste ver um ponto turístico e histórico da cidade se deteriorando.”
Em 2021, um acordo de reforma foi firmado entre a prefeitura e a associação, com o envolvimento do Ministério Público Federal (MPF) e do governo federal, mas a obra não avançou devido a entraves burocráticos. Desde então, a plataforma sofreu ainda mais deterioração, apresentando corrosão, rachaduras e rompimentos em suas vigas de sustentação.
O presidente da associação responsável pela plataforma, José Luis Rodigues Rabadan, comenta sua visão sobre o píer e suas expectativas de restauração dessa plataforma:
“A plataforma de Atlântida é uma estrutura antiga, tem mais de 50 anos e fica em uma condição extremamente adversa, que exige muito cuidado com a integridade da estrutura. Já havia perdido o Braço Sul no passado, em 1997. Após isso ela passou por uma recuperação estrutural, colocaram dezenas de pilares novos e a região do restaurante, é uma região considerada “hiperestática”, porque tinha mais pilares do que o necessário”, conta o presidente.
“Com o tempo alguns pilares começaram a cair, os antigos e a gente sempre avaliando a estrutura, porque é uma constante nossa, praticamente todo ano é feito uma avaliação de integridade da plataforma e uns três anos atrás a gente constatou que não teríamos mais condições de manter a integridade da plataforma e o Ministério Público Federal nos acionando para que a gente regularizasse a nossa situação patrimonial, ou seja, quem seria o dano dessa plataforma, em discussão com a União, que por força da lei é a proprietária da plataforma”, explica.
“E o município como entidade capaz de prover os recursos que seriam necessários para recuperar a plataforma. Esse processo começou há três anos atrás e mesmo após 3 anos a gente não conseguiu realizar um documento que permitisse que o município se dedicasse e transferisse dinheiro para a associação e a associação recuperar a plataforma”, completa.
“Esse processo é muito doloroso, porque a gente tinha tempo, três anos é tempo suficiente, ainda no ano passado a gente no desespero, vendo que as coisas não estavam indo bem, contratou uma região imparcial daquela região e só conseguimos fazer cerca de 1/3 do que precisava ser feito e acabou não sendo o suficiente. Tanto que a plataforma acabou tendo colapso na região de transição entre o restaurante e o Espigão. O que entristece, pois a gente tinha tempo hábil para fazer isso”, lamenta Rabadan.
“Acredito que ainda tem solução, que a plataforma tem condições de ser recuperada. A gente precisa colocar ali empresas que façam uma avaliação estrutural, que tem uma experiência nesse tipo de construção”, comenta.
“O que não vamos ter é dinheiro, nós quanto associação não temos dinheiro, mas se a sociedade se mobilizar, empresas, municípios tiverem interesse em ajudar e a própria União permitir, pois podem não permitir. Mas eu acredito que tenha condições de reconstruir já no outro verão e poder curtir a plataforma de novo. A minha luta é essa agora, ser aprovado. Lógico que não vai ser uma coisa de imediato, mas acredito que para o verão seja possível”, conta Luis.
“A plataforma sempre fez manutenção, tanto que os pilares brancos são recentes”, ressalta.
“Em 2011 começou a fazer a recuperação de toda a plataforma, foi dividida entre cinco regiões. Mas com o passar dos anos começamos a sofrer com uma série de danos por conta de ressacas, que nos aniquilaram financeiramente, pela necessidade de abrir a plataforma e gastar dinheiro com algo que foi danificado pelo mar não estava nos nossos planos de manutenção”, conta.
“Então esse foi um dos motivos de a gente pedir ajuda, pelo fato de não termos mais recursos e agora recentemente a gente fez a recuperação do restaurante, 1/3 do que precisava e ainda vamos pagar até dezembro deste ano vamos pagar o parcelamento que a gente fez do contrato”, completa.
“Lamento apenas que a gente não tenha conseguido salvar esse item. Plataforma de Atlântida e entidades parceiras que tinham tempo necessário para salvar e infelizmente não conseguimos”, comenta o presidente.
“Espero que nós responsáveis pela plataforma e não conseguíamos dar um destino melhor para ela, que a gente volte a se unir, com a disposição necessária para mudar essa realidade, que a plataforma não tenha tido um fim, mas que a gente ainda esteja no meio da trajetória dela”, finaliza.
A plataforma de Atlântida, erguida em 1975, se estendia por aproximadamente 280 metros sobre o mar e atraía cerca de 30 mil turistas anualmente, sendo principalmente utilizada para a pesca.
Em algumas épocas do ano, os visitantes tinham a oportunidade de avistar baleias na região.
Vale lembrar que uma porção da estrutura já havia cedido em 1997 e nunca foi completamente restaurada, enquanto ondas fortes em 2016 e 2019 haviam causado danos parciais ao píer.
Em conversa com o fotógrafo local, David Castro, ele conta que possui uma história com a plataforma:
“Eu fico profundamente abalado com o que aconteceu com a “plato”, sou morador da cidade, fotografo de surfe há 13 anos e sempre fotografei lá de cima do píer que foi o lugar que fez eu me destacar na profissão com minhas fotos do ângulo de cima do píer que ficam diferenciadas, e frequento desde criancinha, meus parentes trabalham ali, sendo que meu tio avó trabalha lá praticamente desde o início do píer”, relata.
“Acordava cedo, chegava no píer e dava bom dia aos porteiros, subia e ia até o restaurante boteco da platô para tomar meu café da manhã, onde me juntava junto aos pescadores e funcionários do restaurante para um café, não era só um café era onde criamos um vinculo de amizade, virou um família, aquele lugar era meu lugar de trabalho, de descanso, de terapia”, comenta David.
“Ver ele se degradando ao longo do tempo era muito triste, e eu sempre tinha aquele sentimento triste de que um dia algo iria acontecer, pois por mais que a associação da plataforma tentasse mantê-la em pé, sozinha não conseguia dar conta”, lamenta o fotógrafo.
“Moramos em Xangri-lá, um dos municípios que mais arrecada dinheiro no brasil, sendo que ano passado arrecadou 400 milhões de ITBI, e ver que nem um centavo desse valor vinha para ajudar o maior cartão postal da cidade sempre me deixou entristecido e indignado, a prefeitura, governo do estado, ministério público, união, e suas burocracias, o descaso e a ação do tempo fizeram o pier ruir.
Mas caiu só uma parte, ele tem salvação, contamos com a ajuda da nossa prefeitura e governo do estado para que busquem soluções”, completa.
“O píer de Atlântida é um dos mais antigos do brasil, essa historia não deve ser perder!”, finaliza.
Para manifestar preocupação e solidariedade, uma manifestação em frente ao local, organizada pela Associação de Atlântida, surfistas locais e o fotógrafo David Castro, ocorreu nesse domingo.
“Ontem fizemos uma manifestação pacífica onde unimos forças entre pescadores, surfistas, moradores e veranistas e fizemos uma corrente em volta ao píer, abraçando ele, mostrando que queremos ele em pé”, conta David.
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