Trinta e quatro anos depois de um verão muito louco da Bahia ao Rio Grande do Sul, até hoje muita gente fica incrédula com o swell de latas de maconha que invadiu o litoral brasileiro.
A história toda começou quando a tripulação do navio de bandeira panamenha Solana Star desovou no litoral cerca de 15 mil latas contendo maconha proveniente da Tailândia.
As latas foram parar nas praias, sobretudo do Rio de Janeiro e de São Paulo, o que obrigou muito traficante a mudar de ramo.
Como hoje em dia muita gente acha que isso é lenda ou folclore, taí o vídeo que não nos deixa mentir.
Existem verões inesquecíveis, mas outros merecem entrar para a história e foi isso que aconteceu entre 1987 e 1988, conhecido como o Verão da Lata.
Pode parecer conto de pescador ou até uma alucinação, mas diversas praias das regiões sul e sudeste do Brasil foram infestadas por latas de maconha, da melhor qualidade. O fato, que ganhou livro e até música, deixou muita gente correndo alucinadamente atrás de uma lata, seja para aprendê-la ou por curiosidade!
O Verão da Lata começou oficialmente em 19 de setembro de 1987, quando chegaram a cidade do Guarujá, no litoral paulista, as primeiras seis latas com cannabis, despejadas no mar pelo navio Solana Star. Após serem apreendidas pela polícia, na praia das Astúrias e do Tombo, a história começou a ganhar destaque nas páginas policiais e principalmente, no imaginário popular.
A história iniciou-se na primavera quando o atuneiro Solana Star partia da Tailândia rumo aos EUA. Durante a viagem, a embarcação passou por algumas tormentas em alto mar e precisou aportar na costa brasileira para realizar reparos.
O navio traficava cerca de 22 toneladas de maconha, embaladas a vácuo, numa lata metálica semelhante as de leite em pó.
O que os traficantes internacionais não esperavam é que a Agência norte-americana de Combate as Drogas (DEA, Drug Enforcement Administration) prendesse o líder do bando e que ele aceitasse a fazer uma espécie de “delação premiada” e entregasse os planos dos comparsas.
Após o DEA avisar ao governo brasileiro, a Polícia Federal e a Marinha tentaram localizar a embarcação com as drogas, mas não acharam nada nos pontos indicados pela Agência norte-americana.
O problema é que os tripulantes do Solana Star avistaram o contratorpedeiro brasileiro e com medo de serem presos, despejaram cerca de 15 mil latas, com maconha, no mar.
Atracaram no Porto do Rio, passaram tranquilamente pela alfândega sob a alegação de problemas nos dois motores auxiliares, e hospedaram-se em Copacabana com a certeza de que deixaram o porão vazio.
Do ponto de vista dos traficantes, o golpe fora um sucesso, exceto pelo detalhe de que, ao invés de afundar, as latas boiaram, e começaram a aparecer uma a uma.
As embalagens recheadas com aproximadamente 1,5 kg de cannabis, de excelente qualidade, começaram a chegar ao litoral e causou uma corrida entre curiosos e autoridades.
Até a história começar a ser divulgada maciçamente pela imprensa e ganhar o noticiário brasileiro, os contos sobre as latas de maconha eram tratados com descrédito ou até como uma “viagem” de algum usuário da droga.
Para se compreender o que o assunto significou à época, basta constatar que no auge da “caça às latas”, a Polícia Federal paralisou todos os outros casos e focou apenas naquela investigação.
A cidade de Ubatuba recebeu uma grande quantidade destas latas que chegaram nas praias ou ficaram presas nas costeiras sendo capturadas pelos banhistas e pescadores. Há relatos que o Verão da Lata transformou a vida de muitas pessoas, que “fizeram muito dinheiro” com a venda desta droga, que segundo o que se falava é que era “fumo do bom”.
Com a fama que o assunto ganhou no país, abrir a lata se transformou em “ritual” e numa “homenagem” informal pela qualidade do produto, criou-se a gíria “da lata” para se referir a algo quando era de qualidade.
Se o imaginário popular “viajou longe”, a fama delas foi eternizada com a música “Veneno da Lata”, da cantora e compositora Fernanda Abreu.
Em 2012, foi lançado o livro “O Verão da Lata: Um verão que ninguém esqueceu”, do escritor Wilson Aquino que aborda o assunto.
Enquanto o caso ganhava destaque absoluto na mídia durante aquela temporada, a polícia e a justiça faziam sua parte para solucioná-lo.
O navio só foi localizado quando já estava atracado no porto do Rio de Janeiro e todos os sete tripulantes (cinco americanos, um haitiano e um costarriquenho), haviam fugido do Brasil, só restando um deles, que se declarou cozinheiro do Solana Star.
Identificado como Stephen Skelton, ele deveria ter saído do país junto com os outros comparsas, mas se apaixonou por uma brasileira e permaneceu em terras tupiniquins. A paixão de verão custou caro e ele foi preso e condenado a 20 anos de prisão, mas cumpriu apenas um ano.
Com a conclusão do caso, o navio permaneceu apreendido até ser leiloado. Seu nome foi alterado mais duas vezes, passando de Solana Star para Charles Henri e por último, Tunamar. No final, a embarcação, de bandeira japonesa, teve um final trágico e naufragou em outubro de 1994, matando 11 tripulantes.
Ao final, a ação conjunta das Polícias Militar, Federal e até Marinha conseguiu apreender apenas 3.292 latas, das 15 mil que foram jogadas no oceano. A maioria delas foram recuperadas por banhistas e pessoas que as encontravam boiando no mar e posteriormente, as vendiam por bons preços devido sua qualidade.
Se o produto chegasse ao destino final teria rendido cerca de US$ 90 milhões aos traficantes.
Fonte Ecoviagem