Já imaginou uma floresta secreta debaixo d’água? Pois o cenário acima é real e ocupa um pequeno pedaço no coração do Oceano Pacífico. Segundo a dupla de fotógrafos especializados em mergulho Heppoko e Taylor, que registrou sua simetria hipnotizante, a paisagem fica na costa sul do Japão e é composta por corais cultivados em uma “fazenda”.
Para entender como isso é possível, é preciso dar um passo para trás: as águas onde esta floresta é encontrada hoje pertencem ao arquipélago de Ryukyu, especialmente à ilha de Okinawa, e foram há séculos um terreno fértil para corais diversos e abundantes. Hoje, algumas destas ilhas já perderam até 90% dos seus recifes, de acordo com o Okinawa Institute of Science and Technology (OIST).
Este tesouro começou a ser dilapidado há décadas graças à ação humana, seja através do turismo predatório, do aquecimento global e suas consequências — não só o aumento da temperatura das águas, como alterações de maré ou excesso de exposição à radiação — ou do despejo de poluentes nas águas do antigo reino japonês. No entanto, a “mata” subaquática vista acima subsiste hoje graças também à intervenção do homem — um enorme esforço de pesquisadores e entidades, como é o caso do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, do Atmosphere and Ocean Research Institute (AORI), da Universidade de Tóquio e do OIST.
Projetos como os citados cultivam as espécies de corais mais comuns, por exemplo o Acropora tenuis, e os “replantam” no fundo do mar, em pequenas fazendas localizadas pelo litoral de Okinawa. Elas são comandadas por pescadores “aposentados” de suas funções, agora membros de organizações como a Cooperativa Pesqueira do Vilarejo de Onna. Daí tamanha ordem incomum de se ver nas estruturas dos recifes nativos, formados há dois milhões de anos. Todo os cultivos artificiais são orientados por cientistas, que delimitam áreas restritas para a criação e reimplantação dos corais. Isto porque, apesar de parecerem uma “floresta”, corais são animais que se reproduzem por duas formas: e assexuadamente. Apesar de algumas poucas e pioneiras organizações como o Sexual Reproductive Coral Regeneration Support Council, também de Okinawa, já promoverem iniciativas de criação de corais pela via sexual, elas são raras.
No caso da maioria das fazendas, eles são criados pela segunda via, em que corais já existentes são fragmentados para dar origem a novos e idênticos corais — “clones” de suas matrizes. Por isso, as populações precisam ser analisadas constantemente para garantir que a diversidade natural das formas, cores e manifestações dos espécimes tem sido mantida por este tipo de reprodução e que sua inserção, através de minipostes metálicos que os sustentam inicialmente no ambiente, não vá causar um desequilíbrio ao ecossistema marítimo.
Dá para conhecer esta floresta? A paisagem que os fotógrafos Heppoko e Taylor visitaram, não só pelos registros mas como voluntários, está situada no próprio vilarejo de Onna. No entanto, seu ponto exato no mapa é desconhecido — segundo relato publicado no Instagram da dupla —, justamente para evitar que uma horda de turistas sejam atraídos ao ecossistema ainda frágil e em recuperação. Apesar da situação delicada, Okinawa ainda é conhecida como “Galápagos da Ásia”. Das cerca de 800 espécies conhecidas de corais mundo afora, 415 podem ser encontradas nas 160 ilhas da prefeitura, de acordo com informações das autoridades turísticas de Naha.
Por isso, para preservar a natureza e a curiosidade dos turistas que anseiam em conhecer as belezas que as águas do Japão guardam, The Reef-World Foundation e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente promovem iniciativas de mergulhos sustentáveis em Onna, o “Vilarejo do Coral” que passou a abrigar diversos resorts nos últimos 10 anos atraídos por cartões postais como o Cabo Maeda e a Caverna Azul.
O projeto, batizado de Green Fins, desde 2020 treina instrutores de mergulho e empresas do setor a respeito das melhores práticas para a condução dos passeios turísticos, reduzindo poluição química, alimentação irregular dos peixes e ancoragem em pontos indesejados. Ele acontece em paralelo com o transplante de mais de 30 mil corais em Onna, segundo a ONU. Ou seja, é possível, sim, visitar Okinawa e se maravilhar com seus corais — mas é preciso procurar empresas com credenciais ambientais e respeitar o meio durante o passeio.
Fonte UOL