Previsão das Ondas

Calor do Atlântico

Segundo oceanógrafo Heitor Tozzi, semana deve ter boas ondas na região Sul, Sudeste e Nordeste. Região Norte, porém, não apresenta previsão promissora.

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Gráfico apresenta calor no Atlântico Sul.Reprodução
Gráfico apresenta calor no Atlântico Sul.

Tanto o Atlântico Norte quanto o Atlântico Sul têm experimentado ondas de calor fortíssimas e depois chuvas torrenciais. A primavera nem começou e o calor favorece as chuvas torrenciais, que geralmente aparecem no final da primavera e verão.

As zonas de convergência de correntes marinhas, com a nossa zona de Convergência Brasil-Malvinas (CBM), as tempestades se concentram ora no oceano ou ora no continente, como conhecemos na atmosfera como Zona de Convergência Subtropical. Ela fica muitas vezes sobre o Rio Grande do Sul e Uruguai e forma a zona de tempestades, com a variação latitudinal da Célula de Ferrel.

Essa é a dinâmica que veremos na primavera, pois o calor do Hemisfério Norte vai passar para o Hemisfério Sul e as chuvas que agora são intensas na região Sul vão subir para região Sudeste durante a primavera e ao longo do verão.

A piscina quente do Atlântico Sul começa no Nordeste, onde inicia a Corrente do Brasil e se acumula em frente da Argentina e a foz do Rio da Prata, onde encontra a corrente das Malvinas. Tudo isso, faz parte de um grande giro anti-ciclônico, como podemos ver na figura abaixo, que tem na África seu ramo Sul-Norte por onde sobe a Corrente de Benguela.

A potência da Alta Subtropical do Atlantico Sul se dá onde o calor da radiação solar incide mais forte no Hemisfério Sul, e de onde os ventos se espalham e transferem energia cinética para o oceano. Assim, temos na região da CBM uma grande quantidade de tempestades, pelo encontro dos ventos da ASAS com os ventos da frente Subpolar, ou como gosto de frisar, da deriva do Vento Oeste.

Na costa Norte do Brasil há outra zona de convergência, a ZCIT (Zona de Convergência Intertropical), onde também há convergência de ventos, os alísios de Sudeste e de Nordeste.

A ZCIT é então onde se formam os furacões, e ela varia de intensidade gerando épocas com maior número de furacões. Como podemos ver, este ano de 2023 já temos um número grande de eventos, e o Furacão JOVA no Oceano Pacífico foi o primeiro a atingir força V, depois de muitos anos sem vê-los nesta região do planeta.

O que vemos na figura é um número grande de tempestades passando na frente da Costa Norte do Brasil, muitas delas tempestades tropicais que podem dar origem a novos furacões. Quem me perguntar se podemos ter furacões na costa norte, eu diria que sim! Tudo depende do calor e da evaporação, que provocam as células de convecção que forma nuvens e as tempestades.

O mapa da NASA apresentado dia 04/09, mostra que tivemos o mês de junho mais quente da história, deste 1880. O que é bastante grave para as previsões do Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas (IPCC).

Vejam na figura que o calor chegou à Antártica e ao Ártico, e atingimos quase 2°C acima da temperatura ideal para evitar grandes desastres naturais.

Mapa da NASA CLIMATE mostra as anomalias de temperatura no Planeta Terra.

Isso já ocorreu no passado, porém a questão é o volume de gases CO2 e Metano que a civilização humana adiciona na equação climática! Praticamente o dobro da taxa normal, mesmo que o aumento de temperatura tenha razões naturais. A queima de combustíveis fósseis, principalmente no Hemisfério Norte, onde se concentra a maior parte dos continentes e da população humana.

Observamos grandes incêndios florestais na Grécia, Canadá e Havaí. Fatores que impactam a circulação atmosférica e podem gerar chuvas torrenciais em outras regiões, como por exemplo na Itália, California, Índia…

Estamos num período de incertezas até para os pesquisadores mais experientes. Os modelos têm mostrado erros nas simulações, pois os parâmetros utilizados apresentam valores muito acima dos dados utilizados anteriormente. Essa década dos oceanos será também a década das tempestades.

Instabilidade na região do Rio da Prata pode evoluir para um ciclone Extratropical na quinta-feira. (Fonte: www.wxmaps.org).

As simulações do modelo GFS (www.wxmaps.org) indica que temos as passagens e ciclones na região das Malvinas nesta segunda e terça feira, mas a Alta pressão ainda está muito forte e impedindo que as frente firas subam para o Sudeste.

Nesta quarta-feira, teremos a formação de uma frente fria no Uruguai, que segundo o modelo vai evoluir para um ciclone extratropical, ou pode formar um ciclone subtropical na noite de quarta para quinta.

As altas pressões, subtropical (quente) e polar (fria), estão com forte gradiente (diferença) térmico. Assim como o Oceano Atlântico Sudoeste está com águas quentes, acima da média histórica. Estes são fatores favorecem a formação de ciclones junto a costa sul do Brasil e Uruguai.

Previsão das Ondas

Região Sul: Ondulação de leste se mantém atuante na costa devido à influência da Alta Pressão Subtropical, e a ondulação de sul gerada neste domingo passa ao largo, podendo trazer energia para as praias do Rio Grande do Sul e Uruguai, talvez até Florianópolis, mas possivelmente não para o norte de Santa Catarina e Paraná.

Um novo ciclone na região das Malvinas gera ondas de sul com 1,5m para terça-feira fim de tarde, mas este ciclone passa bem rápido.

Terça-feira deve ser o melhor dia com característica de sudeste, ondas de 1,5 m na série, mas com duas componentes brigando entre sul e leste, favorecendo boas ondas em todo o litoral Sul do Brasil.

A condição de leste, misturado com sul/sudeste, gera boas ondas segunda e terça-feira, e quarta antes do vento nordeste pré-frontal. Ressaca na quinta.

Na quarta, mais para o fim de tarde, muito vento e chuva. A direção muda para sudeste e altura passa de 2 metros no Rio Grande do Sul. Maré meteorológica principalmente na costa sul até Farol de Santa Marta, devido à formação de um ciclone subtropical. Quinta-feira a altura significativa deve atingir 3,5-4 metros.

Região Sudeste: Ondulação de leste se mantém firme e só deve mudar na sexta-feira para sul. Na segunda uma componente de sudeste, mas a altura significativa deve ficar por volta de 1 metro, sobe um pouco de leste na terça. Quarta recebe uma influência de sudeste.

Quinta-feira deve ser o melhor dia, com ondas de 1-1,5 metro e direção de sudeste, o vento deve ser forte de terral.

A ondulação de leste favorece as praias do litoral sul de São Paulo. A componente de sudeste faz quebrar boas ondas em todo o litoral, com destaque para as praias da região de Ubatuba e de Guarujá.

Prainha, Saquarema, Arraial, Geribá, Macaé e as Bravas de Buzios e Cabo Frio conseguem fazer a ondulação de leste quebrar boa. Depois, vira de sudeste na quarta, o que favorece quase todas as praias do Rio de Janeiro.

No Espírito Santa a condição deve ser boa na quarta, e quinta com uma energia de sudeste, mas tem uma ondinha de leste todos os dias.

Região Nordeste: A ondulação de leste/sudeste continua trazendo ondas boas e constantes de 1 a 1,5 metro. O El Niño tem sido muito generoso para a costa nordeste.

Ondas boas a semana inteira com altura significativa de 1,5 metro, principalmente na costa de Salvador ao Rio Grande do Norte.

Terça-feira deve ser o melhor dia, quando o mar recebe uma energia de sudeste, e as ondas crescem para 2 metros e vento deve ser bom no período da manhã.

Na quarta e quinta o vento de leste deve incomodar e as condições podem ficar prejudicadas. Mas vai ter onda a semana toda.

Região Norte: A ondulação de leste se mantém com 0,5 metro durante esta semana, período curto na faixa de 7-8 segundos, subindo e descendo durante o dia conforme a maré.

Nada especial para a região, pois os ventos alísios de sudeste/leste da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) estão intensos na geração dos furacões, empurrando as ondas na direção do Caribe.

Heitor Tozzi
Oceanógrafo e Mestre em Estudos Costeiros, trabalha com morfodinâmica de praias e impacto de tempestades na costa desde 1991, quando fez parte do 1º grupo de Sentinelas do Mar (Watching Waves in Brazil). Como pesquisador já embarcou em navios de Norte a Sul do Brasil, Golfo do México, Angola e Indonésia. Velejador e surfista nas horas vagas, atualmente é pesquisador do doutorado em Meteorologia no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), onde estuda os processos de Interação Oceano-Atmosfera para geração dos Ciclones.