Previsão das Ondas

Ciclone passa pelas Malvinas

Segundo oceanógrafo Heitor Tozzi, nesta quinta-feira tem uma nova tempestade formando na região das Ilhas Malvinas. Ondulação deve encaixar no litoral do Espírito Santo.

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Quinta-feira tem uma nova tempestade se formando na região das Ilhas Malvinas.

A ondulação de sudeste vai virar para leste e apontar para a costa do Espírito Santo, Norte do Rio de Janeiro e Sul da Bahia. Na terça-feira, o mar ajeitou e, mesmo com o tempo nublado, reagiu com ondas de 1,5 metro e algumas maiores.

A imagem mostra um ciclone extratropical em fase de oclusão entre Ilhas Malvinas e Sanduiche/Georgia do Sul e a frente fria entre Espírito Santo e Bahia. A Alta Polar assume o lugar da Alta Subtropical, e acalma os ventos junta a costa Sul e Sudeste, e deve voltar a esquentar no próximo fim de semana (www.windy.com).

A previsão do último fim de semana não foi das melhores e confesso que esperava mais da ondulação de sul. Tivemos muito vento local e ondas com altura abaixo do previsto. As ondas só ficaram boas quando a ondulação virou para sudeste e o vento parou.

Já a massa de ar frio foi intensa e fez a temperatura despencar até na Bahia. Uma onda de frio para lembrar que ainda estamos no inverno.

O calor que fez na semana passada acabou drasticamente com a entrada de uma Alta Polar bastante fria. A alta dominou novamente o Atlântico Sul, e a zona de geração ficou bem abaixo das expectativas.

Como ocorreu em várias tempestades do ano, a pista de geração de ondas apontou mais na direção da África que na direção da costa brasileira.

Nesta quinta-feira temos uma previsão semelhante, ciclone passando na região das Ilhas Malvinas com o cavado da onda de Rossby se projetando até as latitudes médias, isto é, até a região do Rio da Prata.

Observando a previsão do GFS nas cartas de pressão ao nível do mar, podemos ver que a onda de Rossby apresenta inclusive uma maior amplitude do que nas tempestades anteriores.

Cartas de pressão atmosférica ao nível do mar (1000 hPa) para terça, quarta, quinta e sexta. Quinta-feira tem uma nova tempestade se formando na região das Ilhas Malvinas. A carta de quinta-feira mostra uma onda Rossby com amplitude um pouco maior e a cava chegando até a região do Rio da Prata. Enquanto o ramo norte da alta pressão vai gerar ondas na direção da costa capixaba e região nordeste. (Fonte: www.wxmaps.org).

Previsão das Ondas

Região Sul: Na terça-feira, o ramo oeste da alta pressão fica alinhado com a costa, produzindo um vento leste e tempo bom na costa gaúcha, enquanto ainda vemos nebulosidade em Santa Catarina e Paraná, o que deve melhorar a partir dessa quarta-feira.

As figuras com a direção da ondulação mostram que quinta-feira, mesmo com o ciclone passando na região das Malvinas, a ondulação de sul vai se chocar com a ondulação de nordeste/leste, indicando que a semana será regida pela Alta Subtropical do Atlântico Sul.

A ondulação de leste vai perdurar até sábado, com alturas variando entre 1-1,5 metro, e 8 segundos de período de pico, de terça até quinta. Na sexta, o período das ondas sobe para 10 segundos, que dá uma impressão de ondulação de leste/nordeste e altura significativa sobre para 1,5 metro.

Os gráficos mostram que duas ondulações, uma de sudeste/leste e outra de leste/nordeste, vão criar condições de ondas boas para os picos e costões que quebram nessa condição.

No Rio Grande do Sul teremos ondas boas na Barrinha de Tramandaí, obviamente no lado sul das Plataformas de Atlântida, Tramandaí e Cidreira, Praia Grande de Torres, Praia da Guarita e inclusive na praia do Cassino, onde a altura deve variar entre 0,5 e 1 metro.

Em Santa Catariana, as praias da Guarda do Embaú, Siriú, Ibiraquera, Ferrugem Norte e Rosa Norte, Mole, Joaquina, Brava, Canto das Aranhas, Ingleses, Lomba do Campeche, Morcego e Atalaia em Itajaí, e a Prainha de São Francisco são os picos mais indicados para essa ondulação.

A Praia do Farol, na Ilha do Mel, no Paraná, sempre apresenta boas condições para ondulações de Leste, mas também em Guaratuba e Itapoá. Nestes locais, o vento deve ser favorável na quinta e na sexta, intensificando somente no sábado.

Os mapas de ondas mostram um domínio da ondulação de leste/sudeste até quinta-feira e uma ondulação de sudeste entra na sexta-feira, principalmente na costa capixaba e litoral norte fluminense. Teremos ondas entre variando ente 1-1,5 metro em quase todo litoral brasileiro com período de 9-10 segundos (www.windy.com).

Região Sudeste: A ondulação de leste traz boas ondas com altura entre 1-1,5 metro, e 10 segundos de período de pico, principalmente a partir de quinta-feira e sexta-feira, quando a altura das ondas pode chegar a 2 metros.

A costa capixaba deve apesentar as melhores ondas, embora o vento seja um fator complicador, e a previsão indica que a ondulação será direcionada principalmente para esta região do litoral brasileiro.

Há também uma segunda ondulação de sudeste que coloca uma pressão nas ondas a partir de sexta-feira, quando a altura deve passar de 1,5 metro em algumas praias do litoral de São Paulo e na região dos lagos no Rio de Janeiro.

As praias que recebem a ondulação de leste/sudeste são as de areias mais grossas, como Félix, Itamambuca, Vermelha do Norte, Guarujá em São Paulo.

No Rio de Janeiro, o litoral norte fluminense e a Região dos Lagos também apresentam praias que oferecem boas condições do quadrante leste. A Praia Brava de Cabo Frio, Peró, Pecado em Macaé, Praia Grande de Arraial e inclusive Saquarema devem apresentar boas condições de ondas, principalmente quinta e sexta-feira.

A previsão indica ainda que esta ondulação de leste/sudeste deve perdurar até domingo.

Região Nordeste: A ondulação de leste/sudeste chega com maior energia na região sul da costa do estado da Bahia. Assim, como o Espírito Santo, a posição da frente fria, favorece a pista de geração de ondas, que aponta para esta porção do litoral brasileiro.

Trata-se de uma ondulação gerada na retaguarda da frente fria, e sobre ação da porção norte da Alta Polar, o que imprime ventos também do quadrante leste/sudeste.

A ondulação também vai atingir o norte da região Nordeste, porém com menor intensidade. A altura significativa das ondas vaia ente 0,5 a 1 metro até sexta-feira, quando devem subir para 1,5 e séries maiores. Isto porque a frente fria deve chegar a Salvador provocando ventos e permitindo a entrada da ondulação.

Na sexta-feira e sábado, a ondulação de sudeste começa a prevalecer e ondas devem passar de 1,5 metro de altura. O período de pico porém, deve ficar entre 9-10 segundos, o que indica uma influência de vagas (ondas geradas localmente), embora acredito que os ventos não serão tão fortes a ponto de estragar a arrebentação das ondas.

No Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará, a ondulação de leste deve entrar com menor tamanho, variando entre 0,5 e 1 metro.

Pode acontecer que ondulação de sudeste se sobressaia sobre as ondas de leste, favorecendo os cantos sul das praias. Isso favorece a região de Itacaré e Ilhéus, onde as praias da região devem apresentar boas condições de surfe

Região Norte: A ondulação de leste se mantém com 0,5 a 1 metro durante esta semana, período curto na faixa de 8-10 segundo, subindo e descendo durante o dia, conforme a direção e intensidade dos ventos na região.

Já as ondas de norte entraram fracas, também tivemos muito vento de leste associados aos alísios, pois a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) agora está na posição normal.

A passagem de sistemas convectivos para geração de furacões começou mais cedo, porém ainda com sistemas menos intensos entre a África e o Brasil. Isso me fez lembrar do furacão Helena na costa de Portugal em 2018, que gerou uma ondulação na direção da costa do Pará.

A lua cheia indica que teremos condições maré para quebrar as pororocas nos rios Capim (PA), Mearim (MA) e Araguari (AP). Apesar de a Pororoca ser geralmente mais forte no equinócio de outono, deve quebrar boa nesta lua de final de inverno.

Pode ser ainda melhor no equinócio da primavera, quando teremos uma super lua cheia coincidindo com a virada das estações.

Boas ondas!

Heitor Tozzi
Oceanógrafo e Mestre em Estudos Costeiros, trabalha com morfodinâmica de praias e impacto de tempestades na costa desde 1991, quando fez parte do 1º grupo de Sentinelas do Mar (Watching Waves in Brazil). Como pesquisador já embarcou em navios de Norte a Sul do Brasil, Golfo do México, Angola e Indonésia. Velejador e surfista nas horas vagas, atualmente é pesquisador do doutorado em Meteorologia no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), onde estuda os processos de Interação Oceano-Atmosfera para geração dos Ciclones.