Espêice Fia

Manhã no Cardoso

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Depois da session na Laje da Jaguaruna relatada em coluna anterior, correspondente ao primeiro dia deste outono, o dia seguite foi na praia do Cardoso. Em mais uma oportunidade de testarmos nossas “gunzeiras”, após o café na base da Atowinj, em Jaguaruna, nos dirigimos até a Pousada Baiuka, cuja vista panorâmica do pico faz um mix de contemplação e fissura, pois o “cabra” não sabe se fica admirando a paisagem ou se faz carreira pra água.

Arrumamos o equipamento e alguns minutos depois já nos encontrávamos passando pelas embarcações na areia para posteriormente remar no canal aberto em direção ao pico. O swell havia baixado um pouco, mas algumas paredes demoradas davam o ar da graça a cada meia hora, às vezes mais.

Thiago Jacaré entrou com seu barco 10’3” e boiou pelo menos uns 40 minutos. A real é que algumas séries vinham no meio do mar e outras passavam e só quebravam no inside. Felipe “Marreco” Peixoto, um simpático local do pico, descia umas ladeiras em seu barco doado por Lucas Chumbinho depois do evento de ondas grandes nesse pico, realizado em 2015. Se não me engano, tratava-se de uma 9’6. O cara se posicionava bem ao fundo quando uma série com cerca de 8 a 10 pés de face alinha no horizonte.

Marreco vira sua gun amarelona e o vejo seguindo drop abaixo quando acelero pra não tomar a de trás. Consigo pegar a segunda onda e, mesmo que um pouco branca de início, devido à onda anterior, uma parede se armou em minha frente e fui no “cruising” por pelo menos um minuto baía adentro. Incrível, que passeio! Ao finalizar, quase no fim da praia, vejo Marreco dando início à longa caminhada de volta até a entrada do pico.

Nesse meio período foram bons papos e um esforço físico demasiado para carregarmos nossos barcos com cerca de 10 ou 12 quilos. Marreco conta histórias de ondas grandes surfadas com pranchas bem menores do que a que se encontrava naquele momento, quando comentava também que depois de surfar com uma “gunzeira” não queria outra coisa.

De fato esse segmento foi implantado fortemente pela turma da Atowinj naquela área, e depois do “Mormaii Surf de Ondas Grandes na Remada”, a procura por gunzeiras acima dos 9 pés tem sido uma constante, relatou também Thiago Jacaré, entre uma série e outra.

Mal chegamos ao outside e João Baiuka, local do pico e também com uma gunzeirona com mais de 10 pés bota pra baixo em uma direita emparedada, proporcionando um belo momento. Logo na sequência foi a vez de Jacaré finalmente pegar a sua.

Em determinados swells no Cardoso, mesmo com gunzeiras, fica difícil acertar o momento certo para o solavanco da remada, quiçá com pranchas menores. E neste dia, como em muitos outros, uma galera fazia a mala na sessão mais ao inside. Com pranchas na casa de 6’4 a 6’6’, muitas ondas eram surfadas. Uma galera também ficava no outside com gunzeiras menores, era o caso de Luciano Burin, com sua 8’7 vermelhona, e Marcos Peruchi, com uma 7 pés dotada de bom volume.

Em uma outra série, compartilhei uma onda maravilhosa com João Baiuka. João surfou a onda em minha frente e, devido ao campo aberto, tinha espaço até para mais um. Fomos curtindo o drive até o meio da baía, quando João deixou a parede. Aproveitei o embalo, passei a sessão previamente espumada e completei mais outro minuto de onda até o inside. Que alegria!

Jacaré, por sua vez, começa a pegar uma onda atrás da outra e aquilo era um sinal de que na troca da maré as coisas só estavam melhorando. Algumas ondas boas foram surfadas também por Marcelo “Gauchinho” Henrique e alguns outros presentes que não sei o nome.

Renato Tinoco entra na água pra fazer captações de imagens com sua câmera super slow e grava belos momentos, tal como uma boa virada minha e uma bela onda de outro surfista local, Daniel Bridi.

Os fotógrafos James Thisted e Rafa Shot captavam a ação de ângulos diferenciados da beira da praia. No entanto, em alguns momentos, determinados pontos pareciam achatar o tamanho das ondas, como constatamos posteriormente.

Sem dúvida aquela manhã havia sido muito proveitosa. Poucas cabeças na água e atmosfera de Hawaii devido ao clima das gunzeiras. Séries vinham bem constantes, o suficiente para nos deixar bem cansados, até porque ainda estávamos com um resquício das 6 horas de surfe do dia anterior na laje da “Jagua”.

Saímos cerca de 13:30 do mar. Ainda ensaiamos uma possível caída no fim de tarde, mas depois de uma carninha assada no mirante da Pousada Baiuka ficou difícil, até porque também tínhamos que guardar energia pra pegar a estrada de volta para Floripa. Que início de outono! Obrigado, Netuno!

Fábio Gouveia
Campeão brasileiro e mundial de surfe amador, duas vezes campeão brasileiro de surfe profissional e campeão do WQS em 1998. É reconhecido como um ícone do esporte no Brasil e no Mundo. Também trabalha como shaper.