Há algum tempo, eram todos crianças. Sorriam a todo momento. Talvez porque os problemas eram mais simples e porque brincar era a principal ocupação. Pequenos erros ou distúrbios de atitude, mesmo os mais simples, eram motivo de muitas brincadeiras por parte dos demais. Uma gozação amigável.
Existia um brilhos nos olhos que os adultos não têm. Uma euforia específica. Um estado de espírito que beira o êxtase, na sua forma mais pura e simples.
Com o passar dos anos a infância se torna tão presente quanto a memória de cada um. São em geral lembranças melancólicas de um tempo melhor. A alegria não deixou de existir, mas não é a mesma.
As histórias que escutavam normalmente começavam com “era uma vez…” e o final era sempre feliz.
A história que segue é um conto especial e fala sobre homens que voltaram a ser crianças.
Era uma vez um homem do mar e assim era também o seu nome: Marco Aurélio Raymundo. As inicias de seu nome também formavam a palavra mar. Se não tivesse nascido homem, teria nascido peixe. Ele é conhecido como Morongo.
Talvez o maior benefício que os anos trazem seja a sabedoria. E foi com sabedoria que Morongo convidou alguns dos mais antigos amigos e parceiros de sua empresa, a Mormaii, para uma viagem no tempo.
Embarcaram nove pessoas no iate Sibon Explorer em Padang, Indonésia. Era um dia tão quente quanto qualquer outro na região e o suor escorria quase que homogeneamente das testas de Eduardo Nedeff, Tales Andrade, Kiko Dragão, Marcelo Cavalcante, Armando Diniz, Flavius Raymundo, Everaldo Pato, Diogo Guerreiro e, obviamente, o Morongo.
A ansiedade por uma jornada de surf nas ilhas Mentawai criava por si só uma atmosfera descontraída, mas foi no amanhecer ao Sul da ilha de Sipora que a metamorfose de fato começou a ocorrer. Os sorrisos foram se alargando e do primeiro joelhinho emergiram garotos.
Ali o mundo como todos se acostumaram era incapaz de descobri-los. Não havia comunicação com o exterior. Era apenas aquilo ali. Um ambiente de resgate da felicidade primitiva que está associada a natureza humana quando em contato genuíno com o meio.
De dia, a confraternização na água. O surf com seu lado mais soul, talvez também na sua forma mais criança. O compartilhamento dos momentos “nirvanescos” depois de cada onda surfada. Ondas de energia geradas por tempestades a milhares de quilômetros que se debruçavam sobre a bancada quase tão instável quanto as próprias ondas, porque a cada grande terremoto na região, elas mudam.
De noite o deleite de mais um dia vivido como garoto. Dos problemas parecerem remotos. De implicar com o amigo que trouxe uma nécessaire toda arrumadinha. De rir mais do que a piada merece e de apreciar a mágica que um indonésio de nome Yanto fazia a cada refeição. Um banquete inesquecível a cada dia. E como uma boa mãe faria, o Sibon balançava ao sabor das ondas colocando todos para dormir.
Por 16 dias os homens crianças usufruíram o benefício de resgatar a ingenuidade de ver o mundo de forma tão simples, de poder apenas brincar, comer e dormir e mais do que tudo, de ser puramente feliz.