Enquanto em muitos lugares a pandemia ainda assusta com medidas restritivas, na Indonésia, nas Ilhas Mentawai as ondas não param. Alguns poucos sortudos surfistas aproveitaram condições incríveis nos últimos dias 14 e 15 de julho, sem proibição de surfar e em um clima descontraído.
No dia 14, recebemos a notícia do cancelamento do Mentawai Fast até esta terça-feira (20). É o principal meio de transporte na região. Fomos pegos de surpresa com o decreto do governo sem prévio aviso.
Já acompanhávamos a situação em Bali e no resto da Indonésia, onde a variante Delta, vinda da Índia, fez com que os números de contaminação e internações disparassem. Resultado: lockdown completo em várias cidades e até a proibição do surfe em Bali, junto com uma série de medidas muito duras como restrição de locomoção, blitz nas ruas e fechamento de tudo que não seja essencial.
O governo emitiu nota exigindo certificado das duas doses da vacina e teste para o coronavírus, para quem quiser embarcar em qualquer meio de locomoção entre cidades. Seja pelo ar, mar ou terra. O motivo foi o aumento vertiginoso dos números de contaminados e internações, e da falta de recursos para tratar tanta gente.
Depois de uma suposta notícia de reabertura de Bali em julho, o que aconteceu foi o contrário. Para entrada no país agora é necessário, além da vacina e do teste, uma quarentena obrigatória em Jakarta, que passou de 5 para 8 dias.
Com isso, o número de surfistas baixou ainda mais nas Ilhas Mentawai. Mas as ondas…
Um poderoso swell de Sul com ângulo variando de 198 a 203 graus explodiu nas bancadas da região. Todos aqui esperavam surfar Rifles com a previsão do vento Oeste, mas na manhã do dia 14 o vento Leste / Sudeste entrou contrariando os sites de previsões, o que fez com que todos aqui corrêssemos para o pico de Kandui.
Estou aqui com o João Mauricio Jabour e Shawn Mc Caul do Havaí, e o que encontramos foram condições difíceis em um mar com séries de até 8 pés havaianos, com uma direção que fazia a onda fechar muitas vezes na sessão do inside.
Mesmo assim nós nos juntamos ao hóspedes e surf guides dos outros resorts que também estavam desafiando as difíceis condições. Rolaram tubos pesados e desafiadores. Dennis Guttman, Nate Behl, Raphael Castro e outros bons surfistas se jogaram nas morras.
No dia seguinte voltamos a Kandui, estava um pouco menor mas muito perfeito e amigável. Aproveitamos para relaxar e curtir tubos longos em um dia perfeito, com o sol brilhando e uma leve brisa de terral.
Dias para ficar na memória de quem teve a sorte ou a vontade de estar aqui, desafiando as restrições, quarentena e lockdown. Muitas vezes penso sobre toda essa situação que vivemos hoje. Uma simples surf trip que era facilmente planejada no passado tornou-se uma aventura de risco. Mas a recompensa para aqueles que decidem vir para cá tem sido surfar ondas incríveis com apenas outros pouco surfistas. E a natureza não quer saber de lockdown.
As previsões apontam mais duas boas ondulações ate o fim do mês. No dia 25 está sendo esperado o que pode ser o maior swell do ano até aqui, fazendo jus a alta temporada no Oceano Índico. E provavelmente com pouca gente novamente.
Que as medidas restritivas e a vacinação deem certo e que logo todos que amam ondas perfeitas possam voltar a programar sua vinda para o que e chamado de paraíso dos surfistas na Terra.
