O big wave tem um dilema crônico em sua prática: a medição exata do tamanho da onda surfada. E o jornal O Globo publicou na última segunda-feira (23) uma reportagem que relata que há uma solução diretamente de Nazaré, Portugal, um dos berços mais famosos desse tipo de ondulações.
Segundo O Globo, a precariedade na medição das ondas colabora para uma adversidade em campeonatos para conclusão de notas e no registro das marcas históricas. Por isso, o oceanógrafo do CoLAB +ATLANTIC Luis Pedro Almeida criou a ferramenta Big Wave Tracker, que funciona como uma espécie de VAR (Video Assistant Referee) — tecnologia que auxilia os árbitros de futebol a tomarem decisões mais precisas em lances decisivos.
A ideia – Na matéria, O Globo exibe como que surgiu a ideia de Luis, que apareceu a partir de uma conversa com um colega sobre possibilidades de medição com stereo-vídeo (uso de duas câmeras para captar imagens de ângulos diferentes e calcular a profundidade) e o LiDAR (ferramente que emite pulsos de laser para medir distâncias precisas, mapeando o ambiente em 3D), tecnologias comprovadas cientificamente.
“Surgiam controvérsias sobre como as alturas das ondas eram medidas pela WSL. No final de 2020, a própria WSL produziu um relatório científico para decidir entre os surfistas Maya Gabeira e Justin Dupont quem havia surfado a maior onda do ano na Nazaré. O relatório, elaborado por cientistas e especialistas em medições de ondas, destacou a dificuldade de determinar qual onda era maior utilizando apenas fotografias e filmagens, pois essa abordagem tornava subjetiva a identificação da base e da crista da onda” Contou Almeida ao Globo.
Ainda de acordo com O Globo, foi apresentado um projeto a António José Correia (Tozé), da Fórum Oceano e ex-prefeito de Peniche, conhecido entre os surfistas como “the coolest mayor on tour”; Walter Chicharro, então prefeito de Nazaré; e Francisco Spínola, da WSL Europa. No entanto, a execução não seria tão simples de ser feita, principalmente por não haver nenhum investidor.
“Os primeiros passos do projeto foram dados em 2021, sem financiamento, e o esforço e a persistência das pessoas envolvidas foram fundamentais. Eu e meu aluno de doutorado, Matheus Vieira, começamos a realizar medições em Nazaré com um par de câmeras GoPro. Embora os resultados iniciais tenham sido promissores, logo percebemos que, para medir ondas gigantes, seria necessário um equipamento capaz de captar ondas a distâncias maiores”, fala ao Globo.
O Globo trouxe também que, além da primeira barreira, o objetivo principal, que era a medição, seria o principal desafio a ser enfrentado. Alturas superior a 15 metros eram vistas como um “dilema universal para a oceanografia e a engenharia”, já que equipamentos tradicionais, como boias ou outros tipos de sensores não operam de forma adequada em condições de alta turbulência.
“As medições começaram a ser realizadas por meio de fotografias e filmagens feitas por fotógrafos profissionais, utilizando uma abordagem geométrica simples: a dimensão do surfista ou do jet ski na imagem é usada como escala. A partir daí, é possível definir visualmente o ponto da base e da crista da onda, assim, a altura é determinada somando o valor da escala entre a base e a crista da onda”, fala um trecho da matéria.
Como funciona? – Com isso, surge a ideia de medir a superfície do oceano em 3D ao longo do tempo. Esse método permite mensurar ondas extremas sem a necessidade de estar fisicamente no local, a uma certa distância, e determina de forma objetiva a altura das ondas, onde a base e a crista correspondem aos valores mínimos e máximos extraídos diretamente dos dados.
Em 2022, o projeto passa a ser financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT). A partir da verba disponibilizada, o primeiro protótipo do Big Wave Tracker foi criado. No entanto, o ano de 2024 traça um momento delicado para os idealizadores, pois o investimento não deve ser renovado. Luis Pedro Almeida acredita que, por já comprovar a funcionalidade científica, o momento é de buscar ajuda de capital privado e indústrias.
“Na prática, ele também está abrindo novos horizontes científicos, tanto no desenvolvimento tecnológico quanto no estudo dos processos que dão origem a essas ondas”, diz Luis. “O projeto utiliza tecnologia de estereoscopia por vídeo que consiste na utilização de um par de câmeras alinhadas que medem a mesma superfície do oceano a partir de ângulos diferentes” descre ao GLOBO.
No texto do O Globo fala também que, com o avanço do instrumento, o surfe seria impacto em diversas formas. Atualmente, o aparelho ainda é pouco utilizado, tendo apenas uma amostra instalada no Forte de São Miguel Arcanjo, em Nazaré, Portugal. E, caso introduzido, pode auxiliar a diminuir decisões erradas na prática da modalidade.
“Aqueles que desafiam as ondas gigantes da Nazaré colocam suas vidas em risco constantemente, onde uma única decisão errada pode levar a consequências fatais. Esses atletas são altamente preparados, assim como suas equipes. As possibilidades são inúmeras, mas é crucial que esse processo de integração tecnológica seja feito de forma cuidadosa e colaborativa, incluindo a opinião e as críticas dos surfistas e de todos os envolvidos no esporte”, completa Almeida ao Globo.
O big rider Carlos Burle salienta que a criação do aparelho pode ajudar a transformar o esporte. “Acho muito legal, porque a ferramenta parece ser bem específica para surfistas de onda grande. Todo dia eu faço essa leitura usando essas ferramentas, é uma decisão muito prazerosa do meu dia”, diz ao Globo.
O surfista Lucas Fink também pensa na mudança da modalidade e como a ferramenta pode ser útil no cotidiano. “Acho que vem para somar. Vai ajudar em todos os esportes, mas no surfe de ondas grandes principalmente. Vamos conseguir aproveitar melhor essas missões. Além de ter mais precisão nos dados, impactar mais com essas informações, e é algo muito carente na categoria”, fala ao Globo.
Fonte O Globo