O tubarão-da-Groelândia (Somniosus microcephalus) é o animal mais velho a habitar a Terra, segundo um novo estudo publicado na revista Science. Com aproximadamente 390 anos, o animal que vive nas águas profundas do Ártico teve a camada externa dos olhos analisada para a datação da idade.
O líder do estudo, Julius Nielsen, biólogo na Universidade de Copenhague, concluiu que exemplares da espécie vivem entre 272 e 512 anos de idade — o mais provável é uma expectativa média de vida de 390 anos.
“Tínhamos a expectativa de que seriam animais de grande longevidade, mas fiquei surpreendido por se revelarem tão velhos”, explica o biólogo.
Para chegar no número, Nielsen fez um experimento com 28 tubarões fêmea, que haviam sido mortos acidentalmente durante o programa comercial de monitorização de peixes, do Instituto de Recursos Naturais da Groelândia.
Em outros peixes ósseos seria necessário apenas analisar os otólitos, localizadas no labirinto do ouvido interno dos peixes, que são como “pedras no ouvido”. Esses cristais formados por carbonato de cálcio não estão presentes nos tubarões, que possuem cartilagem no lugar do composto.
Junto com sua equipe, o biólogo analisou o radiocarbono da estrutura ocular do animal que possui uma lente que cresce durante toda a vida. Com o envelhecimento da criatura, uma nova camada de lente compõe o olho do tubarão.
Não é possível contar as lentes, assim como acontece com os anéis nos troncos das árvores, mas os especialistas conseguiram retirar todas as lentes para chegar no núcleo embrionário, ou seja, no centro da lente, que já existe desde que o tubarão é jovem.
A partir da análise da composição química desse tecido, o biólogo conseguiu estimar a idade do animal. O estudo, publicado em 11 de agosto, mostrou que a análise feita nos 28 tubarões concluiu que todos possuem pelo menos 272 anos.
“O segredo do sucesso deste estudo consistiu no fato de termos tido animais jovens e velhos, animais de tamanho médio e grande, e a possibilidade de compará-los a todos”, aponta Nielsen.
Outras pesquisas sobre a espécie mostram que eles são animais que crescem de forma bastante devagar, cerca de um centímetro por ano.
Águas profundas
O tubarão-da-groelândia vive em um habitat bastante remoto em águas profundas e, por causa dos ambientes muito frias, acredita-se que a temperatura corporal também seja reduzida. Essa combinação deixa o metabolismo lento, o que gera menos danos para os tecidos dos animais.
O resultado do estudo promove um novo cuidado com a espécie — o biólogo explica que se uma espécie é rara e de uma vida tão longa, qualquer morte é bastante significativa.
Apesar de estar no fundo do mar, o tubarão-da-Groenlândia não foge dos pescadores que podem capturá-los por acidente, a chamada captura acessória. O habitat dessa espécie também pode ser afetado pelas intensas mudanças climáticas e atividades humanas, como pesca e extração de petróleo nos países no Ártico.
Além disso, foi compreendido que as fêmeas da espécie atingem a maturidade sexual apenas com 156 anos, o que torna a população desse tubarão ainda mais vulnerável pela demora da reprodução.
“A longevidade é notável, mas espero que o público reconheça a importância deste fato quando se trata da gestão e conservação dos ecossistemas. Se os tubarões-da-Gronelândia vivem tanto tempo e não se reproduzem até aos 150 anos, a sua população é vulnerável à exploração”, diz Aaron Fisk, ecologista na Universidade de Windsor, que não teve envolvimento no estudo e foi entrevistado pela National Geographic.
Fonte R7